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EDUCAÇÃO - Países que investiram mais colhem resultados

Coréia do Sul e Espanha são exemplos de como gastos de longo prazo no ensino podem render frutos para o desenvolvimento.




Erika Klingl
Da Equipe do Correio

 
Coréia do Sul, Cuba e Espanha estão em diferentes continentes e não concordam muito no que diz respeito ao regime de governo, às políticas econômicas e até sociais. Mas os três países tomaram, cada um a seu tempo, uma decisão fundamental: apostaram no investimento ininterrupto e maciço na educação. O mesmo aconteceu com Japão, Índia e vários outros países do mundo. Mas não com o Brasil. "Temos muito o que aprender com esses exemplos", afirma Tomas Zinner, presidente do Conselho do Instituto Unibanco. "É fato: nenhum país do mundo mudou sem priorizar a educação. E isso só acontece se colocarmos dinheiro", completa o presidente da organização não-governamental (ONG) Educafro, frei David Santos.

Na Índia, a escolha esteve centrada no ensino tecnológico e também na educação a distância. Em Cuba, a força matriz está na formação das crianças. "Temos que olhar os exemplos de perto, mas engana-se quem pensa que é possível implementar mecanicamente as experiências de outros países no Brasil", explica o ministro da Educação, Tarso Genro. "O Brasil tem suas próprias características políticas, econômicas e sociais."

No final do ano, Tarso irá a Nova Deli, na Índia, junto com o ministro da África do Sul. "Vamos trocar idéias", explica. Dos indianos, o Brasil está de olho na revolução educacional baseada na evolução tecnológica. "A África do Sul tem interessantes políticas afirmativas que foram implementadas após o apartheid."

Sucesso
A Coréia do Sul é exemplo recorrente de país que deu certo por causa da educação. Em 1960, o país asiático era um típica nação subdesenvolvida, com baixos índices sociais, econômicos e grandes taxas de analfabetismo, por causa de uma guerra civil que deixou 1 milhão de mortos. Hoje, a Coréia exibe uma economia em pleno crescimento, capaz de dobrar de tamanho a cada década. Sua renda per capita cresceu quase vinte vezes nos 40 anos que se passaram. Neste período, os sul-coreanos praticamente erradicaram o analfabetismo e colocaram mais da metade dos jovens nas universidades.

No Brasil, as estatísticas são inversas: apenas 9% das pessoas com idade entre 18 e 24 anos conseguem entrar no ensino superior; 11,8% dos adultos são completamente analfabetos; e 26% da população com mais de 15 anos (32,1 milhões) é analfabeta funcional, ou seja tem menos de quatro anos de estudo e não possui as habilidades necessárias para satisfazer as demandas do seu dia-a-dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente.

"Para os países asiáticos, como a Coréia e o Japão, a educação é quase sagrada", argumenta Tomas Zinner. Entre as políticas adotadas, nos anos 60, pela Coréia dos Sul para aumentar os índices educacionais do país, uma das mais eficientes foi a concentração do investimento público na educação fundamental e no ensino técnico. Segundo um exame internacional feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para avaliar o rendimento escolar, em quarenta países, a Coréia alcançou o terceiro lugar em Matemática e o quarto em Ciências, enquanto o Brasil ficou, respectivamente, com a última e a penúltima colocações nas duas matérias. O estudo foi divulgado no final do ano passado.

Pacto
Na Espanha, a solução veio quando todos os partidos políticos concordaram que, qualquer que fosse o presidente eleito, a educação seria prioridade. Isso impediu, por exemplo, que as políticas educacionais fossem alteradas a cada mandato. A reforma da educação espanhola, que hoje garante acesso ao ensino médio a 79,5% dos jovens entre 15 e 19 anos, começou na década de 70. No Brasil, pouco mais de 30% dos adolescentes nessa faixa etária estão no ensino médio.

Acesso à escola, eqüidade e qualidade constituem o tripé do sistema espanhol construído nos últimos vinte e cinco anos. A mudança começou ainda sob o governo de Augusto Franco. Depois da morte do ditador, em 1975, as forças democráticas construíram o Pacto de Moncloa, celebrado entre o governo, os partidos políticos e os sindicatos, que deu impulso às reformas.

Foi o pacto que permitiu duplicar o orçamento da educação pública, entre 1977 e 1980, e registrar na história do país decisões importantes como a dos trabalhadores que abriram mão de receber aumentos salariais para garantir a cota da investimento na instrução no orçamento do Estado. As principais marcas da educação neste país estão na obrigatoriedade do ensino para crianças com idade a partir dos três anos e a valorização dos professores que têm horários reduzidos, mas com dedicação exclusiva.


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