00:00:00

Oraculo

COMPETENCIA DE DIZER


COMPETÊNCIA DE DIZER


JOBIS PODOSAN


Como saber se uma pessoa é competente ou não para realizar certas tarefas? Há os que
ensinam bem o que não sabem fazer. Há os que sabem fazer, mas não sabem ensinar. Há os que podem, mas não querem fazer. Há os que aprenderam fazendo, cujo saber é sempre limitado, pois descarta o saber acumulado. Há os que aprenderam ouvindo, sendo capazes de dissertar teoricamente sobre o tema que apenas estudou, mas se quedam perplexos na hora que a coisa a fazer está sob sua responsabilidade. Há os que sabem fazer o que é da atribuição dos outros. Há o que não sabem fazer e nem ensinar, mas se acham capazes de tudo, entendendo que o fato de nada saber justifica o que de errado fizerem. Há os que sabem fazer, e assumem as consequências do seu fazer. E há aqueles que imaginam que ser competente é gritar mais alto.

É tempo de campanha eleitoral e todos os candidatos (ou quase todos, condescendamos!) se apresentam como capazes de fazer tudo. Têm recursos abundantes na bolsa pública e em suas bocas para tudo resolverem. Não distinguem entre as atribuições do Presidente e as atribuições dos outros poderes. Enfim, todos sabem que estão falando tolices ao prometer rios de leite e ribanceiras de cuscuz para todos. Mas porque o fazem? Por que neste mundo tem bobo para tudo e essa crença histórica de ser o eleitor um bobo, pronto para acreditar em tudo que se lhe diga, alimenta o estelionatário que existe em nós brasileiros (alguns). Ao votar de olho numa vantagem que pensa que vai obter, o eleitor aguça tudo que nossos políticos tem de pior e que infelicita o Brasil, até porque algum desses sabidórios, quem sabe, uma vez eleito, preso pelas promessas feitas, repetida e cobrada nos meios de comunicação, vai tentar fazer o que disse? O desastre se evidencia, porque ele vai perceber que Presidente, mesmo no nosso presidencialismo imperial, pode pouco sozinho e, aí então, vai se ajoelhar perante os parlamentares para pedir governabilidade. É nesse momento de coalizão de interesses que os cofres e os sorrisos gananciosos se abrem e a decência desce a rampa rumo ao lamaçal.

Quando prometem na campanha, os candidatos estão exercendo a competência de dizer. Eles mandam suas assessorias especializadas em enganação pesquisar o que podem oferecer que desperte a gula do eleitor de votar em seu nome, esperando a vantagem prometida. Agem ,como acima se disse, tal estelionatários — com o olho da ambição arregalado — que não teriam sucesso se dissessem a verdade a suas vítimas (eleitores bobos). Aproveitam-se do nosso desejo compulsivo de levar vantagem em tudo e oferecem exatamente o que esses sedentos de vantagem querem. Um promete ajudar os endividados a limparem seus nomes dos cadastros negativos, incorporando de Santa Edwiges, sob o nome de Santa Edwiges “Gomes” e orando:

“Santa Edwiges (Gomes), socorrei-nos em nossas necessidades. Por amor a Jesus Crucificado, fazei vossas, minhas aflições e minhas angústias, apressai-vos em socorrer-me. Santa Edwiges (Gomes), por vossa santa vida, por vossa santa morte fazei vossas, minhas aflições e minhas angústias, apressai-vos em socorrer-me. Amém”.

O candidato preso promete restaurar a felicidade dos pobres que voltarão a comer, a viajar de avião, a ter casa própria e a “fazer uma faculdade”, com seus filhos gordos e risonhos comendo três refeições por dia, além de o títere (o poste) anunciar que haverá isenção de imposto de renda para quem ganha até 05 salários mínimos. Prometerão vísceras para quem precisa de transplante, remédio gratuito (e ineficaz) para diabéticos, saúde, educação, segurança, emprego de “carteira assinada” para todos, água para quem tem sede (os nordestinos estão cansados de ouvir isto, mas não se emendam), marido para as solteiras, mulher para tímidos. Cada anúncio desses revela a irresponsabilidade dos candidatos
que fazem tais promessas, cujos custos não mencionam. O risco é que os bobos acordem já durante a campanha, pois a informação, mesmo deformada, está chegando aos lares mais pobres e aos mais incultos nesses aparelhinhos danados chamados celulares. 

Tudo isto é competência de dizer. Os ases publicitários da campanha vão vestir os candidatos de cavaleiros andantes, as vozes ficarão ciciantes ao falar de si mesmos e acusatórias, quando falar dos outros, provarão de A a Z que são as “almas mais honestas deste pais”. Perdem ou jogam às favas os escrúpulos de olhos da ambição virados para a Presidência, a formosa e desejada Dulcinéia que, conquistada, amenizará as dores da consciência.

A propósito, recordo o caso do professor catedrático de obstetrícia da Faculdade de Medicina, sumidade por todos reconhecida, que, quando do parto da neta com eclampsia mandou às presas chamar um bisonho ex-aluno numa maternidade de bairro para companha o parto dela.

— Mas Professor, esse médico nem era um bom aluno da faculdade.
— sei, sei.
— E por que o senhor vai entregar a sua neta a um profissional quase parteiro, sendo o senhor a maior autoridade no assunto?
— É simples. Eu tenho competência de dizer, de ensinar na sala de aula. Mas ele tem a competência de fazer, sei que já acompanhou mais de mil casos de eclampsia e nunca deu complicação alguma. Se invertermos esta equação minha neta correrá perigo. É melhor eu ficar na sala ensinando e ele na maternidade fazendo.

Também na política assim é, ou deveria ser.

Últimas Postagens