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ORACULO

AS DIRETAS JÁ


AS DIRETAS JÁ

JOBIS PODOSAN

No vazio de liderança resultante da ditadura compartilhada apenas pelos militares, que se revezavaram na usurpação da Presidência da República, realizando simulacros de eleições indiretas para tentar legitimar o ditador de plantão, luzes valorosas foram apagadas ou desestimuladas e os aproveitadores de todos os matizes surgiram na ambito nacional, regional e local, comprometendo o Brasil inteiro com a ascensão de nulidades aos postos de mando.
Nessas épocas obtusas, nas quais se confundem patentes militares e a honradez natural das carreiras castrenses com capacidade de gestão da coisa pública, como a moralidade de um servisse de proteção contra a ganância de lucros do que se apropriam da administração pública, visando ao enriquecimento próprio e dos seus, os militares foram somente o cobertor que abrigou o surgimento de todo tipo de espertos, que ainda hoje pululam à vista de todos. Nenhum militar do chamado governo golpista/revolucionário enriqueceu, até porque militares já são ricos de ideias e ideais e seus familiares são ricos de orgulho da inteireza moral do seu parente ilustre. Mas o problema é a cegueira para o que acontece ao derredor. Na verdade, somos cegos no campo do  conhecimento. Enxergamos apenas um pouco daquilo que estudamos muito. A presunção de saber tudo porque se chegou ao topo de uma carreira específica, é rematada tolice. Pior, só se julgar sábio, apesar de saber que nada sabe.
A política é ciência complexa e sob a boa politica, significando genericamente  a boa administraçao da cidade ou da polis, enxameiam as abelhas sedentas de ganhos fáceis, procurando extrair o mel das diversas seivas que compõem o mosaico da administração, formando colmeias que hoje chamamos crime organizado, em geral formadas por parentes ou pessoas próximas, que depois explodem indo todos parar na cadeia, que é a pena mais branda para os corruptos. A pena do crime de corrupção deveria ser cumprida em liberdade, à luz do sol, com os corruptos obrigados a se sustentar com meios próprios, depois de tomados todos os bens que surrupiou do povo com acréscimos pesados a título de punição financeira, circulando no meio do povo que teve a ousadia de roubar. O roubado, no crime de corrupção, deve ver o roubador e este, encarar os roubados.
Os governos militares se exauriram e entraram em decadência. Ninguém aguentava mais ouvir palavras rudes saídas da boca de generais acostumados ao mando no quartel, onde pensar é atividade própria de alguns, atividade na qual na qual o pensar de um elimina a existência do demais. Segundo o francês René Descartes o pensar é condição do existir. No campo da política ou da administração pública ou privada, obediência sem possibilidade de contradita é apenas uma maneira de tornar a todos cegos e, nas frestas da cegueira de quem manda, passam as enguias da corrupção e se apropriam do bem público deixando a responsabilidade por conta do títere que puseram para aparentar exercer o poder.
Iniciada a abertura política no governo Ernesto Geisel, a atividade se pensar foi ganhando mais e mais espaço, chegando o último dos generais ditadores a parecer apenas um tolo bufão, que falava asneiras a propósito de tudo, embora festejado no meio militar com um sujeito preparado. Cumpriu o seu papel de encerrar esse ciclo malfazejo da vida brasileira e, depois de esse período ser estudado com profundidade pela História, ver-se-á apenas uma experiência que, a despeito de algumas coisas positivas (qualquer governo ditatorial que permanece por longo tempo, produz algumas coisas boas), matou algumas gerações boas e deixou florescer aquelas pessoas ou causas que pretendia combater, uma vez que a força só momentaneamente submete a inteligência.
Com o retorno dos brasileiros que foram considerados nocivos à segurança nacional, o país passou naturalmente ao campo de influência dessas pessoas, que passaram a ser eleitas pelo povo para os governos dos Estados e para o Congresso Nacional, como verdadeiros heróis. O Brasil mudou e o governo Figueiredo foi o palco burlesco para o desmonte. Parecia alguém no topo pedindo socorro! Um verdadeiro náufrago na Presidência.
