- 26 de novembro de 2024
Interpretações diferentes
De Brasília
Amigo leitor, desde quando deboche é crime? Desde quando, interpretar uma foto com alguém dando língua é crime?
As duas perguntas acima se baseiam na defesa que apresento à decisão liminar à ação que o deputado Jonatan de Jesus, move contra a Coluna e contra o Fontebrasil por danos morais pela interpretação que fiz de uma foto sua com a língua de fora.
O juiz Mozarildo Cavalcanti Filho mandou retirar a foto e determinou pagamento de R$ 10 mil por cada dia de exibição caso a publicasse novamente enquanto o processo não fosse totalmente julgado.
Com todo o respeito ao meritíssimo juiz Mozarildo, tenho ressalvas a fazer sobre o que ele, preliminarmente, decidiu. Diz ele em relação ao que escrevi sobre a foto de Jonatan: "A conclusão a que chega o leitor, sem qualquer esforço de interpretação, é que o autor (Jonatan) está debochando da sociedade porque pratica delitos que se sabe que não serão punidos."
Jonatan debochou sim, mas não da sociedade. Muito menos debochou dos 16.550 eleitores que votaram nele. Ele debochou do fotógrafo do Fontebrasil e deste Editor. Eu, sim, poderia reclamar do "deboche" de Jonatan.
Não tive intenção de levantar suspeitas de que Jonatan "pratica delitos que sabe que não serão punidos".
Os R$ 750 mil apreendidos pela Polícia Federal no auge da campanha eleitoral, debaixo da cama, na casa de um assessor de Jonatan, para mim, é muito estranho e por isso fiz referência ao ocorrido pelo fato dele preferir guardar tamanho volume de dinheiro (em notas de R$ 100 e R$ 50) debaixo da cama na casa de um assessor, do que debaixo da sua própria cama, na sua própria casa, ou na do seu pai, então presidente da ALE que vivia cercado de seguranças, ou mesmo ter depositado em sua conta no banco.
"Foram atribuídos, de forma irônica e deselegante, condutas ilegais e negativAs ao autor (Jonatan) sem indicação de qualquer suporte fático", diz o juiz Mozarildo. Mas que \'condutas ilegais" referentes ao deputado estariam contidas na minha interpretação da foto de Jonatan com a língua para fora?
É crime não indicar "qualquer suporte fático" à foto, à minha interpretação da foto? Uma foto, uma cena, um ato podem ter milhões de interpretações. O resto é suposição. E pode alguém ser condenado mediante suposições?
A interpretação na liminar é inteiramente diferente da minha. Alguém fotografado com a língua de fora terá várias interpretações, como na foto do físico Albert Einstein (ao lado). E nesse ponto, a interpretação de como vemos as coisas, dispensa "qualquer suporte fático".
Ainda na decisão, é dito que minha nota sobre a foto de Jonatan não se tratou de "matéria jornalística, mas de mera intenção de ofender e denegrir o autor (Jonatan)". Não foi isso.
Minha intenção foi ironizar quem achou que ele seria cassado. É só re-ler as legendas, a primeira onde escrevo: "Discreto, Jonatas de Jesus, dá o sinal para QUEM PENSA que os suspeitíssimos R$ 749,6 mil vão dar em alguma coisa". Repito: para QUEM PENSA que daria algo a apreensão dos R$ 750 mil, e não para a "sociedade" como o juiz entendeu.
E a segunda nota: "Na foto, Jonatan de Jesus, dá língua para QUEM PENSA em cassá-lo". Por favor, juiz Mozarildo, a ironia foi para QUEM PENSA que Jonatan seria prejudicado e não, para Jonatan ou para a sociedade, pois ele passou sem qualquer incomodo pela Justiça Eleitoral com relação aos R$ 750 mil apreendidos numa maleta, debaixo da cama, na casa de um assessor seu.
Não imaginei que uma simples foto que não passou mais de alguns dias no ar no Fontebrasil gerasse tamanha celeuma, um trauma, como consta na liminar que "a reiteração da conduta (nova exposição da foto) é capaz de causar dano de difícil reparação" no deputado Jonatan.
Sobre as perguntas feitas no primeiro parágrafo desse texto, penso que Jonatan de Jesus, pessoa pública, dando língua, debochando ou não de QUEM PENSOU que ele seria cassado não é crime.