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Móveis de luxo nas casas de senadores

Apartamentos funcionais receberão mobília nova, como mesas, cadeiras, sofás e camas, num total de 213 peças. Entrega das propostas da licitação está prevista para hoje e o edital não estipula valor. Os senadores Mozarildo Cavalcanti e Romero Jucá moram em residências próprias.



Fernanda Odilla
Da equipe do Correio

Senador não tem direito a escolher os móveis da própria casa, quando opta em morar nos apartamentos funcionais da Asa Sul. Mas as exigências do Senado são suficientes para deixar qualquer vendedor de cabelo em pé. O parlamentar senta apenas em cadeiras com uma ligeira inclinação de três a cinco graus no assento de tecido emborrachado de primeira qualidade, sustentadas com pés ao estilo Luiz XV feitos em madeira, obrigatoriamente sem cheiro considerado ruim. Dorme em cama de madeira maciça de cor castanho médio, com até 15% de umidade, recoberta por uma camada de poliéster e outra de verniz fosco. Já o colchão precisa ser ortopédico e revestido em tecido de algodão com viscose, bordado em matelassê. Os senadores Mozarildo Cavalcanti e Romero Jucá moram em residências próprias. 

Todas essas exigências devem ser cumpridas pelas empresas que entregarem, hoje, as propostas de preços para o pregão 187/2005. O Senado publicou edital rico em detalhes e especificações para a compra de mobiliário destinado às residências oficiais dos senadores. Ao todo, são 213 peças entre cadeiras, camas, mesas e sofás que devem seguir à risca o Manual de Mobiliário do Senado Federal.

Editado em dois volumes, o manual define tamanho, material e estilo de todos os móveis usados pelos senadores em casa e no trabalho. O diretor-geral do Senado, Agaciel da Silva Maia, explica que o plano de padronização facilita e agiliza os processos de compra e reposição de móveis. "É preciso especificar com rigor para manter o padrão e a qualidade", explica. "Os móveis não são suntuosos, mas precisam durar", avalia.

A compra de móveis novos pegou de surpresa os senadores. Jefferson Perez (PDT-AM) conta que chegou ao Senado há 10 anos e se deparou com cadeiras quebradas, sofá furado e mesas mancas dentro de casa. Sem hesitar, diz ter comprado por conta própria móveis novos. "De modo contrário, não tinha jeito de habitar", atesta.

Serys Slhessarenko (PT-MT) diz não precisar de nada novo em casa. "A mobília não é nova, mas para mim está muito boa", assegura a senadora, que dribla o "padrão Senado" com quadros e tapetes cuidadosamente escolhidos. Eduardo Azeredo (PSDB-MG) também dispensa cadeiras, mesas, aparadores e sofás ao estilo Luiz XV, sem cheiro ruim, que acabaram de sair da fábrica. "Os móveis são tão funcionais quanto o apartamento", avalia Azeredo.

A reposição, explica Agaciel Maia, não será total. Apenas os móveis mais velhos, alguns de 1971, serão substituídos. "Não vamos trocar tudo, apenas as peças mais deterioradas", observa Agaciel. A empresa que cobrar o menor preço pelos novos móveis terá 45 dias para fazer a entrega. Antes, porém, precisa apresentar amostra do padrão de tingimento e acabamento.


R$ 66 mil em iluminação

Em agosto do ano passado, a reforma não foi decorativa, mas paisagística. Começou por carta-convite para um "projeto iluminotécnico", com custo estimado em R$ 66 mil para jogar luzes sobre os lírios e azaléias dos jardins da residência oficial do presidente do Senado, localizada na QL 12, conjunto 11, casa 1, às margens do Paranoá, no Lago Sul. O projeto previa a instalação de 143 luminárias, cotadas a R$ 289 cada. Se acesas ao mesmo tempo, consumiriam 18 mil watts, o suficiente para iluminar um modesto supermercado.

Nem todos os presidentes do Senado quiseram morar ali, no iluminado casarão de 960 metros quadrados de área construída, avaliada em cerca de R$ 3 milhões. Quando ocupou o cargo, Jader Barbalho (PMDB-PA) preferiu ficar em sua própria casa, na região de mansões. José Sarney (PMDB-MA) optou por morar em outro endereço, vizinho à casa oficial. Já Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) ficou hospedado na casa do Senado até renunciar ao mandato.(FO)


Itamar ainda "mora" na 309 Sul

Seria preciso um museu para guardar todas as relíquias se os móveis das residências oficiais dos senadores forem tão antigos quanto a lista de 11 moradores de uma das entradas do Bloco C da SQS 309 exibida no interfone. Um desavisado que decidir bater na porta da casa dos senadores pode fazer uma verdadeira viagem ao passado ou mesmo cometer equívocos terríveis. Pode, por exemplo, tentar falar com o ex-presidente Itamar Franco, que ocupou a cadeira do Senado entre 1983 e 1991, mas continua com o nome estampado como morador do apartamento 204. Se apertar o interfone ou subir até o segundo andar, vai conseguir apenas incomodar o senador Jefferson Perez (PDT-AM), desde 1995 vivendo no local.

Acima e abaixo de Itamar Franco, estão nomes de verdadeiros dinossauros da política. No terceiro andar, figuram como moradores Passos Porto (SE), senador entre 79 e 87, e Irapuã Costa Júnior (GO), que ocupou uma cadeira no Senado até 1995. No primeiro piso, Jamil Haddad (RJ), com mandato de 1983 a 1991. Há pelo menos 10 anos os 11 homens da lista desocuparam seus gabinetes no Congresso.

Além do apartamento mobiliado e da vaga na garagem, os senadores não pagam água nem luz, têm direito a uma cota mensal de R$ 500 de telefone, carro e motorista. Quem dispensa o benefício, ganha R$ 3,5 mil como auxílio moradia. "Não é mordomia. Têm direito a praticamente os mesmos benefícios que qualquer ministro, diplomata ou diretor de multinacional", observa Agaciel da Silva Maia. Ele disse desconhecer a lista desatualizada de moradores na portaria do Bloco C. (FO)

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