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Oraculo

Pais desnecessarios


Pais desnecessários


JOBIS PODOSAN


Quando os pais se tornam desnecessários significa que os filhos se tornaram independentes em todos os setores das suas vidas. Os pais passam a colher os frutos da sua plantação e os filhos a desfrutar dos prazeres da independência, somente recorrendo aos pais em busca do afeto confortador do seu regaço ou para o complemento de alguma despesa extra, para protegê-los dos juros escorchantes dos bancos. É a ajuda pela menor parte, como, aliás, é toda ajuda. É o bíblico faça tua parte que eu ajudarei. Quem ajuda faz a menor parte. O próprio Deus apenas ajuda, ficando a maior parte para o ajudado.

Os pais devem estimular os filhos a torná-los desnecessários. Pode parecer, heresia nestes tempos bicudos, mas era a regra nas gerações anteriores aos anos 1950. Filho bom era filho independente, que dava orgulho aos pais quando estudavam, trabalhavam, casavam e sustentavam suas famílias. Hoje os pais se contentam em se orgulhar dos filhos porque eles não usam drogas ou não têm outros vícios. São os filhos eternos que ficam em casa na dependência dos pais e infernizando a vida destes. Espectro que se torna assustador quando o filho amado e tirânico vai chegando perto da casa dos quarenta e não tem plano de saúde ou aposentadoria e vive da aposentadoria dos “velhos” até para se divertir. É preciso acabar com a figura do “melhor pai do mundo” que só o é quando distribui coisas aos exigentes filhos. Quando as nega, ainda eu por não poder, viram monstros.

Família não é lugar de escravos, nem pais e nem filhos. É lugar de conflitos de pessoas que a vida reúne para aperfeiçoamento de todos. Lugar de conflitos e reconciliações. Agressões e perdões, nada sendo definitivo. Familiares brigam entre si e se junta contra terceiros. É o melhor lugar do mundo, que a gente reconhece quando não tem mais.

Era tão fácil antes!

Os seres humanos interdependem uns dos outros. São tantas as nossas fraquezas e as nossas necessidades, que não há como ser de outra maneira. Todavia, ao longo do tempo, sistematizamos os conceitos de algumas independências que são fundamentais para nos reconhecermos como indivíduos úteis dentro da sociedade em que vivemos. Essas independências são: a) física - que alcançamos paulatinamente, a partir do nascimento, através da qual utilizamos o nosso próprio corpo para satisfazê-las. Essa depende, para a maioria das pessoas, apenas do decurso de tempo. Parte menor da população não a alcança e fica, em certa ou em grande medida, dependendo de outras pessoas para sua satisfação; b) intelectual - que designa o entendimento perceptivo, a capacidade da mais elevada compreensão, sendo, até mesmo, em dado momento, superior à razão. Por exemplo, um jovem de 15 anos pode ter uma maturidade intelectual grande, dada a sua capacidade de aprender e perceber as coisas a sua volta, mas sua razão é limitada pela sua falta de experiência, que traduz vivenciar as coisas antes percebidas. A capacidade de aprender do ser humano é finita ao passo que a razão liga-se ao infinito: o fato de você não compreender racionalmente alguma coisa, não significa que ela não tem explicação. Esta sempre existe, mas, às vezes, fora do nosso intelecto. Eu só posso compreender aquilo que está dentro do que aprendi ou dentro da minha capacidade de aprender. Desde jovem “aprendi” que E = MC² e até hoje não sei o que isto significa, porque os meus estudos foram em outra direção; c) emocional – a pessoa só se torna emocionalmente independente quando é capaz de compreender que é livre para praticar os atos da vida, mas que deve suportar as consequências das suas escolhas. Deve saber examinar quais serão as consequências de suas escolhas e decidir se pratica, ou não, o ato que pretende. Se do seu exame verificou a possibilidade de consequências positivas e negativas, deve colocá-las na balança da razão e ver a conveniência de praticar o ato, ou não. Não é possível, em face da lei da causa e efeito, escolher só as consequências positivas. Ambas virão, inexoravelmente. Em cada ato, deve-se decidir se vale a pena; d) profissional – todas as pessoas têm o dever de trabalhar para prover o seu próprio sustento. Somente certas pessoas, que  lei enumera, pela razão óbvia de sua incapacidade, escapam dessa obrigação. Chegada à idade de trabalhar cada pessoa deve fazê-lo para sustentar a si próprio, às pessoas que dependam de si diretamente (familiares) e ajudar aos que dependam indiretamente (as pessoas em geral que necessitam de ajuda). Por isto, cada pessoa deve escolher a profissão que lhe capacite a exercer essa independência, seja pelo estudo, seja pela experiência O que não pode fazer é deixar que as outras pessoas suportem o peso da sua inércia. Profissionalizar-se exige esforço e perseverança, mas produz frutos benfazejos. Quanto melhor profissional você for, maiores serão as recompensas e maiores os encargos, pois, quem muito recebe, mais deve dar; e) financeira -  para a satisfação das nossa necessidades básicas, precisamos dos meios financeiros que propiciem a aquisição dos bens para satisfazê-las. Porém, como acima se disse, não basta ser capaz de sustentar a si próprio, mas ser também capaz de ajudar ao próximo. Só é financeiramente independente quem é capaz de prover-se a si mesmo. Se não puder, é dependente, por incapaz, preguiçoso, irresponsável, ou, quem sabe, fez opção para explorar o esforço alheio. É evidente que o dever de individualmente produzir pode ser compartilhado pela divisão de tarefas, de modo que a produção seja resultante do trabalho conjunto das pessoas envolvidas, de modo que as funções econômicas e não econômicas sejam exercidas por pessoas diferentes, como no caso de uma família. Quando as pessoas alcançam essas cinco independências, realiza-se o milagre da vida, cada um pode tomar decisão livres e conscientes e por força da consciência, assumir as reponsabilidades dos seus atos. A pessoa está apta e a rede de interdependência que nos conduz à fraternidade. Pode dar, já que recebeu e tem consciência de que sem as outras pessoas a sua independência não seria possível. A pessoa liberou os que eram responsáveis por si e tornou-se apta a se responsabilizar pelos outros. Esse é o milagre da vida útil.

Melhor ainda se os pais e os filhos forem materialmente desnecessários, porque assim ficará o melhor de tudo: o afeto - e somente - ele guiará as ações de todos.

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