- 19 de novembro de 2024
A VERGONHA ESTÁ MORTA
JOBIS PODOSAN
DEUS ESTÁ MORTO
Em sua obra principal, intitulada ASSIM FALOU ZARATUSTRA, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), deu popularidade à expressão alemã "Gott ist tot", que significa DEUS ESTÁ MORTO. E explica: “Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste ato não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu ato mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste ato, de uma história superior a toda a história até hoje”! Muita gente esclarecida de hoje dá força a essa expressão, chegando algumas pessoas de alto gabarito intelectual, como o historiador israelense Yuval Noah Harari, a afirmar que a biotecnologia, a tecnologia da informação, os algoritmos e o Big Data, provam, de maneira irrefutável, que Deus não só está morto, como também jamais existiu, sendo somente uma invenção nossa para explicar o que não podíamos e nem podemos entender.
A VERGONHA ESTÁ MORTA
Aqui no Brasil, ao que parece, foi a vergonha que morreu. Ela já existiu, mas hoje ninguém tem mais vergonha de nada. Tudo pode ser feito. Exemplos de nada mais servem. As lições de Rui Barbosa viraram quimeras.
“A espada não é a ordem, mas a opressão; não é a tranquilidade, mas o terror, não é a disciplina, mas a anarquia não é a moralidade, mas a corrupção, não é a economia mas a bancarrota.”
“As leis são um freio para os crimes públicos e a religião para os crimes secretos.”
“Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado!”
“A força do direito deve superar o direito da força.”
“Não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem.”
“Não é a terra que constitui a riqueza das nações, e ninguém se convence de que a educação não tem preço.”
“A mais triste das vidas e a mais triste das mortes são a vida e a morte do homem que não tem coragem de morrer pelo bem, quando por ele não possa viver.”
“A regra da igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade... Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.”
“[... ] a esperança nos juízes é a última esperança. Ela estará perdida, quando os juízes já nos não escudarem dos golpes do Governo. E, logo que o povo a perder, cada um de nós será legitimamente executor das próprias sentenças, e a anarquia zombará da vontade dos presidentes como o vento do argueiro que arrebata.”
“A luz é a grande inimiga dos crimes. Na publicidade refulge a luz. A imprensa é a publicidade. Com a imprensa não se podem acomodar, pois, os governos de sangue e força, arbítrio e corrupção, mistério e mentira.“
Esse grande baiano, também chamado “Águia de Haia”, cognome que lhe foi dado pelo Barão do Rio Branco que era o Ministro das Relações Exteriores na época da 2ª Conferência Internacional da Paz em 1907, teria hoje, com certeza grande vergonha do que vem acontecendo no seu país, embora desde a sua época já reclamasse do triunfo das nulidade e do prosperar da desonra. Vivesse hoje e fosse Senador da República, como por muitos anos foi, certamente preferiria morrer, embora tenha errado na conclusão da sua mais famosa frase, ao dizer que o brasileiro teria vergonha de ser honesto. Descemos a ladeira da vergonha e a deixamos seus vestígios lá no passado: perdemos a vergonha de sermos desonestos. O mais honesto hoje é o que responde a menos processos. Foi o que vimos na eleição recente para a Presidência do Senado. Ganhou o que só tem dois inquéritos criminais tramitando no STF?!
O CONDADO EM UTOPIA
A partir de 1988, com uma Constituição que tudo permite para o mal e tudo proíbe para o bem, construímos um sistema de proteção a criminosos sem precedentes e sem semelhanças com outros sistemas jurídicos mundo afora. Os crimes estão em toda parte, as penas são ridículas e, ainda assim, há uma série tão grande de facilidades para que o condenado não fique preso, que ficar preso no Brasil é uma coisa extraordinária, exceto, pasme-se! se a prisão for sem condenação! Criamos um condado em Utopia! Tão bom que um italiano condenado a prisão perpétua em seu país, por crime comum, quase morre de velho no Brasil devido a nossa opção pelos criminosos. A vida honesta vale pouco. Os caminhos do crime são tão variados e atraentes que os brasileiros honrados, para assim permanecerem estão optando por religiões cristãs, fora da maior religião tradicional do país. Pela lei brasileira atual, há como que o direito de matar um. Basta que o assassino seja primário de bons antecedentes e não ser preso em flagrante. Não irá para a prisão e se, por milagre, for, cumprirá um tempo mínimo cercado de proteções por todos os lados. No momento do crime, o criminoso recebe o repúdio da sociedade, mas quando o sistema punitivo vai encarcerá-lo, ele vira vítima e a sociedade o aplaude. Chegamos ao ápice agora, que temos um Senador cumprindo pena no Senado Federal e vai legislar sobre a reforma penal!
O Cão, no seu inferno, está pretendendo vir morar no Brasil, onde será ídolo disputado por várias correntes de poder.
Porém, com a morte da vergonha, é bem possível que já esteja aqui, disfarçado de líder democrático, comandando o baixo clero e fazendo triunfar mais e mais nulidades.
Talvez precisemos ressuscitar Deus para restaurar a vergonha.