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FEBEAPÁ II

Quando me contaram eu não acreditei. Resolvi dar uma de São Tomé e vi a realidade dos fatos. Na Venezuela, no trecho que vai da fronteira para Santa Elena de Uairém, tem uma pedra condenada à prisão perpétua. Motivo: provocou a morte de um motorista.


Quando me contaram eu não acreditei. Resolvi dar uma de São Tomé e vi a realidade dos fatos. Na Venezuela, no trecho que vai da fronteira para Santa Elena de Uairém, tem uma pedra condenada à prisão perpétua. Esta pedra se encontra acorrentada e a corrente lacrada por um cadeado blindado. Motivo: provocou a morte de um motorista que, em acidente automobilístico, foi cuspido do veículo, bateu-lhe com o cocoruto e morreu. Faz algum tempo que não cruzo a fronteira e, ao procurar notícias da condenada, ouvi dizer que ela foi resgatada pelo teto de sua cela e encontra-se em local incerto e não sabido. Regate à Escadinha?

No século passado, no interior do Amazonas, um delegado lavrou auto de prisão em flagrante por crime de homicídio contra uma vaca. A desditosa deu uma chifrada num bêbado que atravessava o pasto; com o impacto da queda, o bebum quebrou o pescoço e a autoridade policial não vacilou: indiciou a Mimosa. Não sei se a zeburana foi a julgamento ou não.

Em pleno século XXI, há poucos dias, em minha cidade - lugar que eu tanto amo e que, vez por outra me faz passar vergonha - um jornal de grande circulação noticiou fato interessantíssimo (digno de figurar no FEBEAPÁ - Festival de Besteira que Assola o País - de Stanislaw Ponte Preta): um policial civil matou um cidadão por conta de uma suposta briga entre eles. O delegado de plantão, numa demonstração de corporativismo livrou a cara do seu comandado e indiciou o cadáver por resistência à prisão.  Mais: na fogueira de vaidades esse delegado irritou-se com o Secretário de Segurança e tentou coagi-lo, com arma em punho, a deixar o processo como está. O delegado foi exonerado, o morto foi enterrado e não sei a quantas anda o processo.

Adilson, um juiz amigo meu, imaginou a situação. O delegado chega com o escrivão, dá uma carteirada e informa que quer interrogar o indiciado. Abrem-lhe a gaveta da geladeira que, diga-se de passagem, nada conserva e começa o interrogatório:
Delegado: Seu nome?
Indiciado: ...
Delegado (nervoso): Seu nome, rapá?
Indiciado: ...
Escrivão (querendo mostrar serviço pro seu superior): Fala, rapaz...! Fala...! É pro
teu próprio bem!
Indiciado: ...
Delegado (sentindo-se desrespeitado e com a fineza que lhe é peculiar): Tu num vai
falar não, porra?
Indiciado: ...
Escrivão (com toda a cobertura do delegado): Tu tá bancando o espertinho, é? - e
virando-se para o brutamontes que está parado à porta - Nego Jorge, dá um jeito
nesse caboco pra ele deixar de ser gaiato e abrir a matraca.

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