- 12 de novembro de 2024
Senna, o Brasil ainda chora
Idolatrado, o piloto tinha um objetivo traçado: se superar sempre. Sabia que para isso enfrentava o maior risco, a morte. E ela veio na Curva Tamburello
O Brasil teve três campeões mundiais de Fórmula 1. Todos foram heróis nacionais, mas nenhum conquistou tamanha idolatria quanto Ayrton Senna. Estrategistas frios, Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet não se incomodavam em chegar em segundo, terceiro ou quarto lugar porque sabiam que a regularidade era o mais importante para vencer um campeonato.
Senna era diferente – queria ser sempre o primeiro, correr sempre na frente, quebrar todos os recordes. Mas tudo terminou na batida na curva Tamburello, em Imola, dia 1º de maio de 1994, a bordo da Williams a mais de 300 km/hora.
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Ele era um cara competitivo, mas muito humano ao mesmo tempo. Era sempre muito esporte, muita brincadeira, muita maldade – como colocar pimenta na comida dos outros.
Nascido em São Paulo, em 21 de março de 1960, Senna começou sua carreira na F-1 em 1984, pela Toleman, uma equipe inexpressiva. No ano seguinte, já na Lotus, ele conquistaria sua primeira vitória em um Grande Prêmio. Em 1988, transferiu-se para a McLaren, equipe com a qual foi campeão naquele mesmo ano. Combinando técnica e audácia, o piloto acelerou na chuva e chegou ao seu primeiro título. Com apenas cinco anos de F-1, Senna mostrou ao mundo que em situações adversas e arriscadas seu talento transbordava.
Conforme colecionava vitórias nas pistas, a vida pessoal de Senna começava a chamar atenção. Apesar da curiosidade, Senna sempre cuidou de revestir a vida e a carreira de muita publicidade, mas sempre uma publicidade que ele mantinha sob estrito controle. O temperamento difícil também passava ser conhecido. Ao longo dos anos, acumulou desafetos, como o rival Nelson Piquet – acusado de espalhar o boato de que Senna era homossexual. Nas pistas, obsessão. “Ele trabalha 24 horas por dia. Alain Prost só perde para ele porque trabalha 17 e dorme outras 7″, resumiu um jornalista português.
Além do primeiro campeonato, outros dois vieram - em 1990 e 1991. Senna queria mais, sempre mais. Não apenas vitórias – conquistou 41 – mas algo muito maior: a incessante superação do próprio limite. Mas sabia que para voar em direção ao infinito precisava assumir um risco. E esse risco se chamava morte. Em 1º de maio de 1994, na sétima volta do GP de San Marino, na Itália, Senna passou direto pela curva Tamburello, a 300 quilômetros por hora, e chocou-se contra o muro de concreto. Pouco depois, o tricampeão mundial foi declarado morto. Naquele momento, ninguém simbolizava melhor a comoção que tomou conta do mundo do que a imagem de Prost chorando em um dos boxes de Ímola.
A notícia do acidente de Ayrton Senna deixou o Brasil pasmo. Mesmo os que ainda não haviam se levantado, ou não acompanhavam a transmissão do GP, logo souberam o que se passava. Aos poucos uma corrente de emoção e dor tomou conta do país. Em um domingo de clássico entre Vasco e Flamengo no Maracanã, após o minuto de silêncio, as torcidas rivais se uniram em um coro de “Olê, olê, olê, olá/Senna” entoado por 100.000 pessoas. Naquele trágico domingo, Senna havia sentado no cock pit com medo da morte.
Somente em 2007, a justiça italiana concluiria que o responsável pela morte do piloto brasileiro era o diretor de engenharia da Williams, Patrick Head. Na tentativa de esclarecer as causas do acidente, o carro de Senna foi submetido a uma perícia pelas autoridades de Bolonha, em cuja região fica o autódromo. Os técnicos descobriram que a coluna de direção do veículo havia sofrido um reparo malfeito e rompera-se quando o piloto estava a 310 quilômetros por hora. Por isso ele não conseguiu fazer a curva. O crime, no entanto, ficou sem castigo porque havia prescrito três anos antes.
