- 07 de novembro de 2024
MARTA SALOMON
Folha de S. Paulo
As relações do Banco do Brasil com o caixa dois do PT vão além dos pagamentos antecipados a uma das agências do publicitário Marcos Valério de Souza. Documentos em poder da CPI dos Correios mostram que o contrato da estatal com a DNA foi usado como garantia a empréstimos de R$ 29 milhões concedidos pelo Banco Rural e que, segundo Valério, teriam ajudado a financiar o PT e aliados políticos do governo.
"Já podemos afirmar que os contratos de publicidade com as estatais -Banco do Brasil, Correios e Eletronorte- foram usados por Marcos Valério no financiamento do caixa dois", disse ontem o sub-relator da CPI dos Correios Gustavo Fruet (PSDB-PR).
A participação das estatais terá destaque no relatório parcial sobre movimentação financeira do "valerioduto" que Fruet pretende apresentar na quinta-feira. "Não podemos falar em desvio de dinheiro público porque dinheiro não tem carimbo, mas a triangulação está clara", completou.
A garantia aceita pelo Banco Rural em empréstimos concedidos às empresas SMPB e Graffiti em maio e setembro de 2003 contrariou dispositivo do contrato do Banco do Brasil com a DNA, que proibia o uso dos futuros pagamentos como garantia, "salvo com autorização prévia".
A autorização não foi concedida, diz o BB em ofício encaminhado à CPI. No documento, o banco afirma desconhecer que a DNA "tenha concretizado qualquer operação financeira ofertado em garantia os contratos que mantinha com o Banco do Brasil".
Já o Rural insiste que o Banco do Brasil foi notificado "formalmente" pela DNA a transferir os pagamentos decorrentes do contrato de publicidade para o banco.
Pagamentos
Antes de o contrato ser rompido em julho, em decorrência das investigações do caixa dois do PT, a DNA recebeu mais de R$ 150 milhões em pagamentos do contrato com o Banco do Brasil.
Mas os empréstimos do Rural nunca foram pagos e receberam recentemente a mais alta classificação de risco, quando o calote é considerado inevitável. Os R$ 29 milhões liberados pelo Rural para alimentar o caixa dois do PT valem hoje cerca de R$ 50 milhões.
As duas instituições devem informações à CPI sobre a origem ou o destino de cerca de R$ 400 milhões das movimentações do publicitário e suas empresas.
Ainda sobre as relações do Banco do Brasil com o "valerioduto", o relatório parcial de Fruet vai destacar o prejuízo de R$ 37,6 milhões que o TCU (Tribunal de Contas da União) estima ter sido imposto pela DNA ao banco por falta de repasse de bonificação obtida na veiculação e produção de campanhas da estatal.
Na quinta-feira passada, o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que R$ 10 milhões adiantados pelo Banco do Brasil à DNA para a publicidade de cartões de crédito e débito da bandeira Visa foram transferidos ao BMG apenas quatro dias antes de o banco mineiro conceder empréstimo no mesmo valor a Rogério Tolentino, sócio de Valério. Para o relator, seria a prova de desvio de dinheiro público para o "valerioduto".