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Semana do Índio

Jaider Esbell: um misto de poesia, literatura e artes plásticas.


Jaider, o Macuxi artista

Quando pequeno, o índio macuxi Jaider Esbell, percebeu a afinidade que tem com o lápis e papel. Nascido na região da comunidade Santa Cruz, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, município de Normandia, aos 18 anos de idade deixou a maloca a caminho de Boa Vista para dar continuidade aos estudos e também aprimorar o dom artístico e literário.

“Desde a minha infância descobri as habilidades artísticas e me preparei para o momento. Acumulei todas as informações e lembranças e hoje traço tudo nas telas e demais obras literárias”, relatou Esbell.

O pontapé inicial foi em 2010, quando contemplado pela Bolsa Funarte de Criação Literária. Na região Norte, foram inscritos 79 candidatos e o projeto “Terreiro de Makunaima – mitos, lendas e estórias em vivência”, de Jaider Esbell, ficou entre os cinco selecionados, e tempos depois foi publicado em livro. “Eu sempre gostei muito literatura e arte e quando selecionado passou a acreditar na carreira”, frisou, ao complementar que hoje tem dois livros e um e-book publicados.

À época Jaider já era funcionário de carreira da Eletrobras – hoje afastado. Filho de Zenilda Sarmento e Francisco Esbell, o artista tem 11 irmãos e ganhou destaque nas artes plásticas em 2011 na primeira exposição individual com o tema “Caboclagem: o homem na paisagem” – que hoje está reprisando –, com 19 obras e serviu como espécie de ‘volta para casa’. O trabalho foi apresentado em Normandia, para parentes, amigos e admiradores das artes plásticas. “Depois de 15 anos que eu estava fora, fiz minha primeira aparição pública como artista plástico na comunidade onde nasci”, disse.

Utilizando a técnica acrílico sobre tela, Esbell aborda uma arte contemporânea livre, com telas que retratam o cotidiano indígena e a realidade dos povos. A inspiração vem do acúmulo de informação e experiência, resultados da trajetória de vida, com a realidade indígena, envolvendo cultura, comportamento, crenças e cuidado com a natureza. Hoje são mais de duas mil obras produzidas, sendo 60% comercializadas nos Estados Unidos, França, Alemanha e países asiáticos.

Ele tentou ser dentista, jornalista, engenheiro florestal. Hoje, aos 36 anos de idade é Geógrafo formado pela UFRR (Universidade Federal de Roraima) e especialista em Meio Ambiente. Por oito meses ministrou aulas de Artes e Antropologia no Pitzer College, nos Estados Unidos, onde realizou a exposição “Vacas na Amazônia”, que chamou a atenção para os impactos causados pela criação de gado na floresta amazônica. “Retratei os impactos causados às pessoas que vivem nas florestas e viram a mata ser substituída pela pecuária. Procuro evidenciar as verdades ocultas”, enfatizou o artista. “São coisas pesadas ditas suavemente pela arte”.

O indígena como protagonista na história

“Quando tento me arriscar no ‘mundo das artes’, mostro com meu próprio exemplo que é possível sim que o indígena contribua positivamente para a construção de alternativas que todos buscam, no contexto da sustentabilidade, por exemplo”, ponderou Esbell.

Conforme ele, o índio sempre foi condicionado da forma de se comportar, de se manifestar religiosamente e a sociedade hoje precisa entender que esses povos têm condições de contribuírem ativamente para a preservação do meio ambiente e desenvolvimento sustentável. “A arte ajuda a mostrar isso”, complementou.

Nesse contexto, Esbell busca reunir outros artistas regionais em um ateliê para produção e em seguida, realiza exposições coletivas. Atualmente 10 pessoas trabalham a arte de forma coletiva nesse projeto, dentre artistas plásticos e artesãos (toda a cadeia de produção). As ações têm apoio da Funai (Fundação Nacional do Índio) e UFRR.

“O coletivo veio para dar um gás e aumentar a autoestima dos artistas regionais, dentre eles indígenas”, disse Esbell, que está organizando um ensaio de arte indígena contemporânea para ser apresentado no segundo semestre deste ano às comunidades das Serras, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol e Boa Vista.

POVOS INDÍGENAS 

Ao todo, 46% das terras do estado de Roraima são ocupadas por povos indígenas, devidamente demarcadas e homologadas pela Presidência da República. São 58 mil índios (12% da população do estado) distribuídos nas etnias Macuxi, Yanomami, Patamona, Ingaricó, Wai Wai, Taurepang, Sapará, Wapixana e Xiriana.

Em Roraima, os povos Wai Wai, por exemplo, são os maiores produtores de castanha do Brasil. Os índios também são os maiores produtores de melancia e os primeiros produtores organizados no campo da pecuária, com 65 mil cabeças distribuídas nas regiões de serras e lavrados.

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