- 19 de novembro de 2024
A FACE BANDIDA
JOBIS PODOSAN
FAZER ESCOLHAS
A vida é fazer escolhas. A cada momento estamos diante delas, a propósito de tudo e de nada. Vamos decidindo e vivendo. Decidimos fazer, não fazer, nada fazer, deixar acontecer, esperar pelos outros, culpar os outros pelo que de negativo nos acontece, tudo isto é escolher. Por trás de cada escolha estão as consequências que, pretendidas ou não, sempre acorrem. Não há como escapar deles. O imprevidente pratica os atos, cujas consequências sabe que podem advir, mas minimiza os seus efeitos ou acha que com ele não ocorrerá. O imprudente pratica mil atos e esquece das consequências, até que elas se apresentam. O excessivamente paciente espera até que a decisão se torne inútil, por passada a oportunidade, e o diligente age em hora e lugar adequados, faz o esforço necessário, calcula os efeitos e aplica os antídotos contra as consequências indesejadas.
Porém, mesmo os diligentes, tomam decisões equivocadas em razão de sua natureza humana. Todos erram, uns menos outros mais. É o balanço da vida que caracteriza e identifica os vencedores.
A TRIPLA VIA
Grosso modo, há uma tripla via que orienta todas as demais decisões: a da lei, a da ilegalidade e o fio da navalha.
A VIDA DENTRO DA LEI
No Brasil de hoje, a via da vida dentro da lei é a mais dificultosa, exigindo do cidadão mais que o esforço ordinário do homem honesto, porque foi incrustrado na nossa mente que viver honesta e decentemente, é coisa de gente estúpida. A decência virou defeito que impede o progresso dentro da sociedade, porque em derredor enxameia a esperteza. Enquanto não consertarmos isto, tudo o mais é discuto, conversa fiada. Na verdade, viver em sociedade é cumprir a lei. A presença do outro nos compele a estabelecer regras e a cumpri-las, como aconteceu com Robinson Crusoé quando não estava mais sozinho na ilha. A presença do nativo Sexta-Feira limitou a liberdade absoluta do náufrago que se pensava solitário na ilha. Porém, se de um lado limitou, a presença e os esforços do outros, somados aos seus, facilitou a vida de ambos. Uma sociedade, pois.
A VIDA FORA DA LEI
A vida fora da lei traz o imediato encanto do dinheiro farto, a justificar o brilho em certas rodas que confundem qualidade de vida com possuir dinheiro, em função de este comprar poder, coisas, amizades falsas e até consciências. Esta opção traz junto dela a prisão constante, os processos múltiplos, a vida nas sombras e a rejeição social. A fazem os que optam pelo crime como profissão. É caminho único, é opção por convicção, não adiantam institutos de ressocialização ou fins sociais da pena, porque eles tornaram o crime a sua razão de vida. Sequer a morte os amedronta. Continuam, de dentro das prisões, controlando as suas atividades criminosos, valendo-se para isto dos institutos de execução penal que são pensados para pessoas que cometem crimes acidentais e que visam a obter suas regenerações e reinserções na vida social. A lei de execução está repleta deles: visita em geral, reduções de pena, trabalho voluntário, saídas temporárias, prisão domiciliar etc. A doutrina penal da ressocialização esbarra neste tipo de criminoso, resultando perplexa com a faltas de resultados, por mais que que os envolvidos no sistema se esforcem. É porque só muda quem quer mudar, quem se acha confortável na sua situação de vida, como Capone e Escobar, não mudam porque a freira quer ou a psicóloga quer. Se se quiser obter algum sucesso na ressocialização dos que praticam crime é preciso distinguir entre os o cometem por episódio da vida e os que tornam o crime profissão. Misturados, os maus viciam os bons.
O FIO DA NAVALHA
As duas opções anteriores são perfeitamente definidas e raramente há conversões.
A terceira opção é a mais terrível, porque o individuo quer as vantagens dos dois lados sem as suas desvantagens. Então ele fica com um pé dentro da lei e outro fora. Vive no fio da navalha. Tem admiradores entre os decentes, porque têm vida boa, confortável, ajuda pessoas, distribui benesses, conquistam incautos, enfim, parecem ser gente boa. Todavia, há um circulo íntimo que o conhece e sabe que os recursos que obtêm tem origem ilícita. Estes, com o tempo, se tornam delatores ou no mínimo testemunhas assombradas. Há uma infinidade deles por aí, todos jurando inocência e até convencendo algumas pessoas, acusando a imprensa, o Ministério Público e a Magistratura de perseguição. Quem vive no fio da navalha é meio honesto e meio bandido. No começo, prevalece a versão honesta de pessoa bem sucedida, mas depois, como o mundo não tem só gente boba, a desconfiança vai crescendo até que a face bandida se revela e santo cai do andor.
Esse indivíduo é sórdido. É duplamente covarde: a) Não teve coragem de enfrentar as limitações de ser honesto, de respeitar os outros, de ganhar a vida suando e até chorando, de conseguir as coisas com esforço e sem tomar nada de ninguém; b) também não teve coragem de botar o peito na mira da polícia e assumir a sua face bandida. Quer as facilidades econômicas do crime e os frutos doces do reconhecimento que advêm da honestidade. É somente uma porcaria de pessoa. Pode se manter por longo tempo no fio da navalha, mas um dia chega a campainha toca as seis da manhã e não é o leiteiro.
Das três, esta é a opção feita pelos bandidos mais perigosos. É nela que os órgãos de combate ao crime devem concentrar seus esforços.
QUANDO A CASA CAI
Quem faz esta opção é apenas um sujeito que se pensa sabido, que gosta de parecer o que não é, mas gosta das facilidades do mundo do crime.
Normalmente prejudica a família e a corrompe. Muitos, talvez com algum antepassado nipônico, praticam o haraquiri ou se recolhem a definhar de vergonha (aqui no Brasil é coisa rara), pois os meios decentes agora o repudiam, acabou a fase de sorrisos largos e tapinhas nas costas. Mas, se o filósofo grego Diógenes, chegasse ao Brasil de hoje com sua famosa lanterna à procura de uma pessoa decente, certamente ficaria na terrível dúvida sobre os políticos brasileiros. Algum deve haver por aí, mas difícil de identificar. Até arrependidos são raros. Nunca se viu um mea culpa. Alguém delatar a si mesmo (e não aos outros para obter redução de pena) e assumir as responsabilidades pelos atos praticados, limpando a sujeira da sua consciência. Não têm pejo de fazer coisas indignas, mas cadê a coragem de assumir os seus malfeitos? Continuam a praticar condutas desonrosas mesmo sabendo que a policia está atenta, mas cadê hombridade de assumir que erraram.
Façam o jogo senhores!
Alguém vai puxar a fita!