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Crônica do Aroldo - Como acabar com inimigos (Lição I)

Salim não fala; grita. Não conversa; discute. Não pede; impõe. Não argumenta; se desespera. Não existe reunião em que Salim deixe de se incompatibilizar com alguém.


Salim Abdou Hassan, gordo, diabético, pressão altíssima, estressado..., é o que normalmente chamamos de "pavio-curto". Salim não fala; grita. Não conversa; discute. Não pede; impõe. Não argumenta; se desespera. Não existe reunião em que Salim deixe de se incompatibilizar com alguém. Sua acomodação em eventos sociais é trabalhosa; sempre há desafetos de Salim nas rodas formadas. Uma simples conversa sobre futebol é capaz de levá-lo aos limites da irritação. Sua esposa e filhos vivem em eterna vigilância com medo de um enfarte causado pela sua teimosia exacerbada e crônico mau humor; estes estão sempre empenhados em mudar o rumo das conversas quando Salim começa a se exaltar.

Salim é cozinheiro de mão cheia. Especialista em comidas árabes, usa a cozinha como higiene mental, nosso homem só encontra a verdadeira paz de espírito no meio dos quibes, esfirras, tabules, charutos, terrines, grãos-de-bico, etc.

No dia de seu aniversário, 24 de dezembro, estava Salim na sua ampla cozinha com a mão na massa, cercado de panelas, caçarolas e frigideiras; ao seu lado quatro ajudantes empenhados no sucesso do jantar (Salim está sempre cercado de colaboradores). A mulher de Salim, Olga, havia decidido aproveitar o clima natalino e os 50 anos de Salim para uma conversa franca e tentar fazê-lo mudar, por pouco que fosse, seu mau humor e comportamento exagerados. Começou com uma conversa mole..., amenidades..., preparando-se para ir ao cerne do problema. Após troca de algumas frases bobas, Olga atacou:

- Puxa, meu bem, o seu diabetes, a sua pressão e o seu comportamento frente a pequenas discussões nos deixam eternamente preocupados. Hoje você completa 50 anos; bem que poderia aproveitar esta data e rever alguns hábitos. Já que estamos no dia de natal, o que você acha de aproveitar o clima de confraternização e acabar com esse negócio de inimigos...."

Salim abandonou a colher de pau que tinha à mão dentro da bacia, colocou o recipiente de lado, levantou-se, limpou com a mão o suor que lhe brotava na face, avermelhou-se, e, com o canto esquerdo da boca tremendo, falou tentando mostrar calma:

- É... Você tem razão... Mas eu só vejo uma forma de acabar com meus inimigos: é matar de um por um...

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