- 07 de novembro de 2024
Funcionários do Ministério da Justiça, a mando do ministro Márcio Thomaz Bastos, são os principais responsáveis pelo ritmo lento das investigações a respeito da origem do dinheiro do mensalão. Fazem tudo como se obedecessem os ritos legais necessários, mas abusam dos cuidados com o objetivo de esfriar a crise até o abafa final -a CPI dos Correios termina na metade de dezembro.
Na semana passada ocorreu um fato emblemático a respeito da lentidão das apurações. Estavam em Nova York duas equipes brasileiras em busca de documentos para identificar a origem do dinheiro ilegal que abasteceu o valerioduto e os partidos aliados de Lula dentro do Congresso.
Uma equipe em Nova York era a do delegado da Polícia Federal Luiz Flávio Zampronha. A outra equipe era a de Antenor Pereira Madruga Filho, diretor do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça.
O chefe de Zampronha e de Madruga é a mesma pessoa: Márcio Thomaz Bastos. Ocorre que o controle da PF é muito menor do que se imagina. Já o tal departamento comandado por Madruga é um órgão sempre a serviço do governo.
Zampronha tentava convencer as autoridades responsáveis de Nova York a respeito da necessidade de o Brasil receber imediatamente os documentos de contas bancárias e empresas suspeitas de terem abastecido o valerioduto. Só esses documentos poderão deixar claro de onde veio a dinheirama ilegal recebida pelo marqueteiro malufo-petista Duda Mendonça.
No meio do caminho de Zampronha apareceu a equipe de Antenor Madruga. O funcionário do DRCI (na realidade, uma mulher), a mando de Márcio Thomaz Bastos, alegou ser temerário entregar a documentação para a PF brasileira ou para os integrantes das CPIs em curso no Congresso. Com outras palavras, o DRCI deixou escapar que "vazaria tudo para a imprensa".
O resultado foi o óbvio. As autoridades de Nova York decidiram entregar os papéis apenas para o Supremo Tribunal Federal do Brasil. Daí, até esses documentos chegarem à PF e às CPIs o caminho é longo e demorado.
Quem esteve em Nova York e apurou com as autoridades locais teve a sensação de que a equipe de Madruga insinuou não ser uma má idéia se os papéis chegassem ao Brasil só em janeiro do ano que vem. A CPI dos Correios já teria terminado. O Congresso estaria em recesso. Melhor do que isso, impossível. Abafa total.
Esse prazo de janeiro não deve ser atendido. Até o início de novembro a documentação deve chegar ao STF. O próximo passo será o ministro do Supremo Joaquim Barbosa analisar os papéis e encaminhá-los para onde achar necessário. A CPI vai pedir. A PF vai pedir. E o Ministério da Justiça vai recomendar cautela.
Como estará muito em cima da hora do final da CPI, a chance de abafa dos dados não é pequena. Se assim ocorrer, será mais uma vitória de Márcio Thomaz Bastos. Ele já foi um dos mais acionados governistas no período em que se divulgou a versão do caixa 2 para toda a dinheirama do valerioduto. Agora, prestará mais um serviço para Lula ajudando a esfriar de uma vez o clima da crise.