- 06 de novembro de 2024
Alan Gripp
BRASÍLIA. Permanece um mistério a operação de pagamento do suposto empréstimo de R$ 29.400 feito pelo PT ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em depoimento ontem na CPI dos Bingos, o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, que assumiu a dívida após o caso vir à tona, não convenceu os senadores ao dizer que saldou o débito sozinho e com recursos próprios. A oposição levantou a suspeita de que a dívida teria sido quitada com o dinheiro do caixa dois que alimentou o valerioduto.
Okamotto disse que a dívida foi lançada na contabilidade do PT como empréstimo por um erro contábil. Segundo ele, tratava-se de adiantamentos feitos pelo partido a Lula desde 1997, a maioria para cobrir despesas com passagens e diárias de viagens ao exterior, quando Lula era pré-candidato à Presidência. O presidente do Sebrae afirmou que, após a eleição de Lula, a dívida passou a ser cobrada pelo então tesoureiro Delúbio Soares. E que ele a assumiu porque foi designado, a pedido de Lula, para ser o procurador do processo de rescisão do contrato do presidente com o PT.
Okamotto disse que nunca revelou ter pagado a dívida a Lula para não constrangê-lo. Mas reconheceu que pelo menos uma parcela foi paga por um contínuo do PT com uma cópia da identidade do presidente, apresentada na boca do caixa de um banco. A revelação foi considerada grave pelos senadores.
- Esta revelação desmonta a tese de que o presidente não sabia e mostra mais uma mentira do Palácio (Lula nunca reconheceu a dívida) - disse o líder do PFL, José Agripino Maia (RN).
A oposição também disse não compreender por que a dívida foi quitada em dinheiro. A explicação de Okamotto não convenceu: ele disse que queria deixar registrado que os depósitos tinham sido feitos por Lula e que foi orientado a fazer isso por Delúbio. No fim do depoimento, acabou revelando que sacou parte do dinheiro em Brasília e o levou para São Paulo. E não explicou porque as datas dos saques não coincidem com os depósitos para saldar a dívida.
- A mim ele não convenceu - disse o presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB).
Okamotto detalhou a dívida em nome de Lula. Segundo ele, R$ 5 mil foram adiantados em 1997, mas como não há um documento registrando a operação, não é possível dizer a que se refere. Outros R$ 13,6 mil foram usados, segundo Okamotto, para pagar a passagem de ida e volta para a China da primeira dama, dona Marisa, em junho de 2001. O presidente do Sebrae disse ainda que R$ 9,3 mil foram usados para pagar despesas de outras viagens. Além disso, foram pagos R$ 1,4 mil de assistência médica e R$ 1,4 mil de referentes ao pagamento de mensalidades do partido.
- Jamais comentei com o presidente porque considero os lançamentos equivocados e a cobrança indevida. Os gastos foram feitos como dirigente do PT - disse Okamotto.