- 19 de novembro de 2024
Sem concerto
JOBIS PODOSAN
Sem remendo, sequer. A encenação feita pelo PT para libertar Lula, foi tão infantil do ponto de vista jurídico, que só se poderia justificar a partir de outros objetivos que não a libertação do líder das patacoadas, o próprio prisioneiro, que não sabe de nada e muito menos de Direito. Usou um juiz – um homem bomba petista - incompetente no sentido técnico (não poder fazer) e no sentido comum (não saber fazer), para armar uma trapalhada tão boba que, com o tempo, vai virar o feitiço contra o feiticeiro.
De tão atabalhoada a única forma de dar certo era dar no que deu. Até porque se Lula fosse solto, seria em seguida preso. Então, o fim visado era dar no que deu para gerar argumento de campanha.
O companheiro juiz entregou a própria cabeça esperando talvez uma recompensa futura. Ou fez mesmo a entrega total, tal e qual um camicase ou homem bomba dando mostra da suprema lealdade para com o guru, ombreando-se a José Dirceu. Este, porém, é leal não a Lula, mas sim às suas ideias e aos seus ideais. Lula, para Dirceu, é apenas o caminho, sendo ele, Dirceu, a verdade e a vida do petismo. Dirceu precisa de Lula, pois este é a luz visível, a marionete, sob o controle do ventríloquo.
Mas a operação, ainda que aparentemente atabalhoada, tem um rito implícito que pode levar Lula à Presidência de novo, através de uma operação estrategicamente montada pela cabeça pensante do PT, que não por acaso foi posto em liberdade para coordenar a operação. Eis o rito, que pode ser assim resumido: 1) mantida a candidatura de Lula, sem plano B; 2) manifestação de líderes da esquerda internacional; 3) ataque ao Poder Judiciário, através da Operação Favreto, que comete erros gravíssimos, aparentemente absurdos, na linguagem jurídica, teratológicos; 4) os mesmos autores do habeas corpus desastrado dão entrevistas e falam insistentemente de erros que foram cometidos pelos outros integrantes do Judiciário que se opuseram ao homem bomba, gerando a ideia de perseguição, apostando na ignorância do povo sobre processo; 5) o passo seguinte é a apresentação na última hora, do Plano B, provavelmente no último de do prazo para a inscrição dos candidatos; 6) o candidato assume a sua candidatura como se fosse a de Lula e faz campanha como se fosse o próprio; 7) o Ministro Dias Toffoli assume a presidência do STF e põe em votação as ações que Carmen Lúcia não deu pauta, para decidir o cumprimento da pena somente após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória; 8) o placar de 6 a 5 a favor da execução após a decisão colegiada do 2º Grau é substituído pelo placar de 6 x 5 contra, o que segundo a visão petista resulta na decisão justa – para o petismo a decisão só é justa quando favorável aos seus interesses – sendo todas as demais golpes; 9) Lula é posto em liberdade durante o próprio julgamento da ações, através de um habeas corpus de ofício — (CPP, art. 652, § 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal) — com o qual Dias Toffoli já beneficiou José Dirceu; 10) alardeia-se pelo país inteiro que a Suprema Corte, agora verdadeiramente Suprema, reconheceu a inocência de Lula, tanto que o colocou em liberdade; 11) antes do prazo fatal, a chapa poste petista renuncia à candidatura para que Lula a substitua; 12) com Dias Toffoli da presidência do STF, é concedida liminar suspendendo a inelegibilidade de Lula com base na Lei da Ficha Limpa; 13) Lula concorre à Presidência e vence as eleições; 14) o julgamento dos recursos são suspensos porque o mandato presidencial impede que o presidente, desde a diplomação, seja punido por fatos anteriores ao mandato, servindo as eleições como causa suspensiva da punição do eleito; 15) poderíamos acrescentar que Lula, após a posse, escolherá os seus ministros dentre ex-presidiários libertos das penitenciárias, pois todos os seus antigos companheiros que estavam presos foram libertados pelo STF em habeas corpus de ofício para os que não tinham sentenças transitadas em julgado, servindo a presunção de inocência para beneficiar criminosos, que continuarão a saquear o país; 25) a Operação Lava jato será encerrada melancolicamente e nenhuma pessoa de bem aceitará participar de um governo cuja técnica e cuja tática de governar é baseada na corrupção.
Os movimentos acima descritos estão sendo praticados quase que diariamente no STF e servirão como precedentes para as concessões futuras.
Só falta agora combinar com o povo para eleger Lula com a biografia que ele tem hoje. Ele nunca foi tão popular assim em eleições anteriores: perdeu uma, em 1989, no segundo turno, perdeu duas eleições em primeiro turno em 1994 e 1998, ganhou duas em segundo turno em 2002 e 2006 e o PT ganhou duas em segundo turno em 2010 e 2014. Todas as eleições que venceu foram apertadas. A mudança que houve de lá para cá foi para pior. Antes ele era considerado inocente, agora é quase culpado, com acusações gravíssimas, condenações em dois graus de jurisdição e perda em todos os habeas corpus e recursos que impetrou.
O que será que o faz tão otimista?
Talvez o povo lhe diga que o boneco quebrou e não tem mais conserto.
O mundo é redondo e dos bobos, que permanecem livres com sua reputação ilibada, enquanto que os sabidos e espertalhões se escudam na presunção de inocência que, na verdade, oculta alguém que pode ser culpado. A presunção de inocência não foi feita para gente honesta, mas para quem que, tendo cometido condutas tipificadas como crime, pode ser inocente. É uma capa provisória que oculta alguém que pode ser culpado ou inocente. Porém, após duas condenações em graus de jurisdição diferentes, a presunção de culpa é mais densa que a presunção de inocência e deve ser interpretada em favor da sociedade e não do condenado.
Mas e se Lula concorrer e vencer?
Manda o principio democrático que tome posse e governe, sob o fundamento da soberania da vontade popular. Quem não for às urnas, quem for e votar em branco ou anular seu voto, estará votando nele, por procuração outorgada a quem foi e nele votou.
O líder só precisará tomar cuidado com a solidão do poder e a adoção da solução final de 24 de agosto de 1954, para, como lá ocorreu, salvar o que ainda tem de reputação.