A morte de Ayrton Senna solidificou-o no imaginário popular brasileiro como um herói especial. Talvez seja por isso que somente dez anos depois da tragédia na Itália, tenha sido publicada uma biografia à altura do personagem: Ayrton, o Herói Revelado. Escrito por Ernesto Rodrigues, o livro mostrava pela primeira vez um Senna humano, contraditório e, portanto, mais real do que o mito voador das pistas. A parte mais surpreendente do livro é a que esmiúça a vida amorosa de Ayrton. De acordo com o livro, pelo menos cinco mulheres tiveram relevância para ele: Lilian de Vasconcellos, Adriane Yamin, Xuxa, Cristine Ferracciu e Adriane Galisteu.
Às páginas amarelas de VEJA, Ayrton falou ainda no início de sua carreira, em 1985. Na época, era comparado ao mítico escocês Jim Clark, outro que pisava até o fundo no acelerador. Todos já sabiam que estavam diante de um futuro campeão. Na entrevista, ele falou sobre o relacionamento com Piquet, do prazer pela velocidade e o medo de bater. “As coisas acontecem muito rápido na pista. Em uma batida não dá para sentir nada. Só depois que o carro pára é que sinto um frio na barriga.”
Viviane Senna toca o Instituto Ayrton Senna, organização sem fins lucrativos que pesquisa e produz conhecimentos para melhorar a qualidade da educação. Reconhecido internacionalmente, é financiado com recursos próprios, de doações e de parcerias com a iniciativa privada, e dispõe às administrações públicas serviços de gestão do processo educacional que incluem diagnóstico e planejamento, formação de gestores e educadores, desenvolvimento de soluções pedagógicas e tecnológicas. Fundado em 1994, por desejo de Ayrton, o Instituto anualmente capacita 75.000 educadores e seus programas beneficiam diretamente cerca de 2 milhões de alunos em mais de 1.300 municípios.
Qual o balanço que a senhora faz do trabalho do IAS?
Ultrapassamos de longe todas as expectativas que tínhamos. O Instituto nasceu logo depois do acidente do Ayrton e a ideia era ajudar de uma maneira organizada, especialmente crianças e jovens, mas o Instituo tomou um vulto muito maior que o original. Diante de um diagnóstico mais profundo, mudei toda a estratégia, a maneira de operar do Instituto, de uma lógica de varejo com ações pontuais de pequena escala para uma lógica de larga escala - a lógica que o país precisa de verdade, porque aqui os problemas são sistêmicos eles não são de uma escola, de uma cidade, são comuns em todas as partes do Brasil.
O que surpreendeu a senhora nesses 20 anos?
O abismo que o Brasil tem em termos educacionais, o tamanho do desafio que temos no país. Um país que precisa ensinar a ler, escrever, fazer cálculo, resolver problemas, coisas básicas que os países desenvolvidos fizeram no século 19 e 20 para toda a sua população sistemicamente. Uma educação que realmente era democrática para todos. Nem isso é realidade ainda no Brasil. Uma grande parte das crianças não é adequadamente alfabetizada ou nem é alfabetizada. Temos crianças na 5ª, 6ª, 7ª série, completamente analfabetos. Isso é de uma maneira bastante frequente. As crianças saem no final do ensino médio, jovens né, com pouco aprendizagem. Para você ter uma ideia de cada 10 que conseguem chegar até o final do ensino médio só três sabem bem o português e só um sabe bem matemática, ele já está lá no mínimo 11 anos na escola. A eficiência do sistema público de educação é muito baixa.
O nome do Ayrton continua com a mesma força nos últimos 20 anos?
É surpreendente. Tanto no Brasil quanto fora, a força da imagem do Ayrton é uma coisa extraordinária. Mesmo depois de 20 anos as pessoas continuam com uma conexão muito forte à imagem do Ayrton. Fizemos um estudo recente em que, por exemplo, no Brasil 98% das pessoas não só conhecem como têm uma identificação imensa e gostariam de comprar produtos ligados ao Ayrton, tem intenção de compras. Na Inglaterra é algo como 60%. E veja bem: o Ayrton não está mais exposto semanalmente, quinzenalmente, como na época em que corria, comparado a personalidades como, por exemplo, o inglês David Beckham, ou os grandes esportistas mundiais ou personalidades não esportistas. E mesmo quando é comparado a eles se não é o primeiro a ser lembrado é o segundo, mesmo fora do Brasil. Aquelas pesquisas que perguntam qual o melhor piloto do século, qual é o melhor esportista dos últimos anos, enfim, sempre o Ayrton ganha, tanto aqui como lá fora. Essa força é meio atemporal.
