Oraculo

ATÉ CHEGAR NA CONSCIÊNCIA

JOBIS PODOSAN
 

A IGNORÂNCIA
Nascemos todos ignorantes, sujos, pobres e limitados, segundo a famosa definição de Hobbes. Considerada por Cícero como a maior enfermidade do gênero humano, a ignorância resistirá até o final dos tempos, pois poucas são as pessoas que tentam curar essa enfermidade. Os remédios para vencer a ignorância são a inteligência, o esforço, a ciência,  a humildade e a a consciência. Mais a ignorância tem seus adeptos e também serve a muitos propósitos. Não são poucas as pessoas e organizações que embora não louvem publicamente a ignorância, dela se valem como instrumentos de poder, alguns exaltam, publicamente a própria ignorância e a disfarçam com falso brilhor e enganam a muitas pessoas. A alguns até parece mérito nada saber e alçar-se a pontos de glória. Mas, neste caso, essas pessoas estão usando a ignorância do vaidoso a seu favor, tirando vantagem a suprema burrice do ser humano que é louvar a própria ignorância. Na verdade, todos nós, mais ignoramos do que sabemos, mas a vantagem de se saber alguma coisa é que temos consciência do que não sabemos e não louvamos o não saber, apenas respeitamos a nossa limitação. Nós, individualmente, sabemos pouco, mas coletivamente, sabemos quase tudo. O compartilhamento do saber nos impulsiona em todas as direções, segundo o talento do cada um. Médicos não fazem pontes e engenheiros não precisam saber fazer cirurgias. Cada um faz o que sua fatia de saber lhe permite. Nossa grandeza é a nossa pequenez somada à pequenez do outros, que nos faz, cada um, a necessitar dos outros a todo momento. O problema do ignorante que se imagina sábio é pensar que sabe tudo.

A INTELIGÊNCIA 
Pela inteligência o ser humano é capaz de aprender, compreender as coisas, conhecê-las, sistematizá-las e transmitir esses conhecimentos, resolvendo novos problemas e conflitos e de adaptar-se a novas situações. Não se confunde com o instinto, que também possuímos e que é comum a todos os animais. Nós humanos, além de instintivos, somos também inteligentes, pudemos inventar a roda, o telefone a internet, acumular os conhecimentos na memória, ou depositá-los em memórias auxiliares. Enfim, pela inteligência podemos quase tudo, inclusive mensurar a inteligência de cada humano em particular, diferindo-os em artes e engenhos. Pela inteligência podemos criar coisas novas como foguetes espaciais e descobrir coisas que preexistem a nós, como vírus e bactérias. Individualmente, somos a semelhança de Deus, no conjunto, somos quase Ele e já criamos muito mais coisas do que Ele fez no Gênesis. A inteligência é o nosso bem e o nosso mal, a depender da utilização que dela fazemos. O cume da inteligência é a humildade de saber aprender e saber que sempre sabe pouco.

O ESFORÇO
 Mas, mesmo para os mais inteligentes, o esforço é o motor do desenvolvimento. Poderíamos dizer que a inteligência é o carro, e o esforço é a a força que o impulsiona a correr. Inteligência sem esforço de nada vale, quando muito gera amargura e revolta. O inteligente inerte se torna vítima dos seus desejos e cede às tentações que derrubam as barreiras morais. O esforço não realiza o impossível; mas serve para realizar o milagre de confirmar o que é possível. A finalidade qualifica o esforço, pois direciona a inteligência para o bem. Na prática, dizemos que o inteligente se esforça, porque, caso contrário, não é inteligente. Ser esforçado é a forma mais perfeita de desenvolver a inteligência, enquanto a falta de esforço é o caminho mais curto para matar a inteligência.

CIÊNCIA 
A ciência é um conjunto de conhecimentos que adquirimos pela via da  observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos e fatos, e formulados metódica e racionalmente. Ciência é saber. Se todos os humanos se dedicarem a entender de tudo, não teríamos nunca ciência, mas filosofia. A ciência exige rigor técnico e método científico. Para o Aurélio, a ciência pode ser definida como conhecimento ou saber excessivo conseguido pela prática, raciocínio ou reflexão. Reunião dos saberes organizados obtidos por observação, pesquisa ou pela demonstração de certos acontecimentos, fatos, fenômenos, sendo sistematizados por métodos ou de maneira racional.

A HUMILDADE
Num domingo que já vai longe, estava numa igreja católica repleta de fieis aguardando o Bispo que celebraria  a sacramento da crisma a um grupo de jovens. Marcada a cerimônia para as 09h, o Bispo só chegou à igreja às 12:10h. Chegou esbaforido, visivelmente mal humorado, com a cara enfezada, olhando a todos que o fitavam com ferocidade. Alguns padres o aguardavam no púlpito: um segurava a bíblia, outro a folheava, outro segurava o microfone, todos solícitos. O Bispo, sem dar justificativa alguma, iniciou a cerimônia apressadamente na sua peroração inicial citou o Evangelho de Mat. 18-20: Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles. Eu era Padrinho de um dos jovens que estavam sendo batizados e pensei no meu íntimo: Deus pode estar em qualquer parte, menos aqui. O deus aqui o próprio Bispo. Verdade o que ditava o comportamento do Bispo, não era a humildade, mas o orgulho.
A humildade, não arrogante, não prepotente, não é soberba. A humildade é responsável, é positiva e é benéfica. Ninguém é pior ou melhor do que os outros, estando todos no mesmo nível de dignidade, de cordialidade, respeito, simplicidade e honestidade. O humilde assim o é porque reconhece suas próprias limitações. Quanto mais sábio, mais modesto, porque a sabedoria, o faz entender o quanto ignora. A pessoa modesta não se eleva sobre as demais e minimiza os seus feitos. A palavra humildade está no latim humilitas, que significa “pouca elevação”, ou seja, uma relação com a ideia de modéstia. Ela se revela nos atos e nas palavras, principalmente nos atos. Aquele Bispo, podia dizer ser tudo, mas humilde ele não era. Estava mais para Mefistófeles do que para Jesus. 

CONSCIÊNCIA 
A ignorância, a inteligência, o esforço e a ciência, nada significam para o bem sem a humildade. Mas o seu conjunto, resulta na consciência, que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totalidade de seu mundo interior, o que lhe permite perceber o que é moralmente certo ou errado em atos e motivos individuais. Se a terra tivesse um único homem como habitante, ele poderia viver milhares de anos e não necessitaria de consciência ou moral, porque a consciência é relacional, só existe em relação aos outros. qualquer tipo de consciência que invoquemos (já existe uma listagem de 110 tipos de consciência, entre elas consciência afetiva, consciência amadora, consciência ambiental, consciência bioquímica etc.) elas somente têm sentido se estivermos com o outro em perspectiva e esse outro hoje não se refere apenas aos seres humanos. Temos que avançar para um estado de consciência que nos possibilite viver e conviver com os outros. consciência é o saber  COM CIÊNCIA. Com a consciência transcendemos o conhecimentoe mergulhar na ética e na moral. Sem ele continuaremos, matando, roubando e cometendo todo tipo de tropelias para obter uma vantagenzinha qualquer.