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A saída José Dirceu

O presidente Lula discutiu no início da noite de ontem com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, sua saída do governo como estratégia para superar a crise política depois das denúncias de que havia um mensalão de R$ 30 mil para que deputados votassem com o governo.



Helena Chagas, Gerson Camarotti e Tereza Cruvinel
BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu no início da noite de ontem com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, sua saída do governo como estratégia para superar a crise política depois das denúncias de que havia um mensalão de R$ 30 mil para que deputados votassem com o governo. Também participou da reunião o presidente do PT, José Genoino. Lula deixou para Dirceu a responsabilidade de decidir seu futuro, dentro ou fora do governo.

Depois do encontro, Dirceu discutiu a possibilidade de sua demissão com pessoas de seu grupo político. Sua preocupação era de que sua saída quando está envolvido com denúncias de corrupção enfraqueça o governo.

Na conversa com Lula, Dirceu foi enfático: disse que acabou seu ciclo no governo e reconheceu que o governo precisa se fortalecer politicamente neste momento de crise. Também avaliou que o PT precisa passar por uma reorganização, pois é bombardeado pela oposição.

Durante o dia, Lula analisou com seus auxiliares próximos a saída de Dirceu e a necessidade de uma reforma ministerial. A defesa mais enfática pela permanência de Dirceu partiu do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Ele argumentou que a saída de Dirceu, neste momento, enfraqueceria o Planalto e serviria apenas para fazer o jogo da oposição.

No fim da manhã de ontem, Lula manifestou em reunião na Granja do Torto com os ministros Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação) e Aldo Rebelo a necessidade de respostas imediatas à crise política. Este seria o tema do programa palavra do presidente que vai ao ar hoje de manhã.

Mas, segundo integrantes do governo, Lula ainda estava em dúvida sobre a necessidade de uma mudança só do ministro Dirceu ou de uma reforma ministerial mais ampla. Na conversa, Aldo foi enfático:

- Não tem sentido tirar o Dirceu. Isso é fazer o jogo da oposição. Ele volta para Câmara com que objetivo? Para ficar batendo boca com (o líder do PFL) Rodrigo Maia (RJ)? - perguntou Aldo na conversa.

Aldo Rebelo sai em defesa de Dirceu

Ao sair do Torto, Aldo retomou conversas com líderes peemedebistas. Queria o apoio do PMDB para blindar o governo na crise política. Em telefonemas, Aldo conversou com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com o senador José Sarney (PMDB-AP) e com o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira. Ganhou a garantia de todos de que o governo teria o apoio do PMDB. Em seguida, ele voltou para o Torto e comunicou a Lula de que a blindagem peemedebista estava garantida.

Mesmo assim, a indefinição na Granja do Torto continuou até a chegada do chefe da Casa Civil. Tanto que o presidente Lula acabou adiando para depois da conversa a gravação do programa de rádio "Café com o Presidente". Gushiken temia ter que fazer mudanças de última hora por causa da conversa entre Lula e Dirceu.

De manhã, a linha do programa discutido com Gushiken e com o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, era de fazer um texto em que Lula repetiria o tom dos pronunciamentos recentes. No script do programa, Lula falaria que não teme investigação e que, se for necessário, cortaria na própria carne.



Ontem, líderes da base não escondiam o desconforto com o atual momento. Acham que, mesmo sem provas, as denúncias do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), já provocaram o estrago que tinham de provocar e atingem Dirceu:

- Não temos mais o que fazer. O Lula sim, tem muito o que fazer. É conveniente Lula agir, e rapidamente, para continuar preservado - disse o líder do PSB, Renato Casagrande.

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