Lula fala sobre sociedade do filho

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A Telemar e o Grupo Trevisan admitiram ontem que a telefônica tinha conhecimento de que Fábio Lula da Silva, filho do presidente Lula, era um dos sócios da Gamecorp, desde 2 de setembro de 2004, quatro meses antes da assinatura do contrato. A Telemar comprou 35% das ações da empresa, como revelou O GLOBO semana passada, e ainda pagou R$ 2,5 milhões pela exclusividade no fornecimento de produtos. O aporte total da Telemar foi de R$ 5 milhões.

Segundo o consultor e sócio da Trevisan, Richard Dubois, responsável pela negociação entre as duas empresas, as informações foram repassadas à Telemar, inclusive com a composição acionária integral, quando concluiu-se que a companhia havia apresentado a melhor proposta.

- O Fábio não participou das negociações. Mas repassamos todas as informações, inclusive de que ele era um dos sócios da empresa, quando decidimos que a melhor proposta era a da Telemar. Essas informações eram necessárias para a elaboração do memorando de entendimento - conta Dubois, ao explicar que as negociações oficiais tiveram início com a assinatura desse documento.

Além da Telemar, a Brasil Telecom também ofereceu proposta para comprar ações da Gamecorp e encaminhou a proposta diretamente aos sócios da empresa em 18 de agosto de 2004, inclusive para Fábio Lula da Silva. Isso provaria que a Brasil Telecom já tinha a informação de que o filho de Lula era um dos sócios da empresa.

Segundo um dos participantes da negociação, a Brasil Telecom sabia da presença de Fábio na empresa porque patrocinava um programa na TV Bandeirantes produzido pela G-4, que depois viraria a Gamecorp. Por esta versão, pesou contra a proposta da Brasil Telecom o fato de ela ter como sócio Daniel Dantas, do Opportunity, desafeto de integrantes do governo, como o secretário de Comunicação, Luiz Gushiken.

BNDES é um dos principais acionistas da Telemar

A Telemar explicou ainda que em 6 de janeiro deste ano, fez uma aquisição das ações da Gamecorp via debêntures e que só 20 dias depois o conselho da empresa aprovou a compra. A Telemar é uma companhia de mercado, mas com dinheiro público em seu capital. Um dos principais acionistas da Telemar é o BNDES, com 25% do capital da holding que a controla. Outros 19,9% pertencem a fundos de pensão, como a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, e a Petros, da Petrobras.

O BNDES divulgou nota anteontem sobre a sociedade entre a operadora de telefonia e a Gamecorp. O banco explicou que detém, indiretamente, 4,7% da empresa e que sua participação confere apenas o direito de indicar membros ao Conselho de Administração da Telemar. A instituição não teria funções na direção da telefônica.