- 06 de novembro de 2024
O último Censo realizado pelo IBGE no País mostrou que o catolicismo apostólico romano no Brasil ainda predomina. São 73,8%. Mas a hegemonia já não é tão sólida assim. A igreja de Roma viu, com bastante preocupação, minguar seus fiéis em exatos 10% durante o espaço de tempo entre um e outro Censo: em 1991 eram 83,8%. Os evangélicos foram os que mais cresceram nesse período. De 9% em 1991, emplacaram 15,4% na última contagem geral.
Esse considerável quinhão não poderia passar despercebido quando se trata de política partidária. Afinal, são quase 30 milhões de pessoas, entre as quais, nada menos que 20 milhões de votos disponíveis para eleger vereadores, deputados, governadores, senadores...
Esses grotões são assediados como a galinha dos ovos de ouro. Mas as últimas eleições mostraram que o buraco é mais embaixo. Em Boa Vista, por exemplo, nenhum vereador se elegeu no ano passado com os chamados votos evangélicos, que em Roraima somam a sugestiva parcela de 23,6% da população, algo em torno de 85 mil habitantes, nada menos que 65 mil votos.
Alguns bem-votados na Câmara Municipal nas eleições de 2000, como o Pastor Arthur (Igreja Universal) e Pastor Antônio (Igreja Quadrangular), não tiveram seus nomes referendados, assim como outros que ingressavam como marinheiros de primeira viagem na acirrada corrida por um mandato. Há quem diga que esse fenômeno ocorreu pela pulverização exacerbada de candidatos dentro das igrejas. Pode ser.
Mas, a verdade inquestionável é que há uma grande mistura de interesses. O lado espiritual cede, pouco a pouco, lugar à sede de poder pelo poder. Aos poucos, essa tendência vai ficando clara na cabeça do eleitor evangélico que, apesar de alguns pensarem, de bobo não tem nada. A história de que "Deus mandou que eu falasse para vocês que o nosso candidato é Fulano", já não funciona tão bem quanto antes.
O tempo parece mostrar que juntar Bíblia com santinho pessoal não é uma boa política. Já não basta mais tentar enrolar os fiéis com versículos bíblicos fora do contexto, do tipo "quando o justo governa o povo se alegra".
Todos sabem que política não se faz sozinho. O "justo" não terá voz ativa isoladamente. Não bastam as boas intenções. O bom político deve demonstrar alta capacidade de negociação, ser líder nato, influenciar pessoas, e principalmente, abrir mão de certas convicções no momento da barganha.
Ou entra no jogo - quase sempre sujo, onde os interesses pessoais afloram arraigadamente - ou fica como peixe fora d'água. Parlamento não é igreja.