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Tanto no Brasil quanto lá fora, a força da imagem do Ayrton é uma coisa extraordinária
Qual foi o grau de dificuldade no início do Instituto?
Há 20 anos aqui no Brasil havia uma enorme desconfiança de quem fazia algo na área social. Esse foi um desafio inicial, porque havia muita gente fazendo este tipo de trabalho mas de forma muitas vezes não muito claras e havia o risco de ser relacionado a este tipo de gente. Mas a força da imagem do Ayrton foi decisiva nesse aspecto e também o resultado do nosso trabalho, comprovado.
Emocionalmente como foi começar esse trabalho logo depois da morte de Ayrton?
Foi um momento de muita perda e decidimos não correr pelo lado de desistência, de depressão. Foi uma decisão nossa como família e acredito que isso foi a melhor decisão. Podemos diante de um mal escolher fazer o bem.
Quando o Bruno disse que queria correr, qual foi a reação da senhora?
Levei um susto enorme, pois ele nunca havia manifestado nada. Depois da morte do Ayrton, ele nunca tinha feito qualquer alusão nesse sentido, acho que por respeito à situação difícil que passamos. Fiquei muito assustada e eu o ‘enrolei’ por dois anos.
Dois anos?
Eu simplesmente achei que era uma coisa de momento. Era jovem, ganhou um carro, queria correr... Pensei que era algo da idade e esperei que ele esquecesse. Mas depois de dois anos me dei conta de que poderia estar atrapalhando a vida do meu filho e resolvi pensar melhor no pedido. Ele queria até fazer faculdade, trabalhar, e juntar dinheiro para correr. Propus que ele tivesse alguma ocupação ligada a automobilismo, como engenheiro, designer, jornalista. Mas ele queria mesmo correr. Depois de um período no kart, falei com o Gehard Berger, ele testou o Bruno na Alemanha e disse que ele tinha futuro como piloto.
A senhora fica aflita ainda hoje?
Sim, muito. Ele é muito centrado, tem a cabeça muito boa. Sei que não é de fazer loucuras. Mas o risco é real porque não se pode controlar todas as variáveis de corrida nem o imponderável, como o que aconteceu com o Ayrton. Mas, se pensarmos bem, talvez ele corra mais risco em São Paulo se sair à noite ou ir a um restaurante do que acelerar a 200, 300 por hora num autódromo.
Jamais seria rápido como ele
Depoimento a Satoshi Takezawa
Satoru NakajimaO ex-piloto japonês na Fórmula 1 Satoru Nakajima, de 61 anos, foi piloto da Lotus de 1987 a 1989 e da Tyrrel em 1990 e 1991. Ele teve como companheiros de equipe dois brasileiros: Ayrton Senna, em 1987, e Nelson Piquet em 1988 e 1989. Em 1990, pela Tyrrel, causou um acidente com Ayrton Senna, quando o brasileiro liderava a prova em Interlagos. Hoje é dono da Nakajima Racing, equipe que disputa campeonatos de monopostos no Japão.
O meu primeiro encontro Senna foi na Áustria, no GP de Österreichiring de Fórmula 3000, em 1986. Eu estava entrando no carro para ser amarrado com o cinto de segurança quando ele apareceu no grid, faltando alguns segundos para a largada. Ele estava acompanhado do presidente da FIA naquela época, o Jean Marie Balestre. Foi tudo muito rápido, apenas nos cumprimentamos e disse que era um prazer conhecê-lo. Nós seríamos companheiros de equipe, e sabia que com os resultados que ele tinha conseguido nos anos anteriores, ele poderia ser um companheiro muito importante para mim, poderia me puxar para cima, ele certamente faria com que eu fosse mais rápido, ele me ajudaria a ser um piloto melhor. E ele me ajudou. Estávamos juntos apenas durante o trabalho, não o conhecia fora das pistas, não nos encontrávamos fora dos circuitos.
