- 26 de novembro de 2024
O Réveillon de 2010 em Angra dos Reis (RJ) será sempre lembrado pelas tragédias provocadas pela chuva. No primeiro dia do ano, um deslizamento de terra na Ilha Grande deixou 31 mortos após uma pousada e casas de veraneio terem sido soterradas. Outras 21 pessoas morreram no desabamento do morro da Carioca, uma área pobre do centro da cidade. Mas, um ano depois, a virada foi comemorada com terra firme, sol e hotéis lotados.
Deslizamento de terra atingiu a pousada Sankay, em Angra dos Reis (RJ), e deixou 31 mortos
No morro da Carioca, o deslizamento soterrou centenas de casas e matou 21 pessoas
Segundo a Prefeitura de Angra, até o momento, não foram registrados incidentes decorrentes da chuva e não há qualquer alerta para temporais. “Esse ano, está tudo maravilhoso. A cidade está lotada, cheia de festas e estamos com 95% de lotação [no setor hoteleiro]. Era o que a gente precisava para recuperar as perdas do ano passado”, disse o subsecretário de comunicação de Angra, Jeisel Lucas.
Dados divulgados pelo governo municipal apontam que houve uma queda de cerca de 20% na presença de turistas na cidade após as tragédias. No entanto, a alta temporada deste ano já dá sinais de que as perdas serão recuperadas.
“O crescimento da taxa de ocupação tem sido uma constante, principalmente de julho para cá, devido aos feriados prolongados, que ajudaram a empurrar a média mensal de ocupação de 20% em agosto para cerca de 60% agora”, informou a prefeitura.
Veranistas e turistas que passam pelo balneário de luxo gastam em média R$ 10,7 milhões por fim de semana. Até o Carnaval, são esperados mais de 527 mil visitantes, que devem deixar cerca de R$ 131 milhões na cidade.
Por outro lado, a prefeitura reclama do atraso na liberação dos R$ 80 milhões prometidos pelo governo federal para oito obras que devem ser feitas pelo Estado nas áreas de risco. Até o momento, foram repassados R$ 30 milhões da verba.
"Entre essas oito obras estão o muro de amortecimento, de 300 metros de largura por 10 metros de altura, que será construído no morro da Carioca para conter qualquer material que possa vir a deslizar, um enrocamento [muro de pedra para estabilizar o talude] a ser feito na praia do Bananal, onde aconteceu o deslizamento do ano passado, e a barreira flexível [hastes flexíveis de aço inoxidável presa às rochas da encosta para segurar deslizamentos] que deve ser instalada no morro do Carmo para evitar que 500 famílias seja removidas. Essa barreira custaria R$ 31 milhões", explicou Lucas.
Ainda segundo o subsecretário, das 2.250 famílias que tiveram suas casas interditadas ou demolidas nas áreas de risco ao longo de 2010, 1.136 ainda dependem do aluguel-social (R$ 510).
Até agosto, também será inaugurada uma central de emergência com câmeras de monitoramento e pluviômetros eletrônicos, prometeu a prefeitura.
São Luiz do Paraitinga
A cidade histórica São Luiz do Paraitinga (SP) também se recupera dos estragos provocados pelos temporais e pela cheia do rio que passa pelo município, que chegou a ficar dez metros acima do nível normal em 2010. Depois de decretar estado de calamidade pública, em janeiro do ano passado, e de ter perdido diversos imóveis tombados como patrimônio histórico e cultural, a pequena cidade teme ser atingida novamente pela fúria das águas.
Deslizamento de terra atingiu a pousada Sankay, em Angra dos Reis (RJ), e deixou 31 mortos
Segundo o diretor de Turismo da prefeitura, Eduardo de Oliveira Coelho, no dia 23 de dezembro o rio voltou a subir por conta das chuvas e ficou três metros acima do normal. No começo do novo ano, o volume de água diminuiu e deixou de ser uma ameaça. Mas a cidade, traumatizada, passou a monitorar constantemente o rio Paraitinga.
