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ORÁCULO

A PRIMEIRA QUEDA DE VARGAS


A PRIMEIRA QUEDA DE VARGAS
 

JOBIS PODOSAN

 

Getúlio foi o principal precursor do Fundador do Brasil, embora já vicejassem no Brasil e no exterior as figuras que forjariam o modo de ser do encantador de multidões que estava por nascer. Para entender de onde o Fundador foi buscar a forma de domínio das multidões não esclarecidas e deslumbrar as esclarecidas que viram nele uma fonte inesgotável de obtenção de vantagens, o recurso disponível é apelar para a palavra grega midraxe, que significa perscrutar, explicar. Trata-se de uma explicação do Antigo Testamento elaborada pelos rabinos judeus, visando estabelecer normas de conduta para o povo judeu. Em certo tipo de midraxe, essas normas eram passadas de geração a geração, pelo sistema da oralidade e com fundamento nos costumes locais. Assim, pelo sistema do “ouvir dizer” o Fundador criou as bases da sua tão decantada sabedoria. No Brasil povoavam a mente de Aristides, pai do fundador, figuras como Luís Carlos Prestes, chamado Cavaleiro da Esperança, Caio Prado Junior, Candido Portinari, Graciliano Ramos, Carlos Marighella, Gregório Bezerra, João Saldanha, Jorge Amado, Oscar Niemayer, dentre outros, que viriam a reconhecer no menino barbudo e de voz rouca, a materialização encarnada do “cara”, referido bem depois por Barac Obama, Presidente dos Estados Unidos da América, cometendo um erro de julgamento grave, salvo se usou ironia dos homens cultos para dizer o contrário do que pensa e engabelar os tolos. A partir da obra de Karl Marx e das interpretações dela por Lênin, Stalin, Saint Simon, Proudhon, Robert Owen, Engels, Lênin, Trotsky e Mao Tsé Tung, com suas caravanas a Pequim para ver Mao e outros, formaram-se os componentes da personalidade que encarnaria o Fundador do Brasil, que criaram a ilusão de que se poderia realizar a igualdade distribuindo bens que não foram produzidos, desprezando o mérito da produção.

Mas, antes dos sucessos do Fundador, houve a primeira queda de Getúlio Vargas, depois de 15 anos no poder, treze dos quais governando de modo absoluto, sendo ele mesmo o próprio Estado. Legislava, aplicava as leis e dava a última palavra sobre todos os conflitos e sobre tudo o mais neste sofrido país. Sorte dele que o Fundador apagou tudo o que veio antes dele com um simples nunca antes.

Com a queda do Eixo e a vitória dos aliados na 2ª Guerra Mundial, Getúlio tentou dar uma volta na volta que antes dera. De simpatizante dos regimes fortes tentou dar-se ares de democrata querendo fazer uma nova constituição com ele no poder. Inventou um tal queremismo ou querer o mesmo ou querer ele mesmo, pretendendo continuar no poder. E isso despertou na UDN uma desconfiança extrema a qualquer ação de Getúlio. A situação se tornou mais clara a partir de agosto de 1945, quando a manobra continuísta se evidenciou com a evolução do queremismo para o grito de "Constituinte com Getúlio”. Isso veio inquietar a oposição udenista, pois a Constituinte antes das eleições presidenciais significaria a preservação do poder nas mãos de Vargas, além do precedente de 1934, quando se fez a Constituição sob Getúlio e ele acabou sendo eleito presidente indireto. Em face das agitações, da ação à sombra de Getúlio e da forte resistência do General Góis Monteiro, em 29 de outubro de 1945, Getúlio foi obrigado a abandonar o poder, transmitindo-o ao Presidente do STF, já que, naquela época, o “grande homem” não precisava de Câmara e nem de Senado para governar.

Com a chamada Revolução de 1930, caiu a República Velha e com ela a primeira constituição republicana do Brasil, a de 1891. Cheio de promessas de moralidade, Getúlio iniciou a sua saga com alguma legitimidade. Porém, retardou a convocação de uma nova constituinte para dar ao Brasil uma nova constituição, omissão que resultou na chamada Revolução Constitucionalista de São Paulo, que foi vencida na força por Getúlio, mas o compeliu a convocar a Assembleia Nacional Constituinte que resultou na Constituição de 1934, mas que elegeu Getúlio, indiretamente, para ser Presidente da República por mais quatro anos.

Gaúcho sedutor e seduzido pelo Poder! Como certo pernambucano de Caetés.

O Estado Novo era um regime de força e, por isso, alinhava-se com outros regimes autoritários no mundo. Era o tempo de Adolf Hitler, na Alemanha,  Benito Mussolini, na Itália, Franco, na Espanha, Salazar, em Portugal, parecia que o mundo adotara a tese do antigo Despotismo, na qual uma única pessoa sabia o que era bom para todas as demais. Em 1939, a Alemanha invade a Polônia e dá início à Segunda Guerra Mundial. No Brasil, que também era regido por um governo autoritário, Getúlio Vargas demonstra-se simpático ao regime fascista, de tal forma que a Constituição do Estado Novo, imposta unilateralmente por Getúlio em 1937 – o “pai dos pobres” era avesso a limites legais -, chamada de Polaca, é diretamente inspirada pelos moldes italianos daquele momento.

Pressionado a entrar na guerra, depois que navios brasileiros foram torpedeados por submarinos alemães em 1942, Getúlio não teve como fugir e entrou na Guerra em 1943, quando o Eixo – Alemanha, Itália e Japão - já declinava. Era o tiro no pé, pois Getúlio Vargas, um ditador, entraria na guerra para combater aquilo que praticava: um regime autoritário. A queda era inevitável e veio no dia 29 de outubro de 1945. Naquele dia, as tropas de militares que compunham seu próprio ministério invadiram o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, e forçaram a renúncia do presidente.

Caía de podre o Estado Novo e chegava ao fim um governo que durava desde 1930.

Getúlio voltaria depois, em 1950, para sair de novo em 1954, desta vez da vida para, segundo ele, entrar na História, com um salvador tiro no peito. Tiro que o elevou do chão ao panteão. Se esse tiro não fosse dado, o lado da história que ele figuraria seria outro bem menos lisonjeiro. Salvou-se, matando-se, o que não deixa de ser um mérito.

Ou uma sugestão e exemplo para futuros salvadores da pátria.

 

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