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CLÓVIS ROSSI

A vida começa aos 80


A vida começa aos 80

SÃO PAULO - É paradoxal, chocante até, que o mais completo elogio de Fernando Henrique Cardoso tenha saído do computador de uma adversária, a presidente Dilma Rousseff, e não de um prócer de seu partido, o PSDB.
Do PSDB, ao contrário, FHC ganhou o ostracismo. Em todas as campanhas eleitorais desde 2002 (inclusive), o partido escondeu o seu quadro que havia chegado mais longe, o homem que derrotara o mito Lula por duas vezes já no primeiro turno. Ao contrário do próprio Lula que precisou sempre do segundo turno até para vencer um peso leve como Geraldo Alckmin.
A carta de Dilma parece ter tido o dom de tirar FHC do armário do ostracismo. Confesso que, a princípio, fiz uma interpretação preconceituosa do episódio: achei que o ex-presidente estava sendo tratado como café com leite, como a gente dizia na infância, para designar os moleques pequenos que admitíamos na "pelada" da rua apenas por compaixão, mas cujos lances não eram registrados na súmula imaginária do jogo.
No caso de FHC, os 80 anos, em tese, fariam dele uma peça -respeitável- do museu da História, mas sem peso no jogo político.
Enganei-me: primeiro, ele ocupa o primeiro plano em uma discussão sobre tema essencial, o tratamento a dar ao problema das drogas, arriscando-se a tomar posição quando a grande maioria do mundo político prefere esconder-se.
Segundo, acaba de ser lançado candidato à Presidência em 2014, em coluna de Nelson Motta na quinta-feira, no "Estadão", mesmo sabendo o autor que FHC terá 84 anos na ocasião. Mais: o colunista ousa imaginar Lula como adversário de FHC.
Seria um duelo para fazer esquecer todos os inesquecíveis duelos do cinema de faroeste, entre os dois melhores presidentes do Brasil que me tocou viver, apesar das críticas duras que mereceram.

 

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