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Contra a dengue

Butantan inicia testes de vacina anti-dengue com 1,3 mil voluntários. de Boa Vista.


Vacina anti-dengue em teste

Boa Vista iniciou nesta quinta-feira (23/06) os testes em humanos da primeira vacina brasileira contra a dengue, desenvolvida pelo Instituto Butantan, órgão da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e um dos maiores centros de pesquisa biomédica do mundo.
Devem participar do estudo 1.360 boa-vistenses. A pesquisa integra a terceira e última etapa antes da aprovação da vacina para produção em larga escala pelo Butantan e disponibilização para campanhas de imunização em massa na rede pública de saúde em todo o Brasil.
Em Boa Vista os ensaios clínicos serão conduzidos pelo pesquisador Allex Jardim da Fonseca, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde. “Vamos fazer o acompanhamento dos voluntários durante cinco anos. Depois disso e de comprovar a eficiência, a vacina deve ser liberada para aplicação no Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, ninguém precisará pagar por ela”, explica o professor.
Os moradores dos bairros Asa Branca, Liberdade, Buritis e Pricumã estão sendo convidados a participar do estudo por agentes comunitários ligados à UFRR, especialmente treinados. As regiões previamente definidas com base em critérios como o perfil epidemiológico das áreas. A vacinação e o acompanhamento dos voluntários estão sendo realizados na Unidade Básica de Saúde do Buriti.
A UFRR é o terceiro dos 14 centros de estudo credenciados pelo Butantan a iniciar os estudos da última fase de testes da vacina da dengue, que envolverão 17 mil pessoas em 13 cidades nas cinco regiões do Brasil. Os primeiros testes desta fase começaram no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo.
Durante o lançamento dos trabalhos, realizado na unidade de saúde do Buritis, o reitor em exercício da Universidade Federal de Roraima, professor Américo Lyra, frisou a importância da colaboração entre a UFRR e o Butantan. “Este tipo de parceria é muito benéfica para a sociedade. Parabéns aos colegas professores envolvidos neste trabalho”, afirmou. O diretor do Centro de Ciências da Saúde da UFRR, professor Calvino Camargo, ressaltou que o CCS está sempre pronto para cumprir o seu papel de facilitar ações que estimulem a pesquisa e o desenvolvimento da instituição.
Para garantir o sucesso da pesquisa, a participação voluntária da comunidade é fundamental. A primeira dose da vacina foi aplicada em Thiago Melville, morador do Buritis, que estimulou sua mãe e outros três familiares a participar da pesquisa. “É uma honra participar deste projeto. Convido toda a população a fazer parte também”, disse.
São convidadas a participar do estudo pessoas saudáveis, que já tiveram ou não dengue em algum momento da vida e que se enquadrem em três faixas etárias: 2 a 6 anos, 7 a 17 anos e 18 a 59 anos.  Os participantes do estudo são acompanhados pela equipe médica por um período de cinco anos para verificar a duração da proteção oferecida pela vacina.
A vacina do Butantan, desenvolvida em parceria com o National Institutes of Health (EUA), tem potencial para proteger contra os quatro vírus da dengue com uma única dose e é produzida com os vírus vivos, mas geneticamente atenuados, isto é, enfraquecidos. “Com os vírus vivos, a resposta imunológica tende a ser mais forte, mas como estão enfraquecidos, eles não têm potencial para provocar a doença”, explica o diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil.
Nesta última etapa da pesquisa, os estudos visam a comprovar a eficácia da vacina. Do total de voluntários, 2/3 receberão a vacina e 1/3 receberá placebo, uma substância com as mesmas características da vacina, mas sem os vírus, ou seja, sem efeito. Nem a equipe médica nem o participante saberão quais voluntários receberam a vacina e quais receberam o placebo. O objetivo é descobrir, mais à frente, a partir de exames coletados dos voluntários, se quem tomou a vacina ficou protegido e quem tomou o placebo contraiu a doença.
Os dados disponíveis até agora das duas primeiras fases indicam que a vacina é segura, que ela induz o organismo a produzir anticorpos de maneira equilibrada contra os quatro vírus da dengue e que ela é potencialmente eficaz.
“A dengue é uma doença endêmica no Brasil e em mais de 100 países. A vacina brasileira produzida pelo Butantan, um centro estadual de excelência reconhecido internacionalmente, será certamente uma importante arma de prevenção para que o país possa delinear estratégias de imunização em massa, protegendo nossa população contra a doença e suas complicações, afirma o secretário de Estado da Saúde de São Paulo, David Uip.
Histórico
Em 2008 o Instituto Butantan firmou parceria de colaboração com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), passando a desenvolver, no Brasil, uma vacina similar a uma das estudadas pelo NIH, composta pelos quatro tipos de vírus da dengue.
Um dos grandes avanços do Butantan no desenvolvimento da vacina foi a formulação liofilizada (em pó), que garante a estabilidade necessária para manter os vírus vivos em temperaturas não tão frias, permitindo seu armazenamento em sistemas de refrigeração comum, como geladeiras, além de aumentar o período de validade da vacina (um ano).
Nas etapas anteriores, a vacina foi testada em 900 pessoas: 600 na primeira fase de testes clínicos, realizada nos Estados Unidos pelo NIH, e 300 na segunda etapa, realizada na cidade de São Paulo em parceria com a Faculdade de Medicina da USP (através do Hospital das Clínicas e do Instituto da Criança) e com o Instituto Adolfo Lutz.
O Instituto Butantan tem um fábrica de pequena escala para a vacina da dengue pronta e equipada para produzir 500 mil doses por ano, capacidade que pode ser aumentada para até 12 milhões de doses/ ano com algumas adaptações industriais. O Butantan também tem em projeto a construção de uma planta de larga escala que poderá fabricar 60 milhões de doses/ ano.
Ter a vacina desenvolvida e produzida por um produtor público nacional é uma vantagem competitiva para o Brasil, pois garante a disponibilidade do produto, permitindo a autossuficiência produtiva, além de garantir preços mais acessíveis.

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