- 20 de agosto de 2025
Robertinho foi criado pela avó que sonhava ter um padre na família. Desde cedo era levado à igreja para missas, aulas de catecismo e reuniões das "Filhas de Maria" e da "Cruzada de Jesus". Aos doze anos fez a primeira comunhão e passou a exercer a função de coroinha; aos catorze foi internado em seminário para familiarizar-se com filosofia e teologia. A avó vislumbrava no neto o primeiro papa brasileiro. Nas andanças de catequese, os olhos de Robertinho caíram sobre Bia, moreninha bonita e graciosa. Seu coração disparou, um calafrio correu-lhe a espinha e respondeu na região pubiana; sua "homência" encheu-se de sustança: tesão. Nosso sacristão mudou da água para o vinho: trocou salmos e cânticos por poemas de amor. Imaginem a decepção da avó, dona Florzinha, quando o vigário comunicou-lhe o desapego do coroinha às coisas de Deus. O ex-futuro-padre, para desespero da família, começou um relacionamento frouxo com sua musa que, com o tempo, transformou-se em namoro roxo e, logo, falavam em casamento. Fazer o quê? Não se contrariam as coisas do coração. Robertinho casou-se. Bia trabalhava em três turnos; Robertinho atendia a um só expediente das 8:00 às 14:00. O casal decidiu, então, contratar uma empregada para lavar, passar, limpar e cozinhar; foi assim que Cecília entrou naquela casa e na nossa história. Cecília era cabocla bonita, pele roxa, longos cabelos lisos, sorriso perfeito, corpo escultural com seios fartos, cintura bem feita, bunda redonda e bem servida, pernas grossas e roliças..., enfim, o cão em forma de gente. A presença daquele monumento em casa nunca maculou a confiança que Bia depositava em Robertinho. O tempo passava e a vida corria normal com Cecília desempenhando suas funções de empregada doméstica. A vida tem os seus reveses. Bia, certo dia, voltou em casa no meio da tarde para apanhar uma pasta deixada sobre a mesa de jantar; ao abrir a porta, assustou-se com a cena que viu: a toada de boi de Parintins saía do aparelho de som ligado a todo vapor, Robertinho em minúscula sunga, latinha de cerveja na mão, sentado espalhafatosamente na poltrona; à sua frente Cecília, enrolada na toalha de banho da patroa, ensaiando passos coreográficos do Garantido(1). Bia, no ato, sem discutir o assunto com Roberto, despediu a empregada, quebrou todos os Cd´s com toadas de boi e qualquer música que considerasse "aputanhada", queimou aquela toalha e vendeu o sofá. Daquele dia até hoje é expressamente proibido falar-se em folclore na casa de Bia e Roberto. O terreno que o casal tinha adquirido na Cidade Santa Cecília, a título de investimento, foi vendido bem abaixo do preço de mercado. (1) Garantido - um dos bois que fazem a festa no "bumbódromo" de Parintins, AM.