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Crônica do Aroldo - EMPREGADA PADRÃO

Robertinho em minúscula sunga, latinha de cerveja na mão, sentado espalhafatosamente na poltrona; à sua frente Cecília, enrolada na toalha de banho da patroa, ensaiando passos coreográficos do Garantido(1).


Robertinho foi criado pela avó que sonhava ter um padre na família. Desde cedo era levado à igreja para missas, aulas de catecismo e reuniões das "Filhas de Maria" e da "Cruzada de Jesus". Aos doze anos fez a primeira comunhão e passou a exercer a função de coroinha; aos catorze foi internado em seminário para familiarizar-se com filosofia e teologia. A avó vislumbrava no neto o primeiro papa brasileiro. Nas andanças de catequese, os olhos de Robertinho caíram sobre Bia, moreninha bonita e graciosa. Seu coração disparou, um calafrio correu-lhe a espinha e respondeu na região pubiana; sua "homência" encheu-se de sustança: tesão. Nosso sacristão mudou da água para o vinho: trocou salmos e cânticos por poemas de amor. Imaginem a decepção da avó, dona Florzinha, quando o vigário comunicou-lhe o desapego do coroinha às coisas de Deus. O ex-futuro-padre, para desespero da família, começou um relacionamento frouxo com sua musa que, com o tempo, transformou-se em namoro roxo e, logo, falavam em casamento. Fazer o quê? Não se contrariam as coisas do coração. Robertinho casou-se. Bia trabalhava em três turnos; Robertinho atendia a um só expediente das 8:00 às 14:00. O casal decidiu, então, contratar uma empregada para lavar, passar, limpar e cozinhar; foi assim que Cecília entrou naquela casa e na nossa história. Cecília era cabocla bonita, pele roxa, longos cabelos lisos, sorriso perfeito, corpo escultural com seios fartos, cintura bem feita, bunda redonda e bem servida, pernas grossas e roliças..., enfim, o cão em forma de gente. A presença daquele monumento em casa nunca maculou a confiança que Bia depositava em Robertinho. O tempo passava e a vida corria normal com Cecília desempenhando suas funções de empregada doméstica. A vida tem os seus reveses. Bia, certo dia, voltou em casa no meio da tarde para apanhar uma pasta deixada sobre a mesa de jantar; ao abrir a porta, assustou-se com a cena que viu: a toada de boi de Parintins saía do aparelho de som ligado a todo vapor, Robertinho em minúscula sunga, latinha de cerveja na mão, sentado espalhafatosamente na poltrona; à sua frente Cecília, enrolada na toalha de banho da patroa, ensaiando passos coreográficos do Garantido(1). Bia, no ato, sem discutir o assunto com Roberto, despediu a empregada, quebrou todos os Cd´s com toadas de boi e qualquer música que considerasse "aputanhada", queimou aquela toalha e vendeu o sofá. Daquele dia até hoje é expressamente proibido falar-se em folclore na casa de Bia e Roberto. O terreno que o casal tinha adquirido na Cidade Santa Cecília, a título de investimento, foi vendido bem abaixo do preço de mercado. (1) Garantido - um dos bois que fazem a festa no "bumbódromo" de Parintins, AM.

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