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Oraculo

AS PEDRAS NO CAMINHO


AS PEDRAS NO CAMINHO
 

JOBIS PODOSAN

 

            A ESCOLHA DO CAMINHO

Quando você escolher um caminho, não deve fraquejar ante as dificuldades que ele apresente. As pedras no caminho são parte da caminhada. São elas que formatam a vitória. Não havendo pedras no caminho, a caminhada não valeu a pena. As pedras são os obstáculos, os erros, as avaliações precipitadas, as desconfianças generalizadas, a descrença em tudo e em todos, a superestimação das próprias qualidades, a subestimação das virtudes dos outros, a visão apequenada dos outros, a visão onírica do seu egos, enfim, são tantas as pedras que não há vivente terreno que nelas alguma vez não tropece. A boa notícia é que quanto mais tropeços, mais experiência se adquire, pois as pedras nada mais são que as grandes mestras da vida. A vitória se goza e com os erros se aprende. É sempre bom que haja pedras no meio de caminho, como nos disse o poeta.

 

É PRECISO MUDAR

Inicia-se no Brasil um novo governo, pleno de boas intenções, como todo governo que inicia. Cada ministro tem soluções definitivas para os problemas das suas respectivas áreas. Tudo que se fez antes ou está errado ou mal feito. Todos estão esboçando as soluções que transformarão a realidade nacional em felicidade geral. Estranha-se como é que as pessoas passaram pelo governo deste país maravilhoso e não conseguiram ver o que salta aos olhos? Quedam perplexos os novos faroleiros da República. Ainda nada se fez e os defensores anunciam as bem-aventuranças! Nenhuma lei foi feita ou mudada, a Constituição permanece a mesma, as medidas anunciadas só tem um lado: o que arruma, ajeita e resolve. Ninguém perdeu nada de concreto, ainda. Quando começarem os apertos e as perdas, os perdedores enfrentarão as medidas politicamente ou judicialmente, para que tudo mude – todos são a favor de mudanças- desde que a situação de cada um continue a mesma ou melhore.

 

A REVOLTA DOS FATOS

Os fatos são teimosos, quanto mais tentamos mudá-los mais eles resistem em continuar os mesmos indiferentes às nossas boas intenções. Vamos reformar a previdência? Vamos claro, é fácil mudar a previdência. Tanto é que tanto Fernando Henrique (EC n° 20) quanto Lula (EC nº 41 e 43), fizeram as suas reformas, mas os fatos continuaram a empurrar a previdência para o buraco. Quanto mais radical a mudança, menos mudará na realidade, mesmo com o discurso de catástrofe do governo. As pessoas preferem o mal conhecido do que a felicidade esboçada em palavras, até porque os governos perdem credibilidade depois que começam a tentar mudar as leis. Ainda tem a questão do que não se pode mudar, pois muita coisa não pode ser mudada para quem já está no sistema.

 

 

O DISCURSO E A PRÁTICA

A administração pública está sujeita ao princípio da legalidade. Segundo esse princípio, só é dado à administração agir segundo a fórmula da lei. Sem autorização, está negada a possibilidade. Enquanto aos particulares é dado o direito de fazerem tudo o que a lei não proíbe, ao poder público veda-se tudo o que a lei não autoriza expressamente. Procedimentos paralelos são sempre ilegais e podem permitir suspeitas de atuação irregular em benefício de pessoas determinadas. Todas as práticas negativas num governo novo geram desconfianças que são multiplicadas pela mídia, porque desmentem as campanhas. Relações de afeto e relações de legalidade geralmente não se encontram no mundo jurídico, se repelem. Quanto mais afeto menos legalidade. Toda relação de afeto se torna suspeita, porque o afeto esbofeteia a legalidade. O Presidente sofrerá com a parentada sua e de seus ministros. O Presidente recebeu a autoridade diretamente do povo, mas essa autoridade, quando emana para parentes começa e gerar necessidade de explicações e tais explicações só convencem a própria parentada. Talvez seja bom que o Presidente leia o Livro 11 do Espírito das Leis de Montesquieu, com destaque para a esse pensamento: “é uma experiência eterna que todo aquele que detém o poder tende a abusar dele. Por isto é necessário que as coisas sejam dispostas de tal forma que o poder detenha o próprio poder”. Sem falar de outra experiência também eterna: pior do que o mal do poder de quem efetivamente o detém é o poder de quem pensa que tem. O que está errado nos outros, está errado também na gente.

 

A TOLERÂNCIA

Quanto mais o tempo avançar e mais mudanças foram propostas mais e mais os novos dirigentes perderão legitimidade, devido aos erros que vão inevitavelmente cometer. Num governo repleto de militares, a hierarquia vai descer. Até agora prevalecem os generais, mas o poder vai descer e chegar aos escalões menores, como vimos acontecer recentemente. É necessário que haja vigilância constante contra esse desparrame hierárquico. Os governos sindicais que vivenciamos recentemente nos mostrou que governos não são ambiente adequado para classes de profissionais. Ele deve ser plural, como, aliás, manda a Constituição no seu artigo primeiro, como um dos fundamentos da República: o pluralismo político. Da parte do povo cabe a tolerância com o novo governo, sem endeusar e sem demonizar, apenas observar criticamente, afinal, somos parte do problema e parte da solução, pois fomos nós que o pusemos lá, tendo votado contra ou a favor do vencedor, e somos responsáveis pela sua eleição.

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