- 26 de novembro de 2024
Por Aroldo Pinheiro
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De cientista e louco, todo mundo tem um pouco.
No Porto do Bessa, final da rua Coronel Mota, ao lado do que resta da semi-afundada embarcação “Poeta Dorval de Magalhães”, uma canoa de ferro - equipada com velho quadro de bicicleta, pedais, coroa, catraca, corrente, engrenagens conectadas a uma roda raiada e um eixo que, por sua vez, movimentam hélice de alumínio – chama atenção. Pintada com as cores da Bandeira Nacional Brasileira, na proa, o nome homenageia o sonho que não se realizou: HEXA 10.
Um pouco acima, num mocó cercado por trepadeiras espinhosas, árvores nativas das margens do rio Branco, muito ferro velho – geladeiras e máquinas de lavar enferrujadas, chapas de ferro, um amontoado de garrafas pet e um cofre (que pode até ser aquele que roubaram da Câmara Municipal de Boa Vista) -, Ademir Leite, 66 anos, constrói, lenta e meticulosamente, uma grande embarcação de ferro.
Paraense, pescador e carpinteiro naval aposentado, ele diz que está sempre inventando coisas. “No porto de Belém, o povo me apelidou de Professor Pardal. Alguns me chamavam de cientista louco. Eu me divirto. Sempre que não tenho nada pra fazer, fico imaginando produtos que podem facilitar a vida do ser humano”.
O projeto do veículo náutico, batizado de HEXA 10, foi concebido na época da mais recente Copa do Mundo. Há oito meses, Ademir se dedica à construção do protótipo. “Hoje, fiz o primeiro teste. Vi que precisa de alguns ajustes. Os retentores não estão vedando, tá entrando muita água, o eixo tá fora de centro, os pedais estão desalinhados e a corrente tá frouxa”, declara. Esses são alguns dos poucos problemas enfrentados pelo inventor que, com sorriso confiante, assegura: “Resolvendo essas coisinhas e arranjando um sistema eficaz para o leme, em quinze dias o HEXA 10 fica tinindo”.