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ORÁCULO

O FIM DA ERA VARGAS


O FIM DA ERA VARGAS

JOBIS PODOSAN

            O Fundador era um menino que ainda ia completar nove anos quando o Brasil foi sacudido por um tiro de um revólver minúsculo, que Getúlio Vargas disparou sobre seu coração, salvando-se do “mar de lama” apregoado por Carlos Lacerda. Não se tratou de um ato de coragem, mas de cálculo, por que não tinha saída estando vivo, ia ser deposto pela segunda vez e ia para o lixo da história. E cálculo de um estrategista terrivel, que entendeu e viu a única porta de salvação que lhe estava aberta.

24 de agosto de 1954. Era aquele dia e aquela hora. Demorasse um pouco mais e o tiro lhe sairia pela culatra, porque já estaria deposto e todo romantismo da Carta Testamento desapareceria. Matou-se no poder. Foi o Presidente que se matou, que atirou em si mesmo e pôs a responsabilidade nos “outros” pelo seu desatino, sem especificar a quem, mesma doutrina que foi tentada por Jânio quadros em 1961 e é praticada pelo Fundador e pelo seus aliados e seguidores quando culpa a “eles” pelos malfeitos do seu partido e dos antigos fiéis e atuais inimigos. Com o tiro, Getúlio sufocou a sua responsabilidade pelos atos praticados pelos seus seguidores e ergueu-se da sepultura redivivo, heroi do povo, referência que até hoje nunhum homem público ousa mostrar o verdadeiro perfil.

Conta-nos a história que Getúlio Dorneles Vargas nasceu em  São Borja, Rio grande do Sul em 19 de abril de 1882 e morreu no Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954, foi um advogado e político brasileiro, chefe civil da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha depondo seu 13º e último presidente da república, Washington Luís. Foi presidente da república do Brasil em dois períodos. O primeiro teve duração de 15 anos ininterruptos, de 1930 a 1945, e dividiu-se em 3 fases: De 1930 a 1934, como Chefe do Governo Provisório, quatro anos de ditadura pura e simples, governando com poderes absolutos; De 1934 a 1937, Getúlio comandou o país como presidente da república, em Governo Constitucional, tendo sido eleito presidente da república pela Assembleia Nacional Constituinte de 1934; De 1937 a 1945, enquanto durou o Estado Novo, implantado após um golpe de estado dado por ele nele mesmo! Nesse tal Estado Novo, não havia o freio dos poderes, a constituição era um arremedo, pois o ditador a alterava de próprio punho. O sonho do partido do Fundador! No segundo período, em que foi eleito pelo voto direto, Getúlio governou o Brasil como presidente da república, por 3 anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando se matou. Getúlio era chamado pelos seus simpatizantes de "o pai dos pobres", frase bíblica (livro de Jó-29:16) e título criado pelo seu Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, enfatizando o fato de Getúlio ter criado muitas das leis sociais e trabalhistas brasileiras. As pessoas próximas o tratavam por "Doutor Getúlio", e as pessoas do povo o chamavam de "O Getúlio", e não de "Vargas". A sua doutrina e seu estilo político foram denominados de getulismo ou varguismo. Os seus seguidores, até hoje existentes, são denominados getulistas. Suicidou-se em 1954 com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal. Getúlio Vargas foi um dos mais controvertidos políticos brasileiros do século XX. Sua influência se estende até hoje. A sua herança política é invocada por pelo menos dois partidos políticos atuais: o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Houve alguns tiros disparados no dia 05 de agosto de 1954, atribuidos a asseclas do Presidente, na Rua Toneleiros, no Rio de Janeiro, dezenove dias antes do suicídio de Getulio, que visava a atingir o jornalista Carlos Lacerda, adversário ferenho de Vargas, mas que atingiu e matou o major Rubens Florentino Vaz, da Aeronáutica, provocando o episódio conhecido como a República do Galeão. Esses tiros atingiram, simbolicamente, o peito do Presidente da República e mataram a sua reputação. Porém, a sagacidade de Getúlio lhe permitiu ver a única saída possivel: salvar-se, matando-se. E o tiro salvador foi disparado no dia 24 de agosto de 1954, dia da Ressureição e não da morte de Getúlio, que ocorrera antes, no dia 05 anterior.

