- 12 de novembro de 2024
A recente declaração do ex-presidente FHC (1995-2003), tentando humilhar o atual presidente, ao dizer que seu governo parece um "peru bêbado" (todo mundo sabe que Dom Luiz Inácio gosta de se embriagar, mas esse não é seu maior defeito), esconde, na realidade, fundados temores do sociólogo da boca afolozada. Ele está ouvindo algum barulho.
É que pode se dar, a qualquer momento, a instalação da CPI das privatizações (depende apenas do presidente Severino Cavalcanti, PP-PE), apurando a podridão que foi a entrega do setor elétrico pela gestão tucana. Como todos sabem que a atividade política nacional está mergulhada na maior roubalheira e patifaria, salvando-se apenas as exceções de praxe, onde se cutuca um pouquinho aparece coisa cheirando mal.
E nossos dirigentes não atentam para o fato de que estamos chegando a clima de desenlace, no qual todos perderão. Não adianta ficar no mero jogo de palavras, acusando-se mutuamente, porque falta decisão acerca de vários itens pendentes e conversa mole não enche a barriga de ninguém.
Quando a população inteira sair às ruas, cobrando com justa indignação alguma medida para a ladroeira instalada, não irá sobrar pedra sobre pedra. Os exemplos históricos aí estão, mas são poucos os interessados em se mirar. A Bolívia, de população majoritariamente indígena, as ruas estão fervilhando na cobrança da nacionalização dos recursos naturais, doados por salafrários marca FHC e similares.
A Bolívia é rica em petróleo e gás, mas nada disso pertence mais a seu povo. A riqueza foi "privatizada", na utilização dos mesmos argumentos de FHC no Brasil, quando desnacionalizou a nossa economia em cerca de 78%! A Petrobras, que é a maior investidora dentro daquele país, está a serviço de grupos estrangeiros. Nem mesmo o que a Petrobras carrega dos bolivianos serve de algum alento para a população brasileira.
Os brasileiros levam a culpa sem nada a ver. Na gestão tucana, perdemos o controle sobre o petróleo aqui produzido. O antecessor de Dom Luiz Inácio modificou a legislação e nos colocou reféns de empresas dos EUA. Por isso recebeu tantos prêmios como intelectual e comissões gordas por fora que não deixou qualquer CPI apurar. Mas eles sabem que paciência também tem limites.
Ninguém imaginava, há até bem pouco, que a população de um estado como Rondônia pudesse ir às ruas protestar e ameaçar parlamentares estaduais ladrões que ocupam assento na Assembléia Legislativa. Hoje, nenhum deles tem coragem de circular pelas ruas, pois sabe que corre sério risco. São batedores de carteira, mas não são burros (claro que as exceções de praxe devem existir).
As investigações realizadas pelos próprios órgãos infestados de salafrários não dão resultado. É preciso uma CPI que vá a fundo no problema. É indispensável, principalmente, que se punam culpados. O ministro-chefe da CGU (Controladoria Geral da União), Waldir Pires, disse que "o governo nunca agiu de forma tão coesa como nas investigações sobre o suposto esquema de corrupção na ECT - Empresa de Correios e Telégrafos".
Quer que digamos "muito bem, estamos satisfeitos!" Mas no caso do assessor direto do ministro Zé Dirceu (Casa Civil), também foram feitas diligências que acabaram dando em nada. Waldomiro Diniz continua solto, sem punição e a investigação dentro do Palácio do Planalto terminou num mar de ondas serenas. É verdade que Zé Dirceu recolheu a própria carcaça e perdeu a força aparente, mas ninguém foi punido.
No Brasil pode-se roubar o Estado inteiro, mas não uma galinha. Quem for flagrado batendo uma carteira corre o risco de ser submetido às piores torturas nas delegacias e prisões medievais, à sanha de psicopatas anônimos. Mas quem devastar o país inteiro, como FHC, fraudar o fisco e cometer crime de evasão de divisas, como Henrique Meirelles, não sofre nada além de exposição pública. E, muitas vezes, nem isso.
Nossas autoridades deveriam fazer leitura apurada do que acontece nas ruas. Vamos chegando num plano de plena saturação. Os destituídos, saqueados, miseráveis de todas as épocas, gerações e idades também se rebelam. Foi esse povo desinformado, inculto e esfomeado quem escreveu as grandes revoluções da história. Não é possível que se continue a não aprender nada com a história.
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