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Oraculo

A PESSOA DE BEM


A PESSOA DE BEM
 

JOBIS PODOSAN
 

            Acabaram-se os inocentes. O simples fato de uma pessoa se dizer inocente, já basta para levantarem-se suspeitas sobre ela. O elegante é dizer que está sob o abrigo da presunção de inocência e aí disputar eleições, fazer concurso público, escrever livros sobre ética e acusar todo mundo de culpado.

O STF está julgando uma ação onde se questiona se réu pode substituir o Presidente da República nos seus impedimentos e, ao mesmo tempo, se discute se um condenado em duas instâncias pode ser candidato!

O barulho é grande.

Chegar-se-á à conclusão, em breve, que há dois tipos de cidadãos imprestáveis: os inocentes e os que tenham contra si sentença criminal transitada em julgado. Estes porque depois de esperar longos 15, 20 anos foi incompetente a ponto de conseguir contra si uma condenação transitada em julgado! Aqueles porque são fakes citizen, cidadãos falsos, que conseguem enganar seus amigos e vizinhos posando de reserva moral, quando todo mundo sabe que a moral não existe mais. O bom cidadão é aquele que foi acusado e foi absolvido por falta de provas, por prescrição, corrupção judicial, por erro processual, que têm um atestado de inocência depois da fase de presunção de inocência.

Fora os inocentes, fora os culpados!

O homem de bem, figura encontradiça no Brasil lá pelos anos 70, cuja palavra valia um brilhante e o fio do bigode uma garantia que ninguém punha em dúvida, está correndo perigo de extinção. E quem é ele?  Ei-lo, no Livro dos Espíritos:

“O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza. Interroga a sua consciência sobre os próprios atos, pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez todo o bem que podia, se não deixou escapar voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem do que se queixar dele, enfim, se fez aos outros aquilo que queria que os outros fizessem por ele.

Tem fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria; sabe que nada acontece sem a sua permissão, e submete-se em todas as coisas à sua vontade.

Tem fé no futuro, e por isso coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções, são provas ou expiações, e as aceita sem murmurar.

O homem possuído pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperar recompensa, paga o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre o seu interesse à justiça.

Encontra usa satisfação nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas venturas que promove, nas lágrimas que faz secar, nas consolações que leva aos aflitos. Seu primeiro impulso é o de pensar nos outros, antes que em si mesmo, de tratar dos interesses dos outros, antes que dos seus. O egoísta, ao contrário, calcula os proveitos e as perdas de cada ação generosa.

É bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos os homens como irmãos.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras, e não lança o anátema aos que não pensam como ele.

Em todas as circunstâncias, a caridade é o seu guia. Considera que aquele que prejudica os outros com palavras maldosas, que fere a suscetibilidade alheia com o seu orgulho e o seu desdém, que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever do amor ao próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não tem ódio nem rancor, nem desejos de vingança. A exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas, e não se lembra senão dos benefícios. Porque sabe que será perdoado, conforme houver perdoado.

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência, e se lembra destas palavras do Cristo: “Aquele que está sem pecado atire a primeira pedra”.

Não se compraz em procurar os defeitos dos outros, nem a pô-los em evidência. Se a necessidade o obriga a isso, procura sempre o bem que pode atenuar o mal.

Estuda as suas próprias imperfeições, e trabalha sem cessar em combatê-las. Todos os seus esforços tendem a permitir-lhe dizer, amanhã, que traz em si alguma coisa melhor do que na véspera.

Não tenta fazer valer o seu espírito, nem os seus talentos, às expensas dos outros. Pelo contrário, aproveita todas as ocasiões para fazer ressaltar a vantagens dos outros.

Não se envaidece em nada com a sua sorte, nem com os seus predicados pessoais, porque sabe que tudo quanto lhe foi dado pode ser retirado.

Usa mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe tratar-se de um depósito, do qual deverá prestar contas, e que o emprego mais prejudicial para si mesmo, que poderá lhes dar, é pô-los a serviço da satisfação de suas paixões”.

Com estas vestes morais (aos imorais parece veste de tolo), já pensaram no que nossos políticos poderiam fazer pelo nosso país? Todos os candidatos nas eleições vindouras têm a dar, os mais ricos e os mais pobres financeiramente, porque verdadeira riqueza não é medida em dinheiro, mas numa moeda única, universal, chamada fazer o bem.

É a moeda que provê o homem ou mulher de bem da inesgotável colheita da bondade e do respeito. Também nós que vamos votar e eleger, devemos agir como pessoas de bem. Criou-se no país um verdadeiro fascínio pela palavra grátis e seus derivados — de graça, gratuito e toda uma parafernália para dar coisas em troca de votos — para atrair incautos cobiçosos de miséria que lhes solapa a dignidade. Ouçamos os candidatos com os olhos da misericórdia e tenhamos compaixão daqueles mentirosos que nos acenam com flores de sepulcro, que pretende comprar a nossa honra, sem meditarem na sua consciência sobre o mal que fazem a si mesmos. O Presidente que elegeremos, nada mais é que um de nós, que investimos na função de síndico para governar o condomínio no nosso interesse e não no dele.

Os que entram na a vida pública visando a sua própria algibeira, não a enche dos tesouros que imagina, mas sangra sua momentânea passagem pela terra, criando dívidas difíceis de resgatar e retardando o seu caminho em busca da perfeição.

No momento da ação é difícil identificar quem é o tolo. Este é o momento do riso dos pretensos sabidos. Com o tempo, quando o ouro vira cobre, aparecem algemas, tornozeleira, prisão preventiva, prisão temporária, prisão domiciliar, habeas corpus, presunção de inocência, processo, condenação, devolução de valores, cadeia, desbarate da família e quejandos, revelando à luz quem é o tolo.

À pessoa de bem, todas estas palavras são vazias. São palavras para gente sabida.

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