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Crônica do Aroldo - DISCRIÇÃO II

Nesse mundo nada se cria, tudo se copia. O Motel do Macaco, objeto de texto anterior, apesar da indiscrição de seu gerente, Joãozinho, fazia sucesso; seus oito "apartamentos de luxo" estavam sempre ocupados.


Nesse mundo nada se cria, tudo se copia. O Motel do Macaco, objeto de texto anterior, apesar da indiscrição de seu gerente, Joãozinho, fazia sucesso; seus oito "apartamentos de luxo" estavam sempre ocupados. Os eventuais clientes já reclamavam da demora no atendimento, pois ficavam expostos com suas acompanhantes enquanto esperavam vaga. Houve uma vez, inclusive, que por pouco não se deu uma tragédia: João Pinheiro estava com Maria Selma em seu carro, esperando desocupar um aposento, quando viu aproximar-se o carro de Carlos Brito, marido de Selma, acompanhado de sua comadre Ozanete. Imaginem o escândalo se o primeiro não tivesse sido rápido e mandado sua namorada abaixar-se no piso do veículo.

Dorisvaldo Matias, empresário da construção civil, quebrou. Construiu para o Governo do Estado e não recebeu o que lhe era devido; depois de vender equipamentos, imóveis e veículos, restaram-lhe dívidas com fornecedores e pessoal. Tinha que começar do zero. De todos os bens outrora possuídos restou-lhe somente o casarão que habitava; Dorivaldo perdeu até a mulher nesta derrocada. Vendo o sucesso do motel do Macaco, teve a idéia de adaptar sua mansão em empreitada semelhante. Não perdeu tempo: derrubou paredes, levantou outras, fez garagens, enfim, sem projeto, rudimentarmente, estava pronto o seu matadouro, que, diga-se de passagem, era um pouco melhor que o concorrente, pois tinha até ar condicionado.

Novidade é novidade. Logo que se espalhou a notícia do "Amarelão" - assim apelidado devido ao amarelo Caterpillar da parte externa do imóvel-, a procura era grande; todos queriam conhecer o melhor motel da cidade. Dorisvaldo dispôs-se a corrigir alguns erros praticados no motel do Macaco: discrição seria seu mote (DISCRIÇÃO MESMO!).

Numa quente sexta-feira, Zé Capito saiu com a namorada para uns tragos; entre drinques, troca de olhares pecaminosos e afagos, decidiram ir conhecer os confortos do "Amarelão" e, ali, passar momentos de amor. Ao chegarem ao estabelecimento, deram com o proprietário no portão de entrada que lhes fez sinal de parada, debruçou-se na porta do passageiro do carro e encarando ora Zé Capito, ora Anamélia, sua acompanhante, falou:

- Desculpem, tá tudo lotado... Com esse calor parece que toda a cidade resolveu sair pra uma trepadinha. Se vocês quiserem aguardar, estacionem ali debaixo daquele cajueiro, ao lado do carro do próximo que é o Baiano. Prometo que a espera não levará dez ou quinze minutos, pois o Dr. Ronaldo está no apartamento seis há mais de meia hora e ele não costuma demorar muito não. - E, dirigindo-se, a Anamélia: Você não é filha do Calango? 

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