- 06 de novembro de 2024
Três dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter negado, mais uma vez, conhecimento prévio dos esquemas de caixa dois do PT e do "mensalão", o presidente nacional da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Geraldo Majella Agnelo, disse que "é difícil aceitar" esse tipo de declaração. Para ele, Lula "exagera" ao tentar demonstrar otimismo no governo.
Em entrevista ontem na sede da CNBB, dom Geraldo afirmou existir uma "grande tentação" para se criar um clima de impunidade diante das denúncias.
O presidente da CNBB disse que assistiu a "parte" da entrevista de Lula ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, na segunda-feira. Questionado se aceita a explicação de Lula, que disse que não tinha conhecimento das irregularidades, o presidente da CNBB afirmou: "É difícil a gente aceitar".
"Pela posição dele, como presidente, ele deve conhecer quem está ao seu lado, quem são essas pessoas. Portanto, se cometem alguma coisa, ele deve querer saber até o fim", disse d. Geraldo. E completou: "Penso que ele deve saber, porque é da sua competência. Ele não pode estar alheio ao que acontece perto de si".
Nesta semana, a crise política foi tema de discussões em reunião do conselho permanente da conferência, do qual fazem parte cerca de 30 bispos. Os religiosos também avaliaram a "crise financeira", a "reação dos movimentos sociais" por conta da exclusão e o projeto de transposição das águas do rio São Francisco.
O tema da corrupção, porém, é o que mais preocupa a entidade máxima da Igreja Católica. "Essas questões precisam ser tratadas com muita seriedade e também não podem ser proteladas. É claro que não se pode condenar nenhum inocente, mas aquilo que é constatado não pode deixar de ter o seu julgamento."
Questionado, a seguir, se a CNBB enxerga um clima de impunidade no país, dom Geraldo afirmou: "A tentação é grande. Quando são tantos os que estão envolvidos, pode parecer que se crie um clima em que ninguém é condenado e aí se fazem novos conchavos para novas uniões para salvar o próprio mandato".
Ainda sobre a entrevista de Lula, dom Geraldo elogiou a capacidade de comunicação do presidente, mas colocou em xeque o conteúdo de suas respostas. O presidente da CNBB também criticou aquilo que chamou de "otimismo exagerado" de Lula ao falar de seu governo.
"Eu acho que, de um lado, ele fala muito bem, se comunica muito bem. Ele também é muito otimista em relação ao próprio governo dele. É claro que ele [governo federal] tem muitos méritos, mas eu acredito que exista um otimismo exagerado."
Lula em Minas
Falando de improviso, o presidente Lula criticou ontem seus antecessores na Presidência. O discurso foi em frente à prefeitura petista de Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Mesmo sem citar nomes, Lula disse que Fernando Henrique Cardoso não tem "liga" com os mais pobres.
Depois de dizer às cerca de 5.000 pessoas presentes que elas elegeram "não um presidente, mas um companheiro", Lula se voltou contra o PSDB. "Eu fico olhando o que fizemos de política social.
Fico olhando o que vamos fazer na educação neste país na hora em que o Congresso aprovar o Fundeb. Aí o pessoal vai dizer: "Puxa vida, mas passou tanto professor pela Presidência [e] era necessário um metalúrgico para fazer o que nós deveríamos fazer"."
"Possivelmente, todos eles eram muito mais cultos do que eu, leram muito mais livros do que eu, eram até mais inteligentes. O que não tinham era uma ligação sentimental e de coração com os problemas do povo. É uma coisa chamada liga, é uma coisa chamada sangue", acrescentou Lula.