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Roraima 17 anos - Rodolfo Pereira

Hoje, no nosso Estado, comemoramos sua independência como uma data importante, mas não como uma data feliz, porque ainda, depois de passar a Estado, passamos a viver as mesmas ingerências do Governo Federal que têm atrapalhado o crescimento daquele Estado.


No último dia 5, Roraima completou 17 anos a sua transformação de território federal para estado. Essa era uma grande vontade da população, da sociedade, dos movimentos organizados. Naquele tempo, eu era estudante. Lembro-me de que tratávamos dessa questão nas escolas, sempre em busca da independência de Roraima, onde seriam criados os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Passaríamos a eleger nossos Governadores, Deputados e Senadores. Portanto, cuidando mais de pertode nossos problemas.
Hoje, no nosso Estado, comemoramos sua independência como uma data importante, mas não como uma data feliz, porque ainda, depois de passar a Estado, passamos a viver as mesmas ingerências do Governo Federal que têm atrapalhado o crescimento daquele Estado.
A Constituição garante que, no momento em que nosso Território passasse a Estado, nossos limites geográficos seriam repassados para o Estado de Roraima, a fim de discutirmos nossas questões fundiárias, ambientais, políticas, econômicas, fundamentadas na agropecuária, na agricultura familiar, no interior, mas 90% da nossa área foram confiscadas, abocanhadas pelo Governo Federal.
Não só o Governo Lula, mas os Governos Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco e Sarney estão nos devendo. É hora de receber um presente de aniversário. Talvez fôssemos mais felizes se repassassem nossas terras.

Hoje brigamos por tão pouco. Mais de 50% de nossas terras são áreas indígenas e 30% são reservas ecológicas. Queremos um pouco de terra para desenvolver a agricultura familiar, sem o IBAMA montado na gente. Queremos ir ao banco buscar financiamento, crédito, para que o agricultor familiar não tenha de usar fósforo, machado, motosserra na Amazônia e depois seja tratado de forma pejorativa, como tem ocorrido na Amazônia.
O Estado do Acre, apesar de ser mais velho e livre dos problemas de queimadas, está ardendo em chamas. O cidadão precisa queimar para produzir a comida, porque a tecnologia não chega, não há título definitivo, não há crédito no banco. Ele tem um filho com fome, o prato seco, o fósforo e a mata. Ele queima a mata diante do filho. É assim que o cidadão geralmente age nos momentos desesperados que vivemos na nossa fronteira.
Chamo atenção do Governo do Presidente Lula, especialmente, que tenha sensibilidade, repasse nossas terras, ajude a resolver os problemas sociais que estamos vivendo nos Estados do Norte e não se avolumem as crises econômicas e sociais.
Agora mesmo, no meu Estado, vimos um exemplo de má gestão do Governo Federal sobre o Estado de Roraima: a área Raposa Serra do Sol foi homologada, mas de forma diferente da que o Governo, as organizações não-governamentais e os Deputados da Itália entendiam. Agora há uma grande comemoração das ONGs para os Deputados e presidentes de ONGs alemãs em Roraima. A Polícia Federal dá segurança para que as autoridades brasileiras cheguem até lá. Ao mesmo tempo, prende índios, atira em suas pernas, como aconteceu, mas ninguém se manifesta.
Um índio levou um tiro da Polícia Federal com uma bala de borracha. Sua perna foi perfurada na panturrilha, o que poderia levá-lo a uma deficiência. Agora está doente e vai passar fome por causa disso.
Chamo a atenção para o fato de que não agüentamos mais viver no Estado com a interferência do Governo Federal e suas ingerências políticas. Um grupo administra paralelamente ao Governo eleito. Isso é inconstitucional!
Os movimentos e as revoltas na Amazônia têm alto grau de violência. Foi assim em Carajás, em Roosevelt, onde houve a maior chacina já ocorrida na Amazônia, praticada por índios descontentes com a política implantada pelo Governo.
Em Roraima, eles queimaram a missão, as pontes, tudo. A Polícia Federal está sitiada em meu Estado. Numa cidade do Pará, os índios queimaram a Prefeitura e a casa do Prefeito. Os movimentos estão ocorrendo com alto grau de violência, porque não se agüenta mais viver sob a ingerência do Governo Federal, que atrapalha nossa economia. Somos 21 milhões de habitantes na região. Precisamos crescer. O Governo precisa reconhecer e respeitar as Unidades Federativas da Amazônia. Roraima precisa imediatamente de suas terras.

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