No trabalho, me ajudou bastante, eu era novato na Fórmula 1, e ele sempre me passava informações e suas impressões sobre detalhes dos circuitos, como deveria me preparar para uma determinada curva, me indicava quando algum ponto de um circuito era mais perigoso, em que ponto eu deveria ser mais rápido. Ele era sério, focado no trabalho, não era afeito a muitas brincadeiras, tinha poucos momentos de relax, ao contrário de Nelson Piquet, com quem trabalhei em seguida, também na Lotus. Os dois tinham estilos diferentes. Senna queria vencer, ser campeão, Piquet já estava mais relaxado, tinha três títulos mundiais, e um jeito mais solto, ria muito. Algumas pessoas me diziam que era o estilo de cada um por causa da cidade onde nasceram: Senna era mais sério porque era de São Paulo e o Piquet era mais divertido porque era do Rio de Janeiro. E talvez por causa da idade fiquei um pouco mais próximo de Piquet.
O Ayrton era concentração pura, queria ser mais rápido, mais veloz, trabalhava com mecânicos e engenheiros desde cedo nos finais de semana de corrida, queria saber de tudo. Ele era muito mais rápido que eu, e com o tempo eu soube que não seria tão veloz quanto ele, por maias que tivesse experiência ou treinasse e seguisse tudo o que ele fazia. Tentava usar os seus resultados como incentivo para melhorar. Fiz o que foi possível. Ele foi um piloto sensacional, jamais conseguiria andar tão rápido como ele.
Quando ele sofreu o acidente eu estava em casa, normalmente gravava as corridas e depois assistia durante o dia. Mas naquele dia não consegui dormir bem e liguei a televisão. Então vi a batida, mas não sabia exatamente o estado dele, aquilo não poderia ter acontecido. Fiquei chocado. Ele deixou como ensinamento aos mais jovens que, para chegar a um objetivo, é preciso trabalhar muito. Por isso ele se tornou campeão.
Ayrton tinha a capacidade de síntese
Por Carlo Cavicchi
Carlo Cavicchi Carlo Cavicchi foi diretor de redação da revista Austosprint e é diretor da revista Quattroruote
A última lembrança que tenho de Ayrton remete ao ruído das pás do helicóptero carregando seu corpo dilacerado para o Hospital Maggiore, em Bolonha. E é , obviamente, uma memória triste. Todos as anteriores são lindas, alegres, desde a primeira vez em que entrou, piloto novato na Toleman, na redação da Autosprint. Tinha rosto de menino e uma pasta a tiracolo mais parecendo um manager e não um piloto. Apesar de iniciante, falava com a segurança de quem já havia planejado seu futuro nos mínimos detalhes.
A partir daí, sempre que estava na Itália nos encontrávamos, conversávamos muito, eram momentos agradáveis, que sempre terminavam nos restaurantes que ele gostava, em que comia sempre a mesma coisa e falava sobre os mesmos assuntos: corridas, carros, pilotos. Uma vez consegui fazê-lo mudar o roteiro: eu o levei para assistir uma semifinal da Taça de Itália de basquete, esporte que ele disse nunca ter assistido e do qual não sabia nada. Era fim de 1989 e Ayrton acabara de se sagrar campeão mundial coma McLaren. A desculpa final para convencê-lo foi a presença de Oscar Schmidt na equipe de Caserta, artilheiro da liga, o maior campeão do basquete brasileiro.
Ayrton ficou confuso com o jogo, que acabou se alongando após empate e foi para a prorrogação. Nesse momento a torcida o reconheceu e o aplaudiu longamente. Ele ficou surpreso mas também feliz e até um pouco emocionado. Ali ele sentiu o quanto já era popular, ainda mais fora do mundo em que vivia seu dia-a-dia, nos autódromos pelo mundo.