Sob esse cenário de desesperança e com os lideres exilados em plena atividade política em função da anistia, um projeto de emenda constitucional de um anônimo deputado do Mato Grosso, um engenheiro chamado Dante de Oliveira, ganhou foros de grande novidade e se projetou, na verdade, como o ponto final do regime militar. O projeto foi derrotado, mas assinalou o que viria depois: o fim do colégio eleitoral. A eleição de 1985 ainda foi indireta, mas com grande sabor das ruas, sendo o candidato da oposição sido vitorioso e a eleição comemorada como se fora uma eleição direta.
Tancredo não governou um só dia, mas disse coisas que se projetaram para o seu sucessor, obrigando-o moralmente a fazer o que o eleito prometeu, se é que se pode dizer isto do dito sucessor.
Por essa época o Fundador já tinha fundado seu partido, cercado de mensagens idealísticas e propósitos alvissareiros, como só os que se pensam donos dos fatos e da verdade podem prometer. Quem tem a dimensão dos seus limites, quem conhece a si mesmo, sabe que nenhum governo, em tempo algum, se apodera da decência coletiva, pois é sabido que a decência é sempre individual, dependente de cada pessoa. Ninguém moraliza um estado por decreto. É o exemplo que é a maior fonte de absorção da moralidade pelo povo. E só pode dar exemplo de moralidade e decência no exercício do poder, quem, de fato, exerce o poder. É pelo exercício que se reconhece a decência de um partido e a honestidade dos seus integrantes. Antes de exercer o poder o máximo que se tem é intenção, propósito, pois é fácil não colher o mel quando a colmeia está distante ou sob a administração de outros.
São incautos os que proclamam ser decentes estando distantes do poder. O decente é revelado pelo exercício do poder e não pelos seus discursos de campanha ou júbilo pela investidura. Infelizes são aqueles que comemoram a investidura nos cargos públicos e sofrem na hora de passar o governo adiante. A festa não deve ser na posse, mas na transmissão do cargo. Na investidura, são os amigos em profusão, todos cantando loas ao eleito, como se tudo que ele diga seja o suprassumo da sabedoria. Um ministro do Fundador disse sobre ele no momento em que foi convidado para o cargo: nunca vi pessoa tão sábia. Pouco tempo depois, de prefeito de uma grande capital do país, passou pouco tempo depois a ser considerado um grande corrupto brasileiro, servindo o “grande homem” apenas de  degrau para a subida ao cadafalso e o descenso à sepultura política desse cujo.
Mas, na batalha das diretas já, o Fundador, que já havia perdido uma eleição para governador de São Paulo, ainda bastante jovem, mas já sem o dedo mínimo da mão esquerda, de espessa barba e voz rouca, chamado mais tarde por Brizola de “sapo barbudo”, já fazia muito barulho, mas era pouco escutado, considerado um menino travesso, mas a manipulação dele já havia começado por gente esperta que o convenceu que o esperto era ele.
Até hoje o Fundador paga o preço da cegueira, pensando ser o líder que, na verdade, não era, pois não há líderes sem ideias. Se for eleito nas eleições do ano que vem, aproveitando-se do voto obrigatório e das escamas nos olhos no povo que elege, descobrirá que nenhuma pessoa de bem aceitará ser ministro seu e os que se sujeitarem, em pouco tempo, estarão prisioneiros da ganância de explorar o despreparo do Fundador, e presos jurando inocência e pedindo que os acusadores apresentem documentos com firma reconhecida como provas de corrupção. Muitos petistas que assinaram o ato de fundação do partido escaparam tão logo viram a diferença entre proclamar honestidade e praticar a decência.
O Fundador só precisa ter cuidado com o povo, que só vê pelas frestas dos instintos, mas, abertos os olhos e escancarada a falsidade, é impiedoso com os enganadores.
É tolo o que aposta na cegueira permanente do povo.

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