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Oraculo

DE(S)GRAÇA


DE(S)GRAÇA


JOBIS PODOSAN

 

A ERA DOS DIREITOS

Criou-se país afora um verdadeiro fascínio pela palavra grátis e seus semelhantes “de graça” e “gratuito” e montou-se toda uma parafernália para iludir incautos e gananciosos, atraídos por ofertas miseráveis que nada acrescentam às suas vidas senão mais misérias, desolações, queixas e sentimentos de injustiça. O Estado brasileiro tornou uma fábrica de programas sociais que distribuem pequenas guloseimas para gente que pode trabalhar e produzir o seu próprio sustento. Criou-se na verdade a ideia de direito sem os correspondentes deveres. Já Noberto Bobbio advertia que estamos vivendo a Era dos Direitos, na qual se reivindicam obrigações sem contrapartida do pretenso titular dos direitos. Um estudo do Centro de Pesquisas Pew aponta, por exemplo, que a maioria dos americanos de classe média e alta concorda com a ideia de que "os pobres hoje vivem situação mais fácil porque podem receber benefícios do governo sem fazer nada em troca".

 

A LUTA PELOS DIREITOS

É clássica a ideia que o direito suceda à luta, não há direito sem obrigações. Primeiro se cumpre a obrigação para, a partir dela, nascerem os direitos. Isto é perceptível nas relações de trabalho ou de locação. Quem trabalha, tem direito de receber a contrapartida de salário. Quem aluga uma casa ou um carro tem direito a receber os aluguéis combinados. A obtenção de direitos sem obrigações não deve ser estendido para todas as pessoas, mas apenas àquelas que estejam em situação de vulnerabilidade e que não possam prover a própria subsistência ou tê-la provida pelos seus familiares, como idosos, crianças e enfermos incapacitados de trabalhar. Portanto, a concessão de direitos deve ser limitada e não estendida a todos, afinal o Estado não produz renda e sim os cidadãos e, para formar o patrimônio público, todos devem da a sua parcela de contribuição. Os que não podem produzir recebem ajuda em nome da sua dignidade de pessoa humana. Mas, para os capazes de trabalhar, a dignidade reside justamente em...trabalhar.

 

ENSINAR A PESCAR

Todavia, o estado tem de estar atento para a geração de oportunidades e trabalhar a igualdade nesse sentido. Entenda-se por igualdade não o mesmo tratamento pera todos, afinal somos todos diferentes. Por que o Prêmio Nobel não é concedido por sorteio? Por que alguns jogadores de futebol podem ganhar sozinhos por mês o que os Ministros do STF, todos juntos, não ganham em um ano? Por que nenhum filme brasileiro hoje ganhou o Oscar? Porque os concursos públicos não são feitos por sorteio? Por que para os mais belos a ascensão parece mais fácil? Por que somente os mais fortes devem ganhar as lutas? As respostas para todas essas indagações, ou mil outras similares que podem ser feitas, é uma só: os melhores são desiguais e, por isto, são reconhecidos e avaliados para cima. Não é a igualdade que faz a diferença é a desigualdade. Por isto é que os governos devem estimular os que se desigualam e se destacam nas suas atividades. Sejam desportivas, sejam científicas, sejam sociais, sejam artísticas ou de qualquer outra natureza.

 

O PAPEL DE CADA UM

Cabe a cada um identificar o caminho e percorrer, buscando ser o melhor, tornando-se desigual dos que ficaram para trás. Isto é tão óbvio que é quase um lugar comum. Qual o pai que comemora o fato de que seu filho ser o último colocado na escola? Ele gostaria que seu filho fosse desigual, mas para cima. A expressão “não quer nada” é aplicável a quem estagna na vida e não procura um lugar ao sol. Programas sociais que tentam apenas alargar o curral eleitoral para caber mais bois, formam uma nação de idiotas, que não vão além dos instintos naturais. Os programas sociais são positivos quando ajudam o que quer alguma coisa a por o pé na escada. A subida é por conta de cada um. Na minha experiência de vida observei que em qualquer segmento, estamento  ou profissão, existem sempre três agrupamentos distintos: 1) o primeiro é formado pelas pessoas úteis, que são aquelas que não precisam ser conduzidas, mandadas ou fiscalizadas. São capazes de identificar os problemas e resolvê-los. Não olham para o lado quando o problema aparece. Encaram o problema e encontram dentro dele a solução; 2) o segundo grupo é de pessoas utilizáveis, que são aquelas que esperam a ordem para poder cumpri-la. Veem o início do incêndio, mas espera que alguém dê a ordem para pegar o extintor e apagá-lo. Têm na ponta da língua alguns mantras: eu “só cumpro ordem”, “estou aqui chefe, sempre à disposição”, “ordem dada ordem executada”. São pessoas aproveitáveis, que ajudam as organizações a que servem, mas não levam ao sucesso, porque limitadas pela mente sem criatividade, mas atuam mediante comando, só não se lhes deve dar atividades de mando; 3) o terceiro grupo são os nocivos, não sabem nem mandar e nem obedecer, quando recebem uma missão não sabem por onde começar e nunca terminam com proveito a missão que receberam, só são bons mesmo em fazer intriga, criticar o trabalho alheio e reivindicar direitos, são um contrapeso duro de engolir. No serviço público, enxameiam protegidos pela estabilidade.

São adeptos e fanáticos por quem dá as coisas de graça, igualando desiguais que se desigualam pela qualidade do trabalho, mas, na partilha das vantagens, os nocivos recebem mais do que os outros, uma vez que produzem menos ou nada. A mediocridade luta pela igualdade, isto é, quer pegar carona no trabalho e produção alheios.

É ai que o de graça vira de(s)graça para quem desprezou a luta em troca de migalhas governamentais.

 

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