Tive o prazer de escrever um livro com ele, no inverno de 1991, com o título “Senna de Verdade”, alimentado em cada linha com muitas histórias, piadas e avaliações inéditas de rara inteligência. Sua definição de Mansell, por exemplo - "É o único piloto atrás de você que se pode ver nos dois retrovisores" -, fotografa o campeão Inglês com rara precisão. Mas é apenas um pensamento de muitos que foram parar no livro, porque ele tinha a capacidade de síntese e um grande desejo de compartilhar seus pensamentos - pelo menos com quem tinha sua confiança.
A idéia de que aquele dia trágico de maio já faz 20 anos me atordoa: o tempo corre rápido demais, mas o tempo em que passamos juntos parece não se perder. No escritório tenho bem à mostra um motor F1 Lamborghini 12 cilindros que ele testou com a McLaren em 1993, quando a equipe de Woking pensava em trocar seus propulsores. Todo mundo que entra fica admirado, e eu mais ainda porque inevitavelmente o motor me traz Ayrton à lembrança.
Raciocínio rápido e sempre muito gentil
Por Betise Assumpção Head
Betise Assunção Betise Assumpção Head é jornalista, consultora de esporte, foi assessora de Ayrton Senna de 1990 a 1994 e tem um blog
Comecei a trabalhar para o Ayrton no GP de San Marino em 1990. Ele me telefonou na terca-feira que antecedia a corrida, explicou como tudo funcionava durante os quatro dias e disse. “É tudo grego para você, né? Mas não se preocupe. Tenho certeza que vai aprender rapidinho. Tem alguns termos técnicos que você vai entender facilmente, outros eu te explico. O que você não entender me pergunta, tá?“ Uma gentileza em pessoa.
Uma das primeiras coisas foi organizar as entrevistas diárias. Os jornalistas apareciam a qualquer hora nos boxes, se empurravam e enfiavam o microfone na cara dele, perguntando o que queriam em inglês, italiano e português. Não era à toa que ficava irritado. Era preciso ordem. Decidimos que ele falaria todos os dias depois dos treinos da tarde ou da tomada de tempo (se não fosse pole position, pois aí dava entrevista coletiva na sala de imprensa), atrás dos boxes. Primeiro em inglês, depois em italiano e, por último, para os brasileiros - e ninguém poderia participar de duas entrevistas. Algumas vezes tive de interromper Ayrton para pedir que algum jornalista saísse do grupo do qual não pertencia – ele detestava ser interrompido, mas entendia a situação.
Em 1991, passei a escrever uma coluna dele para a revista QUATRO RODAS, um depoimento sobre os acontecimentos de dois GPs – a revista é mensal. Anotava tudo, visitas ao motorhome, um detalhe na sua preparação para uma prova ou um presente que tivesse recebido ou dado. Às vezes, ele ficava surpreso com as coisas que eu tinha notado. “Você não perde nada, hein?” Um dia respondi. “Sou mulher e jornalista, isto me faz uma das pessoas mais curiosas do mundo!”
Não demorou muito e eu já tinha uma pilha de pedidos de entrevistas. Explicava o tipo de matéria que o jornalista estava fazendo, quando seria publicada, em qual veículo, determinávamos um tempo para a conversa e eu o preparava para a entrevista. Hoje chamamos isso de media coaching, naquele tempo era bom senso mesmo. O Ayrton sempre cumpriu o tempo combinado e muitas vezes, se a entrevista o instigava, queria falar mais!
Nosso relacionamento era excelente, afinado e as atribuições foram aumentando com o tempo. Além de atender a imprensa, passei a escrever colunas para um jornal do Japão e outro da Alemanha, e também atendia patrocinadores, pedidos fãs e de outras equipes. Com o tempo, ele foi ficando cada vez mais à vontade. Rápido no raciocínio, no anúncio da sua transferência para a Williams, em outubro de 1993, uma ligação telefônica conectaria Frank Williams a Ayrton. Ao ser questionado se sentiria falta de Alain Prost, que anunciara sua aposentadoria, Ayrton falou: ”Engraçado, a linha ficou ruim de repente… “ – e, sorridente, fez ruídos com a boca… Enfim, estava bem à vontade diante da imprensa.
Tudo se acabou no dia 1º de maio , na Tamburello, do circuito de Imola.