- 20 de agosto de 2025
Drogas chegam aos indígenas
O planejamento de ações conjuntas de fiscalização e repressão ao crime de tráfico de drogas em área indígena foi pauta de reunião durante toda a manhã desta quinta-feira, dia 8, na SESP (Secretaria Estadual de Segurança Pública). Antes da execução dos trabalhos de repressão, serão agendados outros dois encontros técnicos com especialistas e tuxauas das mais diversas áreas indígenas do Estado.
Participaram do encontro o comandante da Polícia Militar, coronel Santos Filho, o delegado geral adjunto, Maique Evelin, o delegado Regional Executivo da Polícia Federal, Fernando Peres e dois técnicos da Funai (Fundação Nacional do Índio), Clébio Genuíno e Jackson Nascimento.
Um dos problemas enfrentados pelos índios tem sido a venda indiscriminada de bebidas alcoólicas, o que vem refletindo em uma série de atritos nas comunidades, dentre eles o furto, brigas, estupros e até homicídios. Na discussão, apontou-se que a Polícia não pode impedir a venda de bebida alcoólica aos índios, uma vez que tal conduta não constitui crime, sendo necessário um trabalho de sensibilização e educação por parte da Funai e não de prisão por parte de policiais.
Em contrapartida, foi levantada a questão pelo comandante da Polícia Militar, coronel Santos Filho, que os policiais para entrarem em áreas indígenas esbarram em entraves, pois alguns tuxauas são resistentes e não autorizam, o que por muitas vezes causou desgastes.
"Estamos na expectativa de que haja, a partir dessa reunião um encaminhamento dos problemas que tem ocorrido e que tem dificultado a ação da Policia Militar em terras indígenas. Acredito que esse clima de boa vontade e essa iniciativa que houve da Funai vai contribuir para que esse problema seja sanado por definitivo e que possamos atuar atendendo as demandas que já existem e que hoje continuam existindo nessas áreas", disse o comandante da PM.
Para o chefe do setor de Gestão Territorial da Funai, Clébio Genuíno, a reunião foi solicitada para se construir um diálogo e, assim, iniciar um trabalho conjunto com as Polícias Estaduais para um combate mais eficaz aos crimes comuns em áreas indígenas.
"Estamos com uma certa dificuldade para que os policiais possam adentrar nas terras indígenas e, por outro lado, precisamos desse apoio para o combate a esses crimes nessas áreas. Nessa reunião abordamos essas dificuldades enfrentadas pelos policiais e agora vamos construir um diálogo com os indígenas para enfrentarmos essa situação", disse.
O delegado geral adjunto, Maique Evelin, destacou que a Polícia Civil está atuando efetivamente nas malocas indígenas, na investigação de crimes que são de competência estadual.
"A atribuição residual da Polícia Civil é uma gama muito grande e nós vamos atuar efetivamente naquilo que chegar em nossas delegacias, tanto na Capital quanto no interior, onde haja envolvimento de indígenas", disse.
De acordo com o secretário Estadual de Segurança Pública, Januário Lacerda, a partir da reunião pôde-se discutir os pontos fortes e fracos do problema e, assim, planejar a forma de combate ao tráfico de drogas dentro das comunidades indígenas, em especial na região do Bonfim, Normandia, Uiramutã e Pacaraima.
Ele destacou que da reunião saiu uma proposta de se planejar uma ação com todos os órgãos que estão em Roraima e que tem trabalho ou alguma ação junto às comunidades indígenas, como a UFRR (Universidade Federal de Roraima), a Funai, a SESAI (Secretaria de Saúde Indígena), o CIR (Conselho Indígena de Roraima) e a igreja católica, para fomentar uma reunião com as lideranças indígenas e expor a eles qual o papel do sistema de segurança do Estado e suas atribuições.
Para Lacerda, o Sistema de Segurança tem a obrigação constitucional de combater o crime tanto fora, quanto dentro das terras indígenas. "Hoje temos essa dificuldade em relação a algumas aldeias, por parte de tuxauas e liderança indígenas. Quando essas lideranças proíbem, estão obstruindo o trabalho da Justiça e da Polícia e estão passíveis de processos. Para que isso não ocorra, queremos conversar com todas as lideranças, para sensibilizá-los dessa situação. Depois vamos planejar coordenadamente as opções de combate ao tráfico de drogas nessas comunidades, bem como outros crimes", disse.
Ficou acertado que a Funai vai agendar a data da próxima reunião com todas as instituições envolvidas e também com os líderes indígenas.