- 19 de novembro de 2024
A FUNDAÇÃO DO BRASIL - A INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Por JOBIS PODOSAN
Em 1580, por questões de dinastia, Portugal passou a ser governado pelo Rei da Espanha, Felipe II, tendo se tornado o Brasil parte do reino espanhol. Este domínio durou até 1640, quando D. João IV subiu ao trono português, inaugurando a dinastia Bragança. Durante todo esse tempo a descendência de Abá Aîurú, cuja última referência foi ao índio Pindobusu, que casou com negra Alyia e que teve um filho de nome Chimalsi, que significa jovem e orgulhoso, evoluiu nas sombras até ganhar destaque novamente no episódio da conjuração mineira. Chimalsi era cafuzo e misturou-se com uma branca de nome Maria, filha de portugueses pobres, e pela primeira vez aparece na ascendência do Fundador do Brasil o nome Silva, que permanece até hoje.
Na tendência de sacrifício pelo país que caracteriza a história dos Silvas, vamos encontrar na Conjuração Mineira um certo Joaquím josé da Silva Xavier, único pobre entre os conjurados e que, por isto mesmo – já desde aquela época se sabia que a corda arrebenta sempre do lado mais fraco – único a cumprir a sentença decretada por Portugal, tendo seu corpo sido esquartejado e salgado, com a condenação de toda sua descendência. Não sabiam os portugueses que dentre os descendentes daquele Silva nasceria o Silva Fundador do Brasil, que além de resgatar a dignidade do ascendente ilustre, demonstraria, com vários nunca antes, a total inutilidade da descoberta, da independência e da própria conjuração, cujo único mérito foi preparar as veredas para a chegada do Fundador, sendo Tiradestes uma espécie de João Batista do Cristo Salvador.
Chimalsi antecipava a lógica do raciocínio claro do Fundador e sabia como resolver as crises do Brasil e dizia que uma “crise pode não ser tão grande quanto a gente imagina, mas pode ser maior do que a gente imagina”. Pretendendo voltar ao Poder para resolver a crise atual, o Fundador percorre o país ensinando que a crise não pode ser tão grande, mas pode ser maior do que a gente imagina. Essa clareza de raciocínio foi transmitida pelo Fundador a sua sucessora que, sobre o crescimento pífio do Pronatec Aprendiz, uma das suas grandes realizações disse: “não vamos colocar meta. Vamos deixar a meta livre, mas, quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta”.
Mas na segunda metade do Séc. XVIII a Coroa portuguesa intensificou o seu controle fiscal sobre a sua colônia na América do Sul proibindo, em 1785, as atividades fabris e artesanais na Colônia e taxando severamente os produtos vindos da Metrópole. Desde1783 fora nomeado para governador da capitania de Minas Gerais D.Luís da Cunha Meneses, famoso pela sua arbitrariedade e violência. Somando-se a isto, desde o meado do século as jazidas de ouro em Minas Gerais começavam a se esgotar, fato não compreendido pela Coroa, que instituiu a cobrança da derrama na região, uma taxação compulsória em que a população de homens-bons deveria completar o que faltasse da cota imposta por lei de 100 arrobas de ouro (1.500 kg) anuais quando esta não era atingida.
A derrama atingiu fortemente, por motivos diversos, as classes mais abastadas de Minas Gerais, destacando-se, dentre eles os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, os padres José da Silva e Oliveira Rolim e Carlos Corrêa de Toledo, o cônego Luís Vieira da Silva, o sargento-mor Luís Vaz de Toledo Pisa, o minerador Inácio José de Alvarenga Peixoto e o nosso alferes Joaquim José da Silva Xavier, apelidado de "Tiradentes".
A conjuração pretendia eliminar a dominação portuguesa das Minas Gerais e estabelecendo ali um país livre. Não havia a intenção de libertar toda a colônia brasileira, pois naquele momento uma identidade nacional ainda não havia se formado. A forma de governo escolhida foi o estabelecimento de uma República, inspirada pelas ideias iluministas da França e da recente independência norte-americana. Destaque-se que não havia uma intenção clara de libertar os escravos, já que muitos dos participantes do movimento eram detentores dessa mão-de-obra.
A conspiração foi desmantelada em 1789, mesmo ano da Revolução Francesa. O movimento foi traído por Joaquim Silvério dos Reis, que fez a denúncia para obter perdão de suas dívidas com a Coroa. Como Judas Iscariotes, fez a delação premiada dos nossos tempos. O Visconde de Barbacena mandou abrir em junho de 1789 a Devassa com base nas denúncias de Silvério dos Reis, nas de Basílio de Brito, Malheiro do Lago, Inácio Correia Pamplona, tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Domingos de Abreu Vieira e de Domingos Vidal de Barbosa Laje.
Os réus foram sentenciados e Tiradentes executado em 21 de abril de 1792, pelo crime de "lesa-majestade" nas Ordenações Filipinas, Livro V, título 6, e definidas como "traição contra o rei". Dos Inconfidentes, Tiradentes é o único executado e serve de exemplo. Todos os réus negaram o crime, menos o alferes Joaquim José da Silva Xavier, que assumiu a responsabilidade de chefia do movimento. É nisso contrário ao seu descendente, o Fundador do Brasil, que nega peremporiamente saber de qualquer coisa que aconteça debaixo do seu nariz, sendo sempre inocente com base na contundente prova do “não sei de nada, não fiz nada, não vi nada”. São as diferentes épocas, mas ambos, o ascendente e o descendente, tem seu valor para o Brasil, aquele na pré-história do país, com alguma moral, este na História, iniciada em 1º de janeiro de 2003, sem moral alguma. O ascendente ensinando o que fazer e o segundo dando exemplo do que não fazer. Os dois úteis, portanto. Ambos grandes mestres da vida, restando-nos apenas escolher a lição a aprender e seguir.
Tiradentes morreu solteiro, mas, de sua companheira Maria Eugênia de Jesus, deixou dois filhos chamados Joaquina e João que, apesar de malditos, cumpriram a sina histórica. João da Silva Xavier assistiu absorto, no cais do Rio de Janeiro, a chegada da Familia Real no Brasil.