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Oraculo

TEORIA DA PASSAGEM III


TEORIA DA PASSAGEM III

Final


JOBIS PODOSAN

Palavras do avô para o seu neto no dia da maioridade

 

Ames a companheira que escolheres para a travessia da vida, mas não a ame acima de tudo. Seja ela o teu verso e o teu anverso, teu lado esquerdo ou teu lado direito, mas não seja ela teus pés nem tua cabeça. Nem a ponhas sob domínio e nem aceites a dominação. Fique ao lado dela e a ponha ao teu lado. Submissão e prepotência são incompatíveis com o amor verdadeiro. Não a humilhes e nem aceites humilhações. Se quiseres partir, parta. Se ela quiser partir, deixe. Resolva pacificamente os problemas da separação, de preferência, dê tudo o que ela quiser e reconstruas do zero, se necessário. A separação é um pouco da morte e quando morremos não levamos nada. Não rogue e nem implore para que ela fique, apenas agradeça o tempo que ela conviveu contigo e rogue a Deus, aí sim, pela felicidade dela. Seja qual for a razão da separação, lembra-te que também destes causa. Não permitas nunca que teu coração nutra ódio por quem ele já amou. O ódio, a ira, a raiva, a inveja são sentimentos incompatíveis com quem tem um coração generoso. Esses sentimentos fazem mal a quem os sente e nunca àqueles contra quem se dirigem. Aliás, nunca odeies a ninguém, se não puderes amar, que seja indiferente. A felicidade conjugal depende fundamentalmente da compreensão e da tolerância. Não há pessoa perfeita e você não pode exigir da tua companheira aquilo que a ela não dás. A paixão aproxima. O amor sedimenta. A amizade eterniza. A paixão dura pouco tempo, o amor dura algum tempo e a amizade perdura todo tempo. Esse ciclo é inevitável e as fases não voltam e nem se interpenetram, só evoluem. A nenhuma delas confundas com sexo. Este existe em todas elas, na conformidade da densidade de cada uma: furacão, durante a paixão; ventania, durante o amor; brisa, durante a amizade. Mas isto não é um mal, é um bem. Porque as fases devem ser compatíveis com as idades: vulcão na juventude, ventania na maturidade e suavidade na velhice. Se, aderindo a modismos, inverteres a ordem da natureza, assumas as consequências.

Escolha os teus amigos entre as pessoas de bem. Deixes que teu coração faça estas escolhas, elegendo a razão por juiz. Não sejas rigoroso com os erros dos teus amigos. Não lhes copie os erros, nem imponha a eles os teus. Os erros deles, são deles; os teus defeitos, são teus. Não permitas nunca que, contigo, falem mal dos teus amigos. A amizade é a forma suprema do amor. Porque nela só há doação. Verás que ao longo da vida terás poucos amigos verdadeiros. Não te deixes enganar, confundindo interesse com amizade. Os interesses também são importantes, mas comportam traições. Afasta-te da bajulação e dos bajuladores, pois este é o reino das falsidades. Mas não te preocupes excessivamente. É assim com todo mundo. Conheças muitas pessoas, as mais que puderes, sede com todos amável e gentil. Se isso evoluir para a amizade, conserve-as, mas não traias os teus amigos. Sejas solidário com a dor. Abrace os seus amigos pelo sucesso que fizerem, mas lembra-te que a amizade se conhece e se revela na dor. Não deixes os teus afazeres para cumprimentar os amigos pelas vitórias deles, eles compreenderão a tua ausência, se a amizade for correspondida. Mas largue tudo para ajudá-los no infortúnio. Quando houver muita gente abraçando teus amigos, afasta-te para cederes lugar aos outros. Mas, quando não houver ninguém com ele, aproxima-te e o aqueces com tua solidariedade, de preferência, em silêncio.

Aceites os filhos que a natureza te der para criar e educar. Cuides deles e lhes passe a noção de honra que recebeste da tua família.

Terás uma vida privada, na qual respeitarás os compromissos assumidos e honrarás a palavra que empenhar. Lembra-te que não vieste à vida para ser servido. Vieste para servir, dando a tua parte, para merecer e receber na medida em que tiveres dado. Não tens nenhum direito que não derive dos teus deveres. A vida privada é a vida das relações de trabalho, de obrigações sociais, dos contratos, do respeito a todos, pelo fato de desejares receber o mesmo tratamento. Terás uma vida íntima, da qual sereis o único árbitro. Reservai tua intimidade para poucas pessoas. Não estejas só, mas também não escolhas multidões para te compartilhar a intimidade. Respeites a intimidade dos outros e não permitas que violem a tua. Vida íntima se leva na intimidade. O que se faz em público é público, assim, se queres ser respeitado, respeita-te antes. Também tenhas em mente que tuas escolhas íntimas não obrigam a ninguém. Assim como não poderá ser obrigado a fazer escolhas que não queiras, não poderá também impor as tuas escolhas a ninguém. O teu direito de querer não afasta o direito dos outros de não aceitar.

Podereis ter uma vida pública. Se optares pela vida pública, lembra-te que serás servidor do povo. Optastes pelo sacerdócio e não pela fortuna. Na vida pública é onde se sublima a qualidade do cidadão. Tua meta é o bem estar do teu povo, da tua gente. Não se visa a fim pessoal na vida pública. O projeto é sempre coletivo. E o povo, lembra-te sempre, tem o direito de ser ingrato se fizeres mil e deixares de fazer um. É que na vida pública conta o que se deixou de fazer. O que se fez, foi apenas a obrigação. Mas o povo é também generoso, sabe reconhecer as pessoas de bem. Percebas a hora de entrar e a hora de sair, não utilizes artifícios para enganar a quem não merece ser enganado e não te juntes à ganância para desgraçar a decência.

No meio da vida começarás a fazer balanços dos teus atos. Haverá vitórias e derrotas. Perceberás que o doce das vitórias pouca experiência deixou, mas do amargo das derrotas edificará o mérito da tua existência.

Se, ao fim da jornada, puderes dizer que cumpriste o teu papel, que combateste o bom combate, que foste bom filho, bom companheiro, bom pai, bom amigo, bom profissional e bom cidadão, estarás pronto para ceder lugar aos que te seguirem, deixando plantada a árvore do exemplo.

Por fim, lembra-te, toda vez que estiveres diante de uma encruzilhada: se meu pai ou meu avô estivesse comigo aqui e agora qual o caminho que me indicaria? Creia-me, recebi esta receita do teu bisavô e livrei-me de muitas tentações que me levariam ao abismo.

Faça hoje um balanço das suas ações praticadas até aqui. Fique com as boas experiências e descarte as más. Perdoa-te a ti mesmo pelos teus erros e aos outros pelos erros por eles cometidos em relação a você.

Procure ser um homem justo, útil e bom.

Cuida-te, meu neto, hoje inicias o teu caminho, que Deus te ajude e faça feliz.

 

 

 

 

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