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Oraculo

A corrida presidencial


A corrida presidencial

JOBIS PODOSAN
 
            Quem será o próximo Presidente da República? Em primeiro lugar, tomara que não seja outro vice. Os vice-presidentes no Brasil estão se tornado presidentes com muita frequência e isto não é uma boa solução para o país. Presidentes devem governar para cumprir sua missão edificante ou suportar o seu calvário. O atual presidente, que era vice, não conseguiu adquirir a legitimidade necessária para governar e a presidência está vaga, ocupada por um zumbi.
Vamos brincar com as palavras. Primeiro, relembrando uma fábula de todos conhecida. Entre as fábulas de Esopo, há uma – O COELHO E A TARTARUGA – que parece uma corrida presidencial. Revejamo-la:
Certo dia um Coelho zombou das pernas curtas e do passo lento da Tartaruga, que respondeu, sorrindo:
- Embora você seja rápido como o vento, vencerei você numa corrida.
O Coelho, acreditando ser simplesmente impossível a declaração da Tartaruga, aceitou o desafio; concordaram que a Raposa deveria escolher o roteiro e determinar onde seria a chegada.
No dia da corrida, os dois começaram juntos.
A Tartaruga nem por um momento parou, antes, prosseguiu num passo lento, mas constante até o final da pista.
O Coelho deitou-se à beira do caminho e adormeceu depressa.
Tendo finalmente acordado, moveu-se tão depressa quanto pôde, e viu a Tartaruga que, tento atravessado a linha de chegada, estava confortavelmente cochilando depois de sua fatigante corrida.

Moral da história: O lento, mas constante, é o que vence a corrida. 

Outra comparação também é possível: nas corridas de atletismo há dois tipos de atletas que competem nessa modalidade. Uns são velocistas, homens ou mulheres rápidos que em poucos segundos percorrem distâncias pequenas, como  o Usain Bolt; outros como o queniano Geoffrey Mutai, são especialistas em corridas de fundo, nas quais percorrem grandes distâncias, conhecidas como maratonas, nacionais ou internacionais.

A próxima eleição tem um ingrediente novo: o nível de informação da população aumentou e está em ascensão devido às redes sociais. A difusão maciça de informações, falsas ou verdadeiras, faz pensar, se pensa reflete, se reflete analisa, discute e melhor decide segundo a reflexão de cada um. É que informação, equivocada ou não, é informação, caberá aos candidatos, na propaganda eleitoral, ajustar as informações ao seu programa de governo para atingir a Presidência.

A Constituição adotou alguns princípios que afastam a noção de certo e errado como excludentes. Por exemplo, o pluralismo político, que consta do artigo 1º como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Se a sociedade é plural, não há nem certo e nem errado, cada um adota a corrente de pensamento que quiser, sendo o direito do outro o limite. A soberania da vontade popular e a supremacia dessa vontade, nos informa que o que o povo decidir é o caminho a seguir. Se o governo eleito, por equívoco do povo, for de encontro aos anseios desse mesmo povo, existem instrumentos para afastar o governante do poder. Incompetência não é um deles em função de termos adotado o sistema presidencialista de governo. Neste tipo de sistema, o governante só pode ser afastado do exercício do cargo se cometer crime comum ou de responsabilidade. Se o povo errar e o governante for honesto, mas incompetente, o povo paga o preço e tem de esperar novas eleições para se corrigir.

Em eleições presidenciais, sempre aparecem, na pré-campanha, candidatos que poderíamos chamar de candidatos coelho/Bolt. São apressados, falam muito, atraem a atenção sobre o eleitorado que, confuso por não haver ainda a concorrência, fazem os candidatos coelho/Bolt acreditar que vencerá a eleição. Poderíamos chamá-lo, ainda de  candidato Coca Cola que se agita antes da campanha, borbulha, ganha volume e depois, iniciada a refrega, desidrata e murcha.

O candidato velocista tende a perder o fôlego durante a corrida, enquanto o tartaruga/Mutai vai somando um pontinho aqui, outro ali e ao final chega à vitória. Ele nunca empolga no início da campanha. Tome-se como exemplo as eleições de 1960 e 1989. Apareceram dois candidatos surpresa, Jânio e Collor, que eram tartarugas e considerados zebras. Foram caminhado e ascendendo durante a campanha até empolgarem o eleitorado que neles creram e chegaram ao pódio.

Um candidato para manter-se bem pontuado desde a pré-campanha até a vitória tem de ser um candidato consagrado. Começa de cima porque tem um eleitorado para chamar de seu, como Lula.

Vimos na ultima eleição para prefeito de São Paulo, um candidato maratonista, pouco conhecido na política, que avançou na campanha e venceu a eleição no primeiro turno. 
O candidato coelho/Bolt sai na frente correndo em desabalada carreira. Só que não tem ninguém correndo com ele na pista. Ele ateia fogo no eleitorado usando gasolina e incendeia rapidamente o público, tornando-se incandescente. Acredita e faz acreditar que tem combustível suficiente para chegar á vitória. Os adversários são indefinidos e estão no passo tartaruga, quietos, calados, acendendo o fogo com palito de fósforo e soprando com a boca.

Definidos os candidatos  e iniciada a campanha, candidato que sai na frente provoca dois efeitos: 1)  atrai a imediata simpatia do eleitorado, porque fala o que os eleitores querem ouvir e não há termo de comparação, pois os outros candidatos estão em silêncio; 2) iniciada a campanha, concentra o fogo de todos os adversários contra si. Todos farão um pente fino sobre o corredor que deu a partida antecipada, queimando todos os seus cartuchos antes da hora. Tende a perder o fôlego antes da chegada.

Vale a pena ainda citar a posição maniqueísta envolvendo os dois partidos que desde 1994 vem se repetindo na decisão todas as eleições presidenciais: PT e PSDB ou PSDB e PT, significando, para os seus arautos, o bem e o mal. Para os do PT, o PSDB representa o mal, enquanto que o PT represente o bem. Para o PSDB, este é o bem e o PT é o mal. Provavelmente, ambos estão certos e ambos estão errados, pois a sociedade não é maniqueísta, é plural.

O candidato tartaruga/Mutai, que pode ser de qualquer partido, e vai para o segundo turno e provavelmente vencer a eleição, ainda não mostrou a cara, mas está vindo e vai crescer ponto a ponto.

Tomara que não ouçamos, no dia da posse do eleito, as palavras de Dante, como mensagem do ano novo: deixai fora toda esperança vós que entrais.

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