- 26 de novembro de 2024
Relatos tristes da violências
Não saber diferenciar palavras no singular e no plural foi o motivo para que uma mãe deixasse marcas por todo o corpo da filha de apenas 11 anos, agredida com um pedaço de madeira. O sofrimento foi tanto, que a garota implorou à mãe para parar com as agressões, pois não estava mais aguentando de tanta dor. Esse caso aconteceu neste mês, em um bairro da zona oeste de Boa Vista, e foi registrado no Conselho Tutelar Território III – bairro Pintolândia.
O relato acima é da própria vítima ao conselheiro tutelar Augusto Valente, que atua no referido Conselho, onde foram registradas 1.395 ocorrências, de janeiro a setembro deste ano, sobre os mais diversos tipos de casos, como maus tratos, violência física, abandono e exploração sexual. Esses números demonstram que a negligência com crianças e adolescentes ainda é um grave problema em nossa sociedade. Os Conselhos Tutelares dos territórios I e II estão finalizando os dados.
Segundo Valente, a criança foi levada para o abrigo e a mãe, por não ter sido pega em flagrante, irá responder em liberdade, mas poderá pegar de três a 10 anos de prisão pelo crime de violência física contra a filha. “É lamentável o que vem acontecendo com nossas crianças e adolescentes, mas nós [conselheiros tutelares] temos feito o máximo para melhorar a vida desses meninos e meninas e advertir ou penalizar os pais ou responsáveis, conforme a gravidade da crueldade”, ressaltou.
Dentre os vários crimes cometidos contra crianças e adolescentes, negligência é quem lidera o número de ocorrências, com 430 atendimentos. Em segundo, vem maus tratos, com 136 casos; e na terceira posição, violência sexual, com 75. Esses dados são de janeiro a setembro de 2015.
Os números de crimes contra crianças e adolescentes aumentaram, mas segundo Valente, isso é em razão da população acreditar no trabalho que os conselheiros estão desenvolvendo. “Muitos desses casos já aconteciam, mas nós não tínhamos conhecimento. A partir do momento que as pessoas passaram a acreditar no trabalho dos conselheiros, as denúncias se tornaram mais frequentes”, afirmou.
Conforme ele, diferente de antigamente, hoje quando se faz uma denúncia relacionada à violação dos direitos da criança e do adolescente, a identidade do denunciante é mantida em sigilo total. “Com essa segurança a população voltou a denunciar mais”, disse Valente.
O trabalho de amparo às crianças e adolescentes é realizado por uma rede formada pela Polícia Militar, Núcleo de Proteção a Criança e Adolescente, Juizado da Infância, Promotoria da Infância, Centro de Referencia da Assistência Social, Centro de Referência Especializado de Assistência Social.