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Estréia

Surfistinha, versão comentada


Surfistinha, versão comentada

Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha , comenta o filme inspirado em sua vida, que estreia hoje , e diz ter saudades da liberdade ° da prostituição


Divulgação
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Deborah Secco, que interpreta Bruna Surfistinha, em cena do filme que estreia hoje

ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO

Em uma cena do filme "Bruna Surfistinha", a protagonista Deborah Secco encara inerte a câmera, enquanto um homem se vale de seus dotes sexuais.
"Foi assim mesmo na primeira vez", disse Raquel Pacheco, 26, olhando para a tela do cinema. "Eu estava nervosa, não sabia me portar como garota de programa. Pensava: "O que eu estou fazendo aqui? Será que meus pais viram a carta que deixei?\'"
Nove anos após o abandono de lar, família e nome de batismo, Raquel -ex-Bruna Surfistinha, a garota de programa mais famosa do país- vê sua história chegar ao cinema. O filme, baseado na biografia "O Doce Veneno do Escorpião" (Panda Books), estreia hoje em 350 salas.
A pedido da Folha, Raquel acompanhou uma exibição. Comentou as principais cenas, como o momento em que liga para a mãe, no meio da noite, e permanece calada: "Eu não tinha coragem de falar. A última vez que conversamos foi em 2004".
Ex-aluna do Bandeirantes, tradicional colégio paulistano, Raquel fugiu de casa aos 17 anos, após repetidas brigas com a família.
Rumou para um bordel nos Jardins, que visitara um dia antes. "Eu tinha ligado para vários privês anunciados nos classificados. Visitei três, escolhi o menos pior."
Diante da cena em que Deborah Secco acerta os termos de serviço com a dona do estabelecimento, Raquel comentou: "Eu estava assustadíssima. Até então, só tinha transado com meu primeiro namorado. Mas saí de casa decidida a me prostituir".
No lupanar, foi apodada Bruna. "Nem sabia que existia nome de guerra. Uma menina falou que combinava comigo. Topei."
Em uma cena do filme, Deborah Secco, fascinada com o farto cardápio de clientes, diz, em off, que "estava adorando ser a menina mais popular do colégio".
"Era verdade", disse Raquel. "Eu não tinha sensualidade, não era uma adolescente bonita, mas me destacava por ser menos prostituta que as outras."
Raquel tardou a se acostumar com o ofício. "Foram três meses até que eu me entregasse à Bruna." Para evitar o encontro com antigos conhecidos, inventou, também, uma nova organização geográfica. "Quando eu era Raquel, ia ao cinema no shopping Paulista. Quando virei Bruna, passei a ir no Morumbi Shopping."
Ao ver uma cena de Deborah Secco bêbada e drogada na boate Love Story, quartel-general das garotas de programa em São Paulo, Raquel se diz nostálgica: "Não sinto falta da prostituição em si, mas dessa sensação de liberdade. Eu não tinha ninguém, mas não tinha cobrança".
Hoje, ela está casada com um ex-cliente. Seu livro vendeu 250 mil cópias.
Perdeu contato com os amigos que fez quando era Bruna. Tampouco fala com os conhecidos do período Raquel pré-Bruna.
Tem esperança de que os pais assistam ao filme, "para ver como são retratados". Na pré-estreia, em São Paulo, Raquel lamentou não estar junto deles. "Tudo bem, eu errei, me prostituí, os decepcionei, mas já faz seis anos que parei."

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