- 12 de novembro de 2024
Extra
RIO - O atacante do Vasco Romário vai ser intimado para prestar depoimento na 21ª DP (Bonsucesso) ainda esta semana. O nome dele é citado em conversa entre o traficante Tadeu Nascimento Silva, o Bola, gerente do tráfico de drogas na Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré, e o taxista Gustavo Lima da Silva. O jogador teria sido visto pelo taxista numa festa na Favela da Rocinha no dia 19 de maio.
No diálogo, gravado com autorização judicial, Bola comenta com Gustavo que o jogador também iria na Vila dos Pinheiros para jogar uma partida de futebol. O delegado da 21ª DP, Jader Amaral, disse que vai intimar o atacante do Vasco como testemunha. Ele quer saber se realmente o jogador esteve nas favelas e qual a relação de Romário com os traficantes Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, chefe do tráfico na Rocinha, e Bola.
Os policiais já sabem que Gustavo realmente esteve na Rocinha na madrugada do dia 19 de maio. Nessa noite, o traficante Bola vendeu três fuzis para Bem-Te-Vi e Gustavo foi o responsável pelo transporte das armas até a favela.
- O Gustavo entregou os fuzis nas mãos do Bem-Te-Vi, que estava na festa citada pelo taxista. Ele dá satisfação para Bola sobre a entrega e é nesse momento que ele fala sobre o Romário e outros jogadores que ele teria visto - explicou o delegado da 21ª DP.
Romário seria o atacante "R", citado em algumas conversas telefônicas do traficante Bem-Te-Vi com homens de sua confiança. O jogador confirmou conhecer o chefe do tráfico da Rocinha, com quem diz ter estado apenas uma vez, mas negou intimidade.
- Estive com ele uma única vez na minha vida: quando fui à Rocinha participar de uma pelada que visava arrecadar alimentos para a comunidade. Nada mais - disse o atleta.
Romário negou também que tenha enviado pares de tênis ao traficante, conforme foi ouvido no grampo feito pelos policiais da Polinter. Nas gravações, Bem-Te-Vi conta a um parceiro que um "assessor do R. trouxe um montão lá dos Estados Unidos". Romário ignora:
- Primeiro, não tenho assessor nenhum. Segundo, não posso falar nada: é muito fácil alguém chegar, dizer que é meu assessor e se envolver com coisas erradas.
Outro atleta, Jorginho, craque da seleção brasileira de futebol de areia, teve seu nome relacionado ao do traficante Bem-Te-Vi, chefe da venda de drogas na Rocinha. Gravações feitas pela Polinter revelam que o jogador foi até a uma festa de aniversário de um gerente das bocas-de-fumo da comunidade. Ele pede para Bem-Te-Vi chamar pelo radiotransmissor um outro amigo, que ainda não foi identificado pela polícia. A inspetora Marina Maggessi disse que Jorginho terá que explicar este relacionamento com o traficante.
Jorginho aparece na conversa chamando o homem para a comemoração na favela. Os bandidos faziam um churrasco.
- O Jorginho vai prestar depoimento como testemunha e vai explicar porque usou o telefone do Bem-Te-Vi para conversar - disse a chefe do setor de investigações da Polinter, inspetora Marina Maggessi.
O jornal 'Extra' procurou o jogador. Ele se pronunciou através de uma nota divulgada por sua assessoria de imprensa:
"O camisa 10 da Seleção Brasileira de Beach Soccer, Jorginho, se mostrou tranqüilo frente às especulações de um possível envolvimento com traficantes da Rocinha. O jogador, eleito três vezes o melhor do mundo, vem treinando para a disputa da Copa Latina de Beach Soccer e afirmou que está à disposição da polícia para esclarecer o mal-entendido."
Sobre o ex-goleiro do Flamengo Júlio César, a chefe do setor de investigações da Polinter, inspetora Marina Maggessi, informou que vai ouvi-lo por carta rogatória, já que ele mora na Itália, onde joga pelo Inter de Milão. O goleiro aparece nos grampos conversando duas vezes com Bem-Te-Vi. Numa delas, reclama de um assalto ocorrido em frente à Rocinha.
Já o advogado Marcelo Santoro, ex-cunhado de Romário, só deve prestar depoimento depois disso. Ele teria sido o intermediário entre Bem-Te-Vi e o goleiro Júlio César. Em outro trecho das gravações, Marcelo fala com o chefe do tráfico da Rocinha que tinha o chamado para que ele falasse com dois jogadores do Vasco e novamente com o goleiro da Inter de Milão. Na gravação, Marcelo diz que estava na praia com os três atletas. A polícia quer saber detalhes da rotina do traficante na favela e o que Marcelo ganha intermediando os contatos.
Na segunda-feira, o chefe de Polícia Civil do Rio, Álvaro Lins, disse que há suspeita de que traficantes se utilizariam de artistas e jogadores de futebol para atrair mais gente a bailes funk e outros eventos nas comunidades com o objetivo de aumentar a venda de drogas. Todas as celebridades que foram citadas ou tiveram conversas com traficantes no grampo feito pela polícia serão intimadas a depor para explicar suas relações com os traficantes.