00:00:00

Após derrota, Severino acusa Renan de tentar se promover

Um dia depois de sofrer sua primeira grande derrota no comando da Câmara, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) e seus aliados mais próximos dispararam críticas contra o Senado e o seu presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi acusado de tentar se promover politicamente em cima do episódio. "Ele pode precisar disso [imagem de "bonzinho'], eu não preciso", disse Severino.


Um dia depois de sofrer sua primeira grande derrota no comando da Câmara, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) e seus aliados mais próximos dispararam críticas contra o Senado e o seu presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi acusado de tentar se promover politicamente em cima do episódio. "Ele pode precisar disso [imagem de "bonzinho'], eu não preciso", disse Severino, em tom irritado, referindo-se ao naufrágio do seu grande projeto após 17 dias como presidente: reajustar o salário de parlamentares. Pressionado pelos líderes partidários no Senado, Renan se recusou a assinar o ato administrativo defendido por Severino que elevaria com uma canetada o salário dos 594 congressistas em 48,8%, de R$ 12.847 para R$ 19.115. Publicamente, aliados de Severino afirmam que a relação será recomposta, "para o bem do país", mas reservadamente dizem que o clima é de revanche. Severino, ontem, se mostrou decepcionado. "Cada um tem sua maneira de agir. Eu respeito os outros, eu não agiria assim como ele fez", afirmou o presidente da Câmara, que se encontrou ainda na noite de anteontem com Renan em um jantar da bancada alagoana, em Brasília. O senador se defendeu ontem: "Qualquer solução tem que ser encaminhada de comum acordo. Não dá para o Senado empurrar nada goela abaixo da Câmara nem vice-versa", disse, negando tentativa de autopromoção. "Esse é um assunto encerrado porque parece de difícil aprovação, inclusive na Câmara", afirmou, ressalvando que pretende buscar uma convivência harmoniosa com a Câmara. A maior irritação dos deputados se dá porque, segundo eles, a notícia de que o Senado não avalizaria o acordo se deu em entrevista de Renan, que não teria alertado com antecedência Severino. "Trataram a Câmara como o esgoto da política", disse o líder do PP, José Janene (PR). Horas antes da entrevista de Renan, ele havia sido procurado em sua casa por Severino e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim. Os dois queriam assegurar o apoio do Senado para selar o reajuste, mas Renan disse que só daria resposta após consultar senadores. "Foi uma surpresa para a Casa a forma como ele [Renan] reagiu. Ele acabou saindo como o "bonzinho" da história", afirmou Ciro Nogueira (PP-PI), 2º vice-presidente da Câmara. A insatisfação levou os deputados ligados a Severino a cobrar "isonomia" com os senadores, que teriam privilégios em número superior aos da Câmara. "Os deputados vivem em desvantagem enorme. Tudo aqui na Câmara é limitado, vivemos na pindaíba; no Senado, tudo é ilimitado", disse João Caldas (PL-AL), 4º secretário da Câmara. O argumento de Caldas e de outros deputados é que os orçamentos da Câmara e do Senado são quase iguais, apesar de a Câmara ter 513 parlamentares enquanto o Senado tem 81. Por esse raciocínio (orçamento dividido por parlamentar), o custo do congressista para os cofres públicos ficaria cinco vezes mais caro no Senado (R$ 29,9 milhões/ano) do que na Câmara (R$ 4,83 milhões/ ano). Severino buscou o apoio de Renan para o aumento de 48% depois de não conseguir apoio entre os partidos, na Câmara, para bancar um projeto que elevaria em 67% os salários dos congressistas. Ontem, ele confirmou o que já havia anunciado publicamente na véspera. "Está encerrado, não vou mais abordar esse assunto." Não descartou, no entanto, retomar a idéia futuramente: "Não sei, não posso prever o que vai acontecer daqui a um ano, tenho que agir com ponderação. Não posso satisfazer meu ímpeto". "O momento não é de aumentar salário nem verba de gabinete. Respeitamos o servidor público, que teve um reajuste de 0,1%, que não é simbólico, é cínico. Talvez seja cinicamente simbólico", afirmou o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB. Lista triturada A misteriosa lista de deputados federais que assinaram o pedido de regime de urgência para o aumento dos salários dos parlamentares foi triturada, para assegurar que jamais venha a público. "Jogar no lixo era muito arriscado, então foi para o triturador de papel, para garantir que o assunto morreu", disse Ciro Nogueira, responsável por coletar as 257 assinaturas necessárias. Anteontem à noite, após Severino ter desistido do assunto, Ciro começou a receber chamados de parlamentares preocupados pois haviam colocado o nome na lista. Havia então 175 assinaturas. Na presença de três parlamentares, que ele não nomeou, a lista foi colocada em um triturador de papel em seu gabinete. No passado, já houve problemas com listas no Congresso. A mais célebre foi a da cassação do senador Luiz Estevão, em 2000, quando uma lista com os votos dos senadores no painel eletrônico foi feita ilegalmente. Apesar de a lista nunca ter aparecido, houve a suspeita de que a senadora Heloisa Helena, então no PT, teria votado contra a cassação, o que ela sempre negou. (FÁBIO ZANINI, FERNANDA KRAKOVICS E RANIER BRAGON)

Últimas Postagens