O Fundador do Brasil ouviu o tiro e os comentários feitos pelos pobres sobre ser Getúlio uma especie de pai para eles e, ainda menino, começou a sua marcha rumo à glória para dar ao Brasil uma doutrina de proteção aos mais pobres.

Getúlio nada tinha de democrata, basta ler o seu diário, cobrindo o período de 1930 a 1942, escrito de próprio punho, organizado por Maria Luiza Ritzel Remédios, em dois alentados volumes, que se verá ser seu governo ditatorial um mar de conspirações, embora se deva deixar clara a advertência de que, mesmo escrevendo para si mesmo, ninguém conta num diário, livro destinado a auto louvações, os detalhes das coisas espúrias que foi capaz de fazer, embora se possa vê-los nas entrelinhas.

São palavras dele mesmo na abertura do seu diário: se todas as pessoas anotassem diariamente num caderno seus juízos, pensamentos, motivos de ação e as principais ocorrências em que foram partes, muitos, a quem um destino singular impeliu, poderiam igualar as maravilhosas fantasias descritas nos livros de aventura dos escritores da mais rica fantasia imaginativa. O aparente prosaísmo da vida real é bem mais interessante do que parece. Lembrei-me que, se anotasse diariamente, com lealdade e sinceridade, Os fatos de minha vida como quem escreve apenas para si mesmo, e não para o público, teria aí um largo repositório de fatos a examinar e uma lição contínua da experiência a consultar.

Com essas palavras – anota a organizadora – “Getúlio Vargas inicia seu Diário, revelando a consciência que tem de quanto é difícil a relação com o outro, e a necessidade cada vez maior de encontrar-se na solidão de seu interior. Assim, sem um projeto arquitetado, centrando-se em sua própria pessoa, escreve a cada dia, limitando-se a seguir o curso de sua existência como homem e como político, pormenorizando-a tal qual ela se desenvolve, conforme as transformações de um lento decorrer.”

            Mais interessante, ainda, sobre o “pai dos pobres”, é a literatura que sobre ele apareceu e continua aparecendo, sendo sua vida um repositório de fatos, verídicos ou não, verdadeiros ou lendários. A cada dia, os historiadores e biógrafos vão desnudando o gaúcho de São Borja, colocando-o no seu lugar na história.

Com a sua morte, Getúlio criou o mito e sobrevive no imaginário popular como uma criatura ideal que não teve existência no plano real. Foi o ditador mais longevo do país e hoje não seria tolerado sequer pelos seus proclamados seguidores.

O que a história dirá do Fundador do Brasil? Se ele escrevesse um diário sobre sua vida, será que poderia ser publicado? Decerto que sim, mas seria uma declaração de amor a si mesmo, que a todos deixaria enojados, pois, até o mais persistente leitor, tem dificuldade de ler o discurso laudatório, repletos de autoelogios, incidindo o autor no vitupério do elogio em boca própria.

Se o Fundador voltar ao poder, como parece que pretende, o será por vontade popular e deverá tomar posse e exercer o seu mandato. Então, poderá acontecer alguma das seguintes alternativas: 1) salvará o país dos desatinos cometidos por ele e seu partido, edificando sobre os escombros da sua própria obra; 2) destruirá a tênue sombra   de si mesmo e irá terminar os seus dias dentro de uma prisão, acompanhado daqueles que o cercarem; 3) haverá mais um impeachment; 4) será salvo pela morte natural, no exercício do poder; 5) ouviremos um segundo tiro e a criação de mais um mito que o tempo desfará.

Os deuses mitológicos são todos mortos pelo tempo.

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