- 12 de novembro de 2024
LEONARDO SOUZA
Folha de S. Paulo
Cinco deputados petistas ligados ao escândalo do "mensalão" podem anunciar renúncia coletiva a seus mandatos nos próximos dias, segundo a Folha apurou. João Paulo Cunha (SP), Professor Luizinho (SP), Paulo Rocha (PA), Josias Gomes (BA) e João Magno (MG) reúnem-se hoje com líderes e integrantes da Executiva Nacional do PT para decidir seu futuro.
Todos eles receberam direta ou indiretamente dinheiro das empresas do publicitário mineiro Marcos Valério, de acordo com investigações da CPI dos Correios. A decisão do deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP) reforçou a idéia da renúncia coletiva.
O gesto dos petistas contribuiria para preservar a imagem do partido, fortemente desgastada nos últimos meses. Ontem, eles negaram a intenção de renunciar.
Hoje são pelo menos 20 deputados federais ligados ao esquema do "mensalão". Se não renunciarem, poderão ser cassados por quebra de decoro, perdendo os direitos políticos e tornando-se inelegíveis até 2015. Assim, não poderiam se candidatar em 2006.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha está bastante inclinado a abrir mão do mandato. Tem dito a integrantes do partido que pode fazer o anúncio entre hoje e amanhã. Segundo a CPI, a mulher do deputado, Márcia Milanésio Cunha, teria recebido R$ 50 mil da SMPB. Em sua gestão na presidência da Câmara, João Paulo contratou a SMPB para fazer propaganda da Casa.
Josias Gomes foi o único parlamentar até agora que sacou pessoalmente dinheiro das contas da empresa de Valério. Ele compareceu à agência do Rural em Brasília entre agosto e setembro de 2003, quando realizou duas retiradas de R$ 50 mil. Ele deixou na agência cópia da carteira de parlamentar.
Entre os cinco petistas, o maior saque é atribuído ao ex-líder do partido na Câmara Paulo Rocha. Sua assessora Anita Leocádia Costa teria retirado R$ 320 mil.
Professor Luizinho inicialmente negou que seu assessor José Nilson dos Santos sacou R$ 20 mil, mas depois confirmou a retirada.
João Magno recebeu ao todo R$ 29 mil em duas transferências eletrônicas efetuadas em 18 de agosto e 19 de setembro de 2004.
Pelo que a Folha apurou, José Dirceu (SP) e José Mentor (SP) não integrariam o bloco de parlamentares dispostos a renunciar.
Repercussão
O vice-presidente da CPI do Mensalão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), disse ter sido surpreendido pela renúncia de Costa Neto. "Em princípio me pareceu uma atitude precipitada", disse.
"Espero que outros sigam o caminho [de Costa Neto], porque assim facilitaria as coisas para o Congresso", disse o líder do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP). "O deputado Valdemar toma uma atitude corajosa, é uma decisão que outros parlamentares deveriam tomar", disse o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).
Para o secretário-geral do PTB, deputado Luiz Antonio Fleury Filho (SP), a saída de Costa Neto "foi o sinal mais claro de que não haverá acordo" com Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor das denúncias do "mensalão", que evitaria cassações em massa na Casa.
No Senado, a oposição viu no ato uma confissão de culpa: "É uma confissão e é a primeira de uma série. Virão outras renúncias e algumas serão chocantes. É uma estratégia de anistia para tentar uma nova eleição e por si só comprova a existência do "mensalão'", disse Arthur Virgílio (AM).