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A viagem dos dólares de Delúbio

Surgiu mais um personagem no escândalo que há mais de um mês põe o PT na berlinda. O nome da vez é Wendell Resende de Oliveira, ex-motorista da deputada federal Neide Aparecida (PT-GO), amiga do tesoureiro afastado do partido, Delúbio Soares. Wendell contou ao GLOBO que no auge da campanha eleitoral do ano passado viajou de Goiânia a São Paulo, a mando da deputada, para buscar um pacote com US$ 200 mil.


Rodrigo Rangel
O GLOBO

Surgiu mais um personagem no escândalo que há mais de um mês põe o PT na berlinda. O nome da vez é Wendell Resende de Oliveira, ex-motorista da deputada federal Neide Aparecida (PT-GO), amiga do tesoureiro afastado do partido, Delúbio Soares. Wendell contou ao GLOBO que no auge da campanha eleitoral do ano passado viajou de Goiânia a São Paulo, a mando da deputada, para buscar um pacote com US$ 200 mil. O dinheiro, segundo ele, foi apanhado no diretório nacional do PT, com a secretária de Delúbio Soares e distribuído em Goiânia para ajudar na campanha de políticos aliados. Entre os beneficiados estaria Carlos Soares, irmão de Delúbio que concorria a uma vaga de vereador.

Wendell recebeu O GLOBO na noite de quarta-feira em frente à modesta casa onde mora, no Setor Pedro Ludovico, bairro de classe média baixa de Goiânia. Ontem, Wendell confirmou as denúncias em depoimento informal prestado ao promotor Fernando Krebs, do Ministério Público Estadual, que investiga enriquecimento ilícito de Delúbio. O promotor vai intimar Wendell para prestar depoimento.

- Trata-se de uma denúncia grave que vamos apurar e também encaminhar ao Ministério Público Federal. Há indícios de crime eleitoral e lavagem de dinheiro - disse o promotor.

Na conversa com O GLOBO, o motorista mostrou documentos que comprovariam seu envolvimento na operação. Um deles é um papel timbrado da Câmara em que a secretária de Neide Aparecida supostamente anotara o endereço onde ele deveria pegar a encomenda: Rua Silveira Martins, 132, Centro de São Paulo. "Fica no bairro da Sé, na paralela do Poupa Tempo, travessa da rua Tabatinguera", observa a anotação, que coincide com o endereço da sede petista em São Paulo. Abaixo, constam dois números: o geral do diretório e um outro, da Secretaria de Finanças, até o início da semana chefiada por Delúbio.

Volta de ônibus para esconder dinheiro

O ex-motorista mostrou ainda uma das passagens da viagem: a que garantiu a volta a Goiânia. Ele conta que foi a São Paulo e voltou no mesmo dia - 27 de setembro de 2004. A ida, diz, foi de avião, pela TAM. O retorno, de ônibus, para que, segundo ele, o pacote com os dólares não fosse flagrado no raio-x do aeroporto. Os bilhetes teriam sido pagos pelo gabinete de Neide Aparecida. Wendell guardou, ainda, o recibo do táxi que o levou do diretório à rodoviária, na marginal Tietê.

O ex-motorista afirma que, na sede do PT, procurou por uma das secretárias de Delúbio.

- Nós ainda contamos as notas, uma por uma. Dava US$ 200 mil.

O embrulho teria sido acondicionado numa bolsa de viagem. Wendell diz ter percorrido o trajeto São Paulo-Goiânia em claro, vigiando o dinheiro. Ao chegar, teria repassado a bolada a um filho da deputada. Os dólares, afirma, teriam sido trocados em reais por um doleiro da cidade. A partir daí, o dinheiro foi distribuído pela deputada. Uma parte teria sido encaminhada a Carlos Soares, irmão de Delúbio que concorreu, sem sucesso, à Câmara Municipal. Valores menores, segundo ele, foram enviados para candidatos do interior de Goiás que tinham o apoio de Neide e Delúbio.

O ex-motorista diz ter participado da distribuição. Conta que uma parte do dinheiro seguiu num pequeno avião para Quirinópolis, interior do estado, para cobrir gastos da campanha do irmão de Neide Aparecida, Gilmar Alves (PMDB), eleito prefeito.

Após a conversa com o promotor Krebs ontem, Wendell ficou de pensar se formalizaria as declarações. Pouco depois, ele foi procurado por assessores da deputada, que teriam tentado convencê-lo a retroceder e a não prestar o depoimento formal.

- Eles disseram que arranjariam alguma coisa pra mim - declarou, para em seguida dizer que não falaria mais nada sobre o assunto.

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