Depois da tragédia do ano passado, um sistema de alerta por satélite foi instalado na região. Além disso, depois de quase doze meses de espera, a desassoreação do rio foi recentemente iniciada. A medida deve aumentar a calha e a vazão da água e evitar que a cidade seja afetada pelo transbordamento.
“Essa iniciativa não terá tanto efeito caso ocorra uma chuva neste ano, porque o serviço começou em dezembro e pouca coisa foi feita. Mas a ideia é desassorear e derrocar o rio em oito quilômetros, quatro cima da cidade e quatro abaixo”, explica Coelho.
De acordo com ele, o serviço é feito pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) do governo do Estado e demorou a ser executado porque 2010 foi um ano eleitoral e os contratos de limpeza do rio não podiam ser assinados nesse período.
Em Atibaia (SP), o transbordamento do rio que no ano passado afetou 900 pessoas e neste ano já deslocou mais de 450 pessoas virou motivo de disputa judicial entre a prefeitura e o Daee. Em plena temporada de chuvas, o município vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que o órgão estadual comece a desassorear o rio. A briga, que já dura meses, promete ser longa. Leia a reportagem.
Em abril do ano passado, outro município fluminense viu o tempo fechar. Uma chuva intensa, que durou mais de 24 horas, provocou deslizamentos e a morte de 168 pessoas em Niterói, 45 delas no morro do Bumba. Mais de 7.000 pessoas tiveram suas casas destruídas pelas chuvas ou interditadas pela Defesa Civil.
Desde então, a Prefeitura diz que fez um levantamento das áreas afetadas e realizou 15 obras de contenção de encostas. Outras 26 estão em andamento. Para prevenir novas tragédias, foi criada a Geo-Nit, um órgão destinado a monitorar as áreas de risco, e foi ampliada a equipe da Defesa Civil para sete bombeiros, um engenheiro, um geólogo e um geógrafo. Mas, até agora, nenhuma situação de emergência foi registrada.
No entanto, apesar do sol, muitas famílias ainda são vítimas da chuva na cidade. Passados quase oito meses da tragédia, 500 pessoas ainda vivem em abrigos municipais montados em unidades do Exército porque não conseguem alugar uma casa. Outras 4.000 famílias ainda esperam para receber o auxílio-aluguel. Atualmente, 3.200 famílias ganham o benefício de R$ 400.
Segundo a prefeitura, 180 apartamentos estão sendo construídos pelo governo estadual no bairro Viçoso Jardim, próximo ao morro do Bumba, em área desapropriada pelo governo municipal e outras 2.510 unidades estão sendo erguidas dentro do programa federal “Minha Casa, Minha Vida”. A previsão, no entanto, é que sejam entregues só em abril de 2012.
Pedra gigante, de 500 toneladas, implodida na rodovia Rio-Santos, no município de Angra dos Reis (RJ)
Outro ponto que sofreu com as chuvas no começo do ano passado foi a BR-101 Sul, mais conhecida como rodovia Rio-Santos. Depois de enfrentar mais de 40 deslizamentos de terra e pedras, que bloquearam o fluxo de carros durante a alta temporada do verão 2010, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) diz que quase 50 pontos em cerca de 150 quilômetros da via passaram por obras.
“Sete empresas atuaram sistematicamente para superar os problemas”, informou o órgão, que é responsável pelas estradas federais.
Para este ano, a novidade ficou por conta da inauguração, no último dia 21 de dezembro, da duplicação de um trecho de 26 quilômetros da rodovia entre Santa Cruz e Itacuruçá, o que, segundo o Dnit, diminuiu o tempo de viagem entre o Rio de Janeiro e Angra dos Reis em uma hora e facilita o tráfego. A obra, que faz parte do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), custou R$ 220 milhões.
Durante a inauguração das novas pistas, foi anunciada a duplicação de mais 100 quilômetros da rodovia entre Angra dos Reis e Parati (RJ). Os trabalhos, avaliados em R$ 60 milhões, estão previstos para começar ainda este mês.