00:00:00

Crônica do Aroldo - CAI O PANO

Luizete parava o trânsito e tinha consciência de seu charme e beleza. Aos domingos, em minúsculo biquíni azul-piscina que desenhava a proeminência do seu "baixo-leblon", ela desfilava sorrateira pelas praias provocando desejo nos homens e inveja nas mulheres.


Ela era negra como uma jabuticaba madura; trazia eterno sorriso alvo e brilhante nos lábios carnudos emoldurados por um rosto belo e de pele macia ornado por vasta cabeleira encarapinhada que fazia questão de arrumar em legítimo estilo africano; longo pescoço ligava seu belo tronco com seios redondos e empinados tipo "olha-pro-céu-meu-amor" e braços longos e fortes; logo abaixo estavam as curvas da acentuada cintura encimando ancas bem feitas que traziam nádegas rechonchudas e salientes; as pernas bem torneadas eram traços de união entre as harmoniosas coxas, os tornozelos e os pés daquela diva: LUIZETE.
Luizete parava o trânsito e tinha consciência de seu charme e beleza. Aos domingos, em minúsculo biquíni azul-piscina que desenhava a proeminência do seu "baixo-leblon", ela desfilava sorrateira pelas praias provocando desejo nos homens e inveja nas mulheres.  Seu jeito "num-tô-nem-aí" incomodava quem tentasse cortejá-la. Cortejá-la, não; levá-la pra cama.
Luizete deixava a impressão de que seu prazer máximo era causar frisson no sexo oposto; não conheço ninguém que afirme ter deitado com essa musa.
No final de uma dessas tardes de domingo, Luizete entrou calmamente na água e, sob mil olhares pidões, admirados e despeitados, deu seu último mergulho do dia. Calmamente abandonou o leito do rio, abriu os braços para que o vento varresse os pingos d´água que insistiam ficar em seu corpo e, lenta e sensualmente, cobriu seu corpo com uma canga indiana semi-transparente. Botou discretos óculos escuros, acomodou a sacola de palhinha sobre o ombro esquerdo e, com os tamancos na mão direita, seguiu para o ponto de ônibus abandonando a ribalta.
As pessoas, instintivamente, abriam caminho para deixar passar aquele pedaço-de-mau-caminho; já chegando ao final de seu desfile, Luizete ouviu um engraçadinho gritar-lhe com desdém:
- Cuidado com a onça, preta!
A negrinha virou-se em direção ao infeliz e fechando o ato final, bradou:
- Onça não gosta de preto; onça gosta é de viado!
Os espectadores riram, assoviaram e aplaudiram. Luizete seguiu, sem olhar pra trás, em passos elegantes, determinados e rebolativos.
Só faltava cair o pano depois daquele ato final.

e-mail: [email protected]

Últimas Postagens