- 06 de novembro de 2024
"Um país se faz com homens e livros". A apologética frase de Monteiro Lobato parece estar entrando na contramão da história. Ou seria a história sendo escrita de forma enviesada? Hoje, o que menos tem valor neste país das maracutaias é um livro. Não que eles não tenham valor intrínseco em seu conteúdo, mas pelo descaso com que é tomado.
Veja-se, por exemplo, a figura "escalafobética" do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (para lembrar o jornalista Sebastião Nery), que teve o disparate de dizer que é menos enfadonho pedalar numa esteira do que ler um livro.
Homens e livros. Se os livros são e devem continuar sendo o meio mais correto e seguro de se chegar a um ponto de equilíbrio da moral e da ética, já os homens de hoje - os políticos, com raríssimas exceções - não se apresentam tão promissores nesse sentido. Está aí as maracutaias, a sem-vergonhice, a dissimulação que envolve descaradamente a vida brasileira. De cima a baixo. Os homens - políticos - estão cada dia tirando a vestimenta natural da decência e ordem para vestir carapuças do pragmatismo.
John Kennedy (1917-1963), ao assumir a presidência dos Estados Unidos da América, em discurso de posse, em 20 de janeiro de 1961, conclamou aos americanos: "Não perguntem o que seu país pode fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo seu país". No Brasil da era Lula se dá exatamente o contrário. A concupiscência dos homens - políticos -, a avidez em se locupletar com o erário sempre foi uma constante desde que os portugueses colocaram os pés na "Ilha de Vera Cruz". Nestes últimos dias, no entanto, essa máxima se revestiu de uma desfaçatez de dar inveja ao italiano Al Capone (1897-1947).
Hoje já não se pode dizer que o benefício da dúvida permite colocar quem quer que seja acima de qualquer suspeita. Todos são inocentes até que... Bom, a situação leva à generalização: já não há inocentes na República petista. De tamanha que é a falta de compostura com a coisa pública, o correto passa a ser o inversamente estabelecido no legítimo Estado de Direito, ou seja, todos são culpados até que se prove a inocência. Hoje está cada vez mais difícil provar a inocência diante de tantas e tamanhas evidências de culpa no cartório.
Porém, como já dizia Monteiro Lobato, um país se faz com homens e livros. Tanto um como o outro são artigos de luxo diante de uma sociedade corrompida, onde o que mais se vê são lobos envergando peles de cordeiros.
A saída é mesmo esperar que essa nuvem negra que se abate sobre o país se dissipe o mais rápido possível, e se estabeleça nova primavera, onde possam florescer homens, na verdadeira expressão da palavra. Homens que tenham o porte do estadista. Onde o bem maior seja o da coletividade. Aquele que possa falar de boca cheia "o meu povo", e por esse seu povo sacrifique interesses pessoais, interesses menores.
Homens da estirpe de Fernando Ramos Pereira, de Hélio da Costa Campos, só para citar alguns a quem tive o prazer de conhecer embora não tão de perto, mas que nos legaram um exemplo maior. Homens que tiveram tudo nas mãos - viveram o chamado milagre brasileiro - e, não por incompetência, mas por honradez, não se locupletaram com o bem público. Morreram com a honra resguardada. Jamais levaram para casa algo que não tivesse sido ganho com o suor do rosto. Começa por aí o alvorecer de uma nova sociedade.
Será que neste limiar de terceiro milênio ainda se fazem homens dessa cepa? Minha grande esperança é que todo esse mar de lama instalado na República possa um dia, não tão distante, ser visto com uma noite escura, um indesejável hiato. Algo que não deva ser lembrado. Pela sordidez com que foi alinhavado.
(*) O autor é jornalista; e-mail: [email protected].
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