- 26 de novembro de 2024
Questão de saúde pública
Nem chegamos ainda a uma resposta para o crack e já surge uma nova droga no Brasil: O Oxi, que tem sido pauta de noticiários e manchetes de jornais nesse mês de abril. Essa nova droga tem efeitos mais nocivos que o crack e entrou no País através de fronteiras da Região Norte, mais precisamente pelo Estado do Acre e já começa a espalhar-se pelo Brasil inteiro.
No Acre, para conseguir a droga, meninas de 8 a 14 anos têm se prostituído em rodovias, cobrando de R$ 2 a R$ 5 o programa com caminhoneiros. Editorial de anteontem, 24, do Jornal O Globo, sobre Saúde Pública, mostra o OXI como droga ainda mais letal que o crack, que atinge igualmente crianças e adolescentes.
Imagine o poder destrutivo de uma droga que é feita de uma mistura de cocaína, querosene - ou gasolina, diesel e solução de bateria -, cal e permanganato de potássio. É uma pedra como o crack, só que mais barata e mais mórbida, já que causa dependência num tempo menor e mata mais rapidamente.
Tenho procurado focar meu trabalho na Câmara dos Deputados na luta por políticas de combate às drogas - ao crack, ao oxi agora - e por políticas de combate à violência contra crianças e adolescentes, como a violência sexual.
Todos os dias nos chegam noticias sobre novos inimigos que surgem. São novos desafios e novas batalhas que teremos que enfrentar. O trabalho não pára nunca e precisamos de fato tratar o consumo de entorpecentes como questão de saúde pública e não só como casos de polícia. Essa é inclusive uma proposta da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia – a CBDD.
Temos crianças e adolescentes se drogando, se prostituindo, engravidando, enlouquecendo e se matando. Eles precisam de ajuda.
Quando fui prefeita de Boa Vista, capital de Roraima, tive a oportunidade de enfrentar pessoalmente a questão da violência entre os jovens e o uso de drogas. Optamos por dar àqueles jovens que viviam em risco social – a maioria viciados e infratores – cuidados à sua saúde física, mental, espiritual e familiar.
O Projeto Crescer de Boa Vista, por exemplo, conseguiu reduzir 68,4% a violência entre os jovens em 3 anos e eliminou 30 das 35 gangues juvenis que aterrorizavam a cidade. Políticas públicas já implantadas, que fizeram uso de recursos públicos, que deram resultados positivos não podem ser interrompidas.
Na Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos Humanos das Crianças e dos Adolescentes vamos cobrar isso.
Precisamos debater a criação de uma rede de atenção psicossocial. Não podemos continuar fazendo projetos. Temos que agir. Discutir e encontrar caminhos para mudar esse rumo. E o enfrentamento deve ser um empenho dos governantes e da sociedade.
Temos um grande apoio de ajuda de grupos como os AA (Alcoólicos Anônimos), NA (Narcóticos Anônimos), Amor Exigente, que trabalham o tripé usuário – família – sociedade. Já está comprovado que não basta o tratamento psiquiátrico. Esses grupos atendem três vezes mais do que a comunidade médica. Isso, inclusive, foi levantado no Seminário “Crack: construindo um consenso”, realizado semana passada pelo Conselho Federal de Medicina.
Precisamos debater o assunto para ajudar o País a encontrar um caminho para combater esses inimigos, que tanto mal têm feito a nossas crianças e adolescentes e a tantas famílias brasileiras.
Deixo aqui um questionamento, o mesmo que foi feito no seminário do Conselho Federal de Medicina pelo Dr. Roberto Laranjeiras – Professor de Psiquiatria da Unifesp e do Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas:
Será que em vez de jovens fumando crack – como se vê à luz do dia nas cracolândias da vida -, encontrássemos grupos de tuberculosos nas ruas, grupos de hansenianos, a sociedade civil, os governantes e as polícias passariam por eles com essa apatia de hoje?
Fica essa pergunta para todos nós.
Teresa Surita, é deputada federal e ex-prefeita de Boa Vista.