- 12 de novembro de 2024
Maria Lima e Bernardo de La Peña
BRASÍLIA
Em seu primeiro depoimento na CPI dos Correios, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), com o olho esquerdo roxo, partiu para cima de deputados e senadores avisando que levara em caixas as prestações de contas de campanha de todos os integrantes da comissão. Jefferson acusou os políticos de enganarem a Justiça Eleitoral em suas prestações de contas e admitiu que faz o mesmo.
Olhando para as câmeras e se dirigindo ao "povo brasileiro", disse que não há campanha de deputado que custe menos de R$ 1 milhão, mas que a média das prestações apresentadas aos tribunais eleitorais é de R$ 100 mil. O próprio Jefferson declarou ao Tribunal Superior Eleitoral ter gastado apenas R$ 144.900 em 2002.
Segundo ele, nenhuma candidatura ao Senado custa menos de R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões, mas a média das prestações é de R$ 250 mil. Diferentemente do que disse o deputado, porém, o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), declarou ter gastado R$ 1,4 milhão em 2002. Já o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), declarou gastos de R$ 292 mil.
- Esse processo começa na mentira e deságua no PC Farias, no Delúbio Soares e nos outros tesoureiros - disse Jefferson, completando:
- A campanha mais milionária de todo o país foi a do PT, mas as declarações à Justiça Eleitoral não traduzem a realidade, nem a minha, porque ela é igual à dos senhores.
Acareação com Dirceu e Pereira
O ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) não apareceu para se defender, embora Jefferson continuasse a acusá-lo de comandar, com o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e o tesoureiro, Delúbio Soares, o esquema de indicação para cargos públicos. O senador Jefferson Peres (PDT-AM) apresentou requerimento de acareação entre Jefferson, Dirceu e Sílvio Pereira. Jefferson disse que aceita a acareação, mas o requerimento ainda não foi aprovado por Delcídio.
Com um terço nas mãos, Jefferson pouco falou das denúncias de corrupção de seus apadrinhados nos Correios, mas repetiu as denúncias de que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), a pedido de dirigentes petistas, providenciou o grampo que pegou o ex-chefe Maurício Marinho. Muito irritado, às vezes transtornado, Jefferson disse que já não se importava com seu mandato, incluiu-se entre os que fraudam as contas de campanha e disse que era igual a todos ali.
Durante todo o depoimento, Jefferson encarou deputados e senadores, principalmente os do governo. Em uma resposta à senadora Ideli Salvatti (PT-SC), foi ríspido:
- Ela não é melhor que eu. Ninguém aqui é melhor que eu. Vou questionar um por um e vamos ver se as práticas daqueles que querem levantar a voz contra mim são diferentes.
Um dos momentos de maior tensão foi quando o deputado Henrique Fontana (PT-RS) acusou Jefferson de fazer as denúncias porque foi pego nas gravações que mostraram sua participação em corrupção nos Correios.
- Vossa Excelência virou acusador depois de estar sob forte acusação. Quero quebrar o sigilo de Vossa Excelência. Seu partido é o mais santo? - ironizou Fontana.
- Nunca recebi colaboração de bicheiros. No meu partido não tem Cachoeirinha não! Essa fidelidade zoológica do seu partido é estranha. Não venha me dar lição de ética e moralidade! Pelos fantasmas do PC passaram R$ 64 milhões e só nas contas de Marcos Valério já passaram R$ 40 milhões - devolveu Jefferson, um dos chefes da tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor. Fontana se retirou do plenário.
Jefferson comemorou o resultado das investigações que mostram os saques de Marcos Valério e a autuação da Receita em suas empresas.
- No início me cobraram provas. A realidade está vestindo minhas palavras. O carequinha deixou de fora o que PC Farias deixou, o rabo. Mas agora têm que procurar o Banco do Brasil, porque dos R$ 4 milhões que recebi, 60% tinham a etiqueta do BB.