Igualdade racial - Movimento negro pede tolerância
Igualdade racial - Movimento negro pede tolerância
Ativistas fazem manifestação cultural hoje para cobrar do governo a efetivação das políticas afirmativas. No Congresso, haverá sessão sobre a violência sofrida pelos adeptos dos cultos afro-brasileiros.
Mães-de-santo fazem ritual no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em Salvador: praticantes do candomblé sofrem discriminação de igrejas
No Dia Internacional da Tolerância, comemorado hoje, movimentos negros reunidos em Brasília promovem a marcha Marcha Zumbi + 10 contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida. Eles vão pedir ao governo políticas efetivas de igualdade racial. Espaço no mercado de trabalho, combate à violência racista e atenção ao direito de escolha de crença estão entre os principais pontos da reivindicação. A concentração está marcada para às 9h, em frente à Catedral de Brasília, com programação prevista até as 22h.
São esperados para a marcha pelo menos seis ônibus vindos da Bahia com mulheres, universitários, quilombolas, ativistas culturais, comunitários e intelectuais negros. De acordo com os organizadores, o cortejo será liderado por pais e mães-de-santo, juntamente com representantes da igreja católica em apologia à tolerância religiosa e à liberdade de credo. Após a passeata, o líder Zumbi dos Palmares, cujo assassinato completa 310 anos no dia 20, será lembrado na Esplanada dos Ministérios.
"Os rituais de origem africana são o setor da população negra que mais tem sofrido agressões", afirma o deputado Luiz Alberto (PT-BA), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial. Ainda pela manhã, a Câmara dos Deputados fará homenagem às religiões de matriz africana.
Segundo Alberto, em Salvador (BA) é comum integrantes de religiões neopentencostais agredirem verbal e fisicamente freqüentadores de terreiros. "Esses grupos religiosos têm utilizado os canais de televisão para promover insultos", diz. O parlamentar aponta como uma das soluções para a intolerância, a aprovação do Estatuto de Igualdade Racial, que está à espera de votação no plenário da Câmara. "Amanhã será discutida com o Aldo Rebelo, a possibilidade de votação imediata", adianta.
A violência é outra questão que preocupa os ativistas da causa negra. De acordo com o Luiz Alberto, no primeiro semestre deste ano, 651 jovens negros foram assassinados em Salvador. O número chamou a atenção do representante da Organização das Nações Unidas (ONU) em visita à capital baiana no mês passado. O senegalês Doudou Diène, relator da ONU sobre Formas Contemporâneas de Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância, conversou com representantes de movimentos negros sobre o assunto. Documento do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU divulgado no início do mês recomenda ao Brasil, entre outros pontos, o fortalecimento da Subsecretaria de Direitos Humanos, com adequação de recursos para que o órgão funcione efetivamente no combate à discriminação racial.
Os representantes de movimentos negros também têm audiência marcada com o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Vantuil Abdala. "Vamos tratar da discriminação racial no mercado de trabalho", afirma o coordenador -executivo da marcha, Edson Cardoso.