- 19 de novembro de 2024
Recortes e Cidadania I
JOBIS PODOSAN
Lula e Perón
Circula nas redes sociais que Lula poderá adotar a solução que Juan Domingo Perón aplicou na Argentina no ano de 1973. No exílio, Perón apresentou um aliado fiel a ele, Héctor José Cámpora, como candidato a presidente. Cámpora apresentou-se como encarnação do próprio Perón, e foi eleito, como o lema de ”Cámpora no governo e Perón no poder”. Após Cámpora tomar posse Perón voltou à Argentina, o poste renunciou e foram realizadas novas eleições e Perón venceu e voltou ele próprio ao governo e ao poder. Voltou, venceu as eleições e morreu no ano seguinte, deixando no poder a sua esposa, Isabelita Perón, no governo da qual houve o golpe militar que infelicitou a Argentina por muitos anos e levou os principais militares à prisão e morte. Uma história nada edificante para ser tomada como exemplo para o Brasil e, principalmente, para quem se intitula o maior líder do Brasil de todos os tempos.
Os puros-sangues e o azarão
Para encarnar o Fundador do Brasil nas eleições de outubro, a especulação gira em torno de três nomes e de um azarão inominado. Os puros-sangues seriam Fernando Haddad, Jaques Wagner e Celso Amorim. Estes três homens renunciariam a si mesmos, se prestariam a um papel jamais visto na história do mundo, exceto na Argentina peronista e teriam o papel de ganhar a eleição sob o lema “poste no governo Lula no poder” e se apresentarem ao eleitorado como como “eu sou Lula”. Essa história de poste no governo e Lula no poder, nós já vimos no que deu, com Dilma. Há sérias dúvidas em torno dos três nomes que concorreriam para serem imolados. Teriam que anistiar Lula, renunciarem ele o vice, para que novas eleições pudessem ser convocadas. É muito até para brasileiros! Isto pode ocasionar a indicação do nome de um azarão para ir para a forca da indignidade. Há dois nomes petistas que acreditam cegamente que Lula é inocente e que ele está preso politicamente e que são governadores de Estado, estão limpos na lava-Jato, e bem avaliados pelo eleitorado do Estado respectivo: Wellington Dias, governador do Piauí, Rui Costa, governador da Bahia. Vejo maiores chances para este último. Dizem os baianos que está sendo um bom poste! Então se é bom lá, pode ser bom cá. A questão primeira é aceitar. A segunda, renunciar ele e seu vice, que terá que ser um poste também convicto da divindade de Lula.
Herança maldita de Temer
A cada eleição temos os chefes de executivos eleitos reclamando contra a desordem que encontraram da gestão anterior. Seria bom que o constituinte editasse emenda marcando prazo para que o novo governo, aliado ou não do antecessor, realize auditagem no governo anterior, de um ano, por exemplo, após o que responderia solidariamente pelas irregularidades encontradas.
Dos deveres e dos direitos
A Constituição Brasileira de 1988 deu destaque aos direitos em relação aos deveres. Todos sabemos que o Direito estriba-se no principio da bilateralidade: onde há direito, há dever; onde há dever, há direito. Todavia, qual a noção que deve vir em primeiro lugar, a de dever ou a de direito? Parece que a vida se organiza em deveres para que deles resulte o direito. Salvo o caso dos incapazes ou dos juridicamente vulneráveis, ninguém pode reclamar direito algum sem antes cumprir os deveres que lhe incumbe. Na Carta Brasileira a palavra “deveres” aparece apenas no Capítulo I do Título II, que relaciona os “direitos e deveres individuais e coletivos”. Observe-se que, mesmo ali, os direitos são colocados em primeiro lugar. O que mais chama a atenção, porém, é que nos 78 incisos e quatro parágrafos do mais importante dispositivo da Constituição, em relação aos brasileiros e estrangeiros residentes no país, é que só estão relacionados direitos e nenhum dever explicito. Quer dizer: a constituição é uma fonte de direitos. Sobre essa pedra, os espertalhões edificaram a igreja da irresponsabilidade. Tudo é “direito”, todos querem os “seus direitos”. De uma coisa tenham certeza: os que ensinam deveres ensinam direitos; mas quem ensina direitos ensina mais direitos. Melhor seria preferir antes os deveres e os direitos seriam meras consequências. Nenhuma sociedade sobrevive onde só há direitos, até porque falta quem tenha deveres.
De que planeta o senhor veio professor?
Essa pergunta me foi feita por um aluno em sala de aula, num curso de graduação em Direito, quando estava falando sobre ética e direito. Entendia ele que eu estava falando de algo absolutamente impraticável, que aquele era um discurso de fracassado. Respondi-lhe: venho do planeta terra. De um país chamado Brasil Venho do futuro para o presente, para que possamos construir, a partir de agora, o país que os seus netos viverão, sem as mazelas do presente, sem a corrupção e a falta de vergonha que praticamos neste tempo, tudo do nosso conhecimento e aceitação, que chega a ponto de matar as esperanças de um jovem de apenas 20 anos, que sequer começou a luta pela sobrevivência. Espero que, ao final do nosso curso, pelos exemplos que lhe trarei, que você se aperceba que canalhice leva ao fracasso e não ao sucesso. E por último, devo lembrar a todos que ninguém faz sucesso porque merece, mas porque mereceu. O merecimento vem no reconhecimento e não antes das ações que levam à vitória.
Dias depois o pai do jovem foi preso numa das primeiras operações da